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A crise e seus gafanhotos

No início do mês, um diário de São Paulo publicou uma matéria sobre a recuperação do setor petroquímico. O texto informava que as fabricantes petroquímicas, produtoras das matérias-primas utilizadas pela indústria do plástico, começam a ver uma luz no fim do túnel desde o advento do início da crise. Tais empresas retomaram a produção com ocupação acima de 90% de suas capacidades industriais -recuperando praticamente o mesmo nível anterior à turbulência econômica.
Essa recuperação era inevitável, somente não sabemos o tempo de recuperação para cada segmento de mercado. Mas ainda tem muita gente apregoando o caos nesse período, devido outros segmentos ainda não terem se reerguido. Não temos como dar prazos, pois os fatores são muitos e geralmente diferentes de segmento para segmento. O sistema financeiro está mais afetado que o sistema produtivo, apesar da interdependência entre todos os setores da economia. Porém, o que observamos, é que não faltam verdadeiros “gafanhotos” para tirar proveito do momento caótico do mercado, utilizando a crise como desculpa para cortes sem critérios. Até consultor internacional vem ganhando dinheiro fazendo palestras, apregoando a catástrofe mundial em nosso pais.
Para o setor produtivo, vemos diariamente manchetes sobre demissões e cortes de gastos. Esta semana milhares de pessoas do mercado ficaram estarrecidas com a apresentação dos indicadores do 4º trimestre de 2008, como se não soubessem o que aconteceu e tivessem nascido hoje. Estamos a três meses deste trimestre, seguindo para o 2º trimestre de 2009 e pessoas ainda não tomaram ações sensatas, que levem suas empresas a crescer no meio da crise, de forma eficiente e eficaz. Pessoas do governo, principalmente, ainda estão estudando o que fazer, aguardando os dados de 2009. O que estão esperando? A grande maioria das indústrias se assustou, como se não soubessem que esta crise mundial já dura algum tempo e estava prestes a chegar ao país, explodindo intensamente quando o Lehman Brothers quebrou em setembro. Os cortes de pessoas e contratos foram feitos por bem ou por mal, de forma até desarranjada, gerando esta onda de desemprego. “Salvem-se quem puder” foi o lema, norteado pelo medo e incompetência de muitos. Mas outros agiram de forma perspicaz. Quantos são os que estão dando a cara pra bater e ir contra a maré, vislumbrando uma luz no fim do túnel? Poucos.
Basta apenas dar uma olhada mais atenta aos diferentes segmentos do mercado brasileiro para notar que existem algumas saídas diante dos problemas, bem mais inteligentes que os cortes. Muito dessa recuperação do setor petroquímico, por exemplo, deve-se à manutenção realizada nessas companhias. Com as paradas feitas pela indústria, foi possível às empresas frear os gastos e criar uma perspectiva positiva em meio às turbulências causadas pela crise financeira. Uma vez realizada a parada, custos supérfluos foram evitados e, consequentemente, demissões deixaram de acontecer. Uma medida simples e econômica que só não contribuiu mais porque empresários se perderam diante do medo e deixaram de arriscar ou, simplesmente, focar o pensamento em possíveis soluções, buscando alternativas que aumentam nosso poder de reação. Temos um exército de excelentes executivos, tão capazes e qualificados quanto quaisquer executivos atuantes no mundo. A força de vontade de nossos trabalhadores e a boa fé também é imbatível. Ainda não podemos dizer da qualificação, pois falta muito para termos, como maioria, técnicos qualificados em nosso chão de fábrica. Estamos todos trabalhando para isto; a política de outros países favorece o treinamento e capacitação profissional. Algo a ser aprendido e praticado rapidamente pelos nossos.
Não é fácil nestes tempos sermos otimistas, mas temos que lembrar que nascemos em tempos de crise. Nossos pais, avós viveram assim no Brasil, desde a época da 2ª Guerra Mundial. Desde aquele tempo enfrentamos intempéries para fazer o país ser o que é hoje. E tem potencial para muito mais. Basta termos a mente aberta para possibilidades. Sabemos fazer isto, diferente da Europa que não vê crise forte a mais de 50 anos e não tem o jogo de cintura que nossos executivos brasileiros possuem. O maior clichê sobre nosso país se enquadra direitinho nessa situação: Deus é brasileiro. Temos mão-de-obra, espaço, alternativas, e, muitas vezes, não soubemos aproveitar o melhor que o Brasil oferece. O que precisamos é incentivar os colaboradores, investir em infra-estrutura, e ampliar nossa visão de mercado para que não deixemos escapar nenhum segmento empresarial e/ou industrial que possa servir como um novo gerador de renda. Ao invés de pregar o medo, é nessas horas que um pensamento otimista pode fazer a diferença. E por isso o segmento de manutenção deve ser encarado como a “menina dos olhos” da indústria nacional.
Além de qualificada, é superior ao que se vê mundo afora. Vejamos o caso da lubrificação industrial: aqui fazermos gestão e temos mão-de-obra altamente capacitada e preparada para esta operação, com empresas especialistas no negócio. Na Espanha, onde a crise é mais severa, as empresas estão fazendo o que fazíamos há 15 anos. Não há qualificação, as funções são desvirtuadas, a perda de eficiência é enorme, o custo de produção e energia é maior, o desgaste e a depreciação de equipamentos é enorme e não há indicadores de performance que avaliem este tema vital para uma empresa ser eficiente. Assim, o valor das empresas de lá é menor, pois está diretamente ligada aos seus ativos e sua capacidade de produzir. Eles não enxergam. Nós daqui vemos como grande oportunidade. Se sabemos como fazer, é fundamental expandirmos nossos horizontes, mostrando que o Brasil tem qualidade e tecnologia para ensinar ao mundo; e ganhar com isto. Quem não perceber a quantidade enorme de oportunidades, poderá perder o bonde. Quando se der conta, com crise ou não, já será tarde. Muitas das fabricantes petroquímicas estão apenas colhendo o fruto por terem se programado de forma eficiente e corajosa para fazer seu próprio futuro. Veremos o que acontecerá com as outras.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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