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Aço seguirá en alta, dizem construção e indústria do AM

A avaliação da construção civil e da indústria do Amazonas é que o custo do aço – um dos principais insumos para ambos os setores – seguirá em alta, no curto prazo, pressionando os preços finais nas empresas. A despeito das recentes notícias de aumento na oferta do metal, o entendimento do Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas) e da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) é que a demanda seguirá com mais força e que o retorno ao equilíbrio de mercado vai demorar.

Juntamente com combustíveis, alimentos e produtos químicos, a metalurgia foi uma das principais influências da alta do IPP (Índice de Preços ao Produtor), que mede a “inflação de porta de fábrica”. O segmento contribuiu com uma alta de 0,41 pontos percentuais para o aumento de 4,78% no indicador do IBGE, na passagem de fevereiro para março. Foi o segundo maior aumento desde 2014, superando de longe a inflação oficial do IPCA (+0,93%), no mesmo período.

Sondagem realizada pelo Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amazonas) junto a construtoras associadas, no mesmo mês, indicou uma elevação de 87,23% no preço médio local do aço. O CUB (Custo Unitário Básico de Construção) passou de R$ 4,70 (2020) para R$ 8,80 (2021), no período, tomando-se como medida o metro quadrado. A entidade estima ainda que, entre março e abril, já tenha ocorrido um novo reajuste de 18% no insumo metálico.

Dados fornecidos pela IABr (Instituto Aço Brasil) mostram, por outro lado, que a produção brasileira de aço bruto avançou 59,3%, no confronto de abril com o mesmo mês do ano passado, totalizando 3,1 milhões de toneladas – o melhor número desde outubro de 2018. O comparativo do quadrimestre rendeu 11,8 milhões de toneladas e elevação de 15,9%. A fabricação de laminados subiu 77,4% (2,3 milhões de toneladas), na variação anual, e 21,4% (8,6 milhões), no acumulado. A produção de semiacabados para vendas cresceu 6,4%, no primeiro caso (638 mil), mas recuou 5,6%, no segundo (2,5 milhões).

No plano global, a ampliação da oferta também é uma realidade. A produção das siderúrgicas chinesas bateu novo recorde, com alta de 15,12% na comparação dos números de abril com os do mesmo mês do ano passado, de 85 milhões (2020) para 97,85 milhões (2021) toneladas. Os preços do minério de ferro – matéria prima para , contudo, voltaram a subir nesta semana, após o mergulho pontual de 12% registrado pela commodity, no final da semana passada.

Sinal de que a demanda segue mais forte. A mesma base de dados da IABr informa que as importações alcançaram 1,41 milhão de toneladas nos quatro primeiros meses de 2021, escalando 99,1% sobre o mesmo período do ano anterior. Os valores somaram US$ 1,29 bilhão e foram 69,8% maiores. O comparativo de abril indicou elevações de 91,40% para a quantidade (356 mil toneladas) e de 85,40% para os valores (US$ 343 milhões). 

Escassez e importações

O presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, informou que os dois gargalos de custos de materiais para a construção civil são o PVC e o aço. Ele salientou que, embora o percentual da participação do aço nos empreendimentos do setor não seja tão grande, e raramente ultrapasse os 5%, sem o metal, não é possível concluir as obras. O dirigente diz que, caso confirmado, o aumento de oferta será “muito bem vindo”, mas mostra ceticismo para o curto prazo.

“Que eu saiba, o aço só está subindo. Ainda há escassez do material e é difícil falar de redução de preço. Temos de entender que esse aumento de demanda se deu em toda a cadeia da construção. Não vejo uma explosão de demanda e acredito que só está faltando, porque outros segmentos começaram a consumir mais, enquanto as siderúrgicas desligavam seus fornos. Mas, há uma teoria que diz que o consumo vai aumentar quando passar a pandemia. Precisamos desse aumento de oferta”, ponderou. 

Frank Souza considera que a solução pode vir de fora, já que a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) está fazendo um trabalho com as cooperativas de todo o país para fechar a importação de aço – que sairia mais barato mercado nacional, apesar do dólar mais caro. A entidade está pleiteando junto ao governo federal uma redução nas alíquotas de importação, mas ainda há a barreira de normatização que dificulta a certificação do produto. A expectativa do presidente do Sinduscon-AM, contudo, é que isso seja resolvido até o terceiro trimestre.

Demanda reprimida

O presidente da Fieam, Antonio Silva, reforça que o peso da importância do aço para a indústria é diferente, conforme o segmento. No caso das motocicletas, o insumo representa em torno de 60% do valor do produto final, embora esteja em curso uma transição do aço para o alumínio, em modo similar ao que aconteceu com as bicicletas. Para os eletroeletrônicos, prossegue o dirigente, a participação é menor e perde para outros insumos, como cobre, ouro e tântalo, além do display de cristal líquido. 

“Os produtos do segmento eletroeletrônico possuem cada vez menos plástico e gabinete metálico de aço. Mas, o metal é insumo fundamental para as nossas indústrias, especialmente nos segmentos metalúrgico, duas rodas e metal mecânico. A meu ver, ainda existe uma demanda reprimida muito grande, que deve pressionar os valores e impossibilitar essa redução global dos preços. Assim que a produção retomar os patamares anteriores à crise, também devemos ter uma manutenção dos preços em alta”, afiançou.

Estoques defensivos

Em matéria postada na Agência Brasil, o presidente executivo do IABr, Marco Polo de Mello Lopes, destacou que os números foram impactados por uma base de comparação fraca – abril foi o mês mais grave da primeira onda. Mas, o dirigente avalia que, ainda assim, o levantamento mostra que a indústria brasileira do aço continua produzindo e “colocando no mercado interno acima do que foi produzido e ofertado no início do ano”, antes da crise da covid-19. 

“A maior demanda do mercado interno reflete a retomada dos setores consumidores, mas também a formação de estoques defensivos de alguns segmentos em relação à volatilidade do mercado, ocasionado pelo boom no preço das commodities. No caso da indústria do aço, a quase totalidade de insumos e matérias primas e, em especial, as essenciais como minério de ferro e sucata, continuam com significativa elevação de preços, com forte impacto nos custos de produção do setor”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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