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Além do “decoreba”

Não é raro que, na escola, o ensino de língua portuguesa, desde as séries iniciais, envolva apenas o estudo e memorização de regras gramaticais. O espaço que deveria ser destinado para que o aluno fale, escreva e leia melhor tem se transformado em sucessivos momentos de teorias decorativas, por vezes até incompreensíveis e dissociadas do uso efetivo da língua. Dessa forma, os alunos terminam o ensino médio sem que dominem a língua, muito menos a nomenclatura gramatical.
O ensino da língua materna deve ir além da memorização mecânica das regras gramaticais. A escola deve ser um lugar não para prescrever normas e sim para refletir a respeito do uso da língua na vida e na sociedade.
O meta deve ser proporcionar ao aluno desenvolver seu senso crítico, sua percepção das múltiplas possibilidades de expressão lingüística, sua capacidade de leitura efetiva dos mais variados textos da nossa cultura.
A formação do aluno em língua portuguesa precisa compreender o desenvolvimento de três competências: interativa, gramatical e textual.
Os usos que fazemos da língua nas variadas situações possibilitam a interação, por meio da qual se pode demandar e realizar ações, agir e atuar sobre os outros. Adequar o ato de verbal à situação de interação não é tarefa fácil, logo, cabe à escola viabilizar o desenvolvimento dessa competência, levando em conta o lugar social que o aluno ocupa ou pode ocupar, utilizar eficazmente a base da interação – o diálogo, lugar de falar e ouvir – e ser entendido nos círculos sociais dos quais participa.
O aluno também necessita ter uma noção sistematizada do sistema lingüístico do português. É claro que já se chaga na escola falando, já adquiriram a língua materna e a utilizam com base em uma gramática internalizada, um conhecimento implícito. No entanto, este conhecimento sobre a estrutura gramatical básica não é suficiente para garantir a apropriação de todas as possibilidades que a língua oferece. O papel da escola, nesse sentido, é oportunizar o acesso ao aprimoramento da competência gramatical de modo que seja possível gerar seqüências próprias, com coesão e coerência, aceitáveis no interior da língua portuguesa.
Obviamente que esta competência não será desenvolvida pela simples memorização de regras de acentuação, pontuação, regência, concordância e ortografia, por exemplo. Deve-se levar em conta o saber lingüístico que o aluno possui e do qual faz uso no dia-a-dia.
Além disso, também é preciso que o aluno desenvolva a capacidade de ler, compreender e agir sobre o texto, perceber os vários recursos utilizados na construção do seu sentido. A leitura envolve uma série de relações, seja com o contexto sociocultural, tempo-espacial de produção e recepção, seja estrutura e estilo, entre outras.
Os textos revelam usos da língua e por apresentarem visões de mundo, levam a reflexões, portanto contribuindo para que o aluno desenvolva a capacidade de interagir com a sua opinião e a alheia, aprimorar o senso crítico, atuar na sociedade através da comunicação, conhecer os múltiplos estilos e tipologias (prosa, verso, publicitário, etc.)
A capacidade de leitura envolve não só o domínio do código lingüístico e suas convenções, mas também dos mecanismos de articulação que o constituem o significado e do contexto em que se insere este significado.
Assim, não se pode resumir o ensino da língua portuguesa, não se pode extirpar dela o que nela há de mais importante: o aprimoramento das competências sociais do indivíduo, restringindo-a ao mero “decoreba” de 1 milhão de regras às vezes até inúteis.
É preciso que se crie uma mentalidade na escola voltada ao ensino dessas competências. Precisamos deixar de criar cada vez mais gramáticas ambulantes e incompetentes lingüísticos rechaçando o saber que o aluno já traz consigo e ensinando apenas outros que de nada lhe servirão a não ser para passar em provas. Precisamos criar atores sociais e não cada vez mais massas de manipulação. Atores sociais se criam com capacidade de cr

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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