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‘2021 vai ser um ano de decisão’ diz José Jorge, presidente da Eletros

‘2021 vai ser um ano de decisão’ diz José Jorge, presidente da Eletros

Na avaliação do presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), José Jorge do Nascimento, 2021 vai ser um ano decisivo para o PIM em geral e para a indústria em particular. Por um lado, há a continuidade da pandemia, já com a subida de uma segunda onda de covid-19, em um cenário que já não conta mais com as políticas anticíclicas que contiveram os impactos econômicos e garantiram a demanda, em 2020. Por outro, permanecem as dúvidas em relação a novos problemas na cadeia de suprimento de insumos.

Há ainda a dupla sinalização de perigos para a ZFM, a partir das propostas de reforma Tributária no Congresso, e do avanço da abertura comercial brasileira, sem contrapartidas para garantir a sobrevivência da indústria nacional, ou mesmo um impulso nas exportações. Por isso, o dirigente destaca que 2021 também será ano de atenção e que o Amazonas precisará de lideranças irmanadas –e “sem paternidades” –na defesa da ZFM. Para isso, recomenda sinergia de todos os atores políticos do Estado, incluindo não apenas governo estadual e bancada parlamentar federal, como também Prefeitura de Manaus, CMM (Câmara Municipal de Manaus) e Aleam (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas).

Na conversa com o Jornal do Commercio, o presidente da Eletros fala ainda de bioeconomia e de indústria 4.0 e alerta: o PIM não pode ficar para trás nesse requisito, sob o risco de desaparecer. Leia, a seguir, a entrevista na íntegra.  

Jornal do Commercio – O ano já começa com uma segunda onda de casos de covid, sem auxílio emergencial e os conflitos políticos de um ano pré-eleitoral. Quais suas expectativas para 2021?

José Jorge do Nascimento – Acho que 2021 vai ser um ano de decisão. Pressionado pela necessidade de recuperar a economia, em um ano que precede eleições gerais, os governos vão querer tomar decisões. Encerramos 2020 minimizando os prejuízos do primeiro semestre. O setor eletroeletrônico acabou puxando a economia, tanto que tivemos problemas de falta de insumos. Temos preocupação com 2021, porque as políticas econômicas do governo acabaram em 31 de dezembro. Só que as crises continuam e precisamos da continuidade dessas políticas. Levamos essa preocupação ao governo estadual, assim como à prefeitura. Argumentamos que é importante, neste ano de decisão, termos a liderança do governo do Estado e da prefeitura, junto com a bancada e o setor produtivo. Precisamos estar atentos e irmanados, pois as reformas devem ocorrer e a abertura comercial é um ponto extremamente preocupante. E há também o dia a dia: PPBs, medidas de fomento ao desenvolvimento regional, etc

Jornal do Commercio – Em entrevista recente ao Jornal do Commercio, o presidente do Cieam, Wilson Périco, nos disse que convidaria para a próxima reunião da entidade os presidentes da Câmara Municipal e da Assembleia Legislativa, assim como o prefeito e o governador. Esse é o caminho para melhorarmos nossa situação? 

JJJ – Precisamos de liderança. Temos Aleam, CMM e bancada federal. Tradicionalmente, o maior líder político de um Estado é seu governador, e não temos alternativa. Temos a legitimidade do governador Wilson Lima, como articulador e líder político do Estado, mas temos de ter também, ao lado dele, o prefeito de Manaus, Davi Almeida. A ideia é que tenhamos essas lideranças irmanadas. Não adianta só botar na conta de um ou de outro. Ou responsabilizar o setor produtivo. Não há mocinho ou bandido. Necessitamos do modelo e não tem essa de ter paternidade. O prefeito Davi Almeida já foi governador e presidente da Aleam, tem histórico de conhecimento da área econômica do Estado e está muito bem assessorado. Temos que aproveitar os dirigentes técnicos que estão nas equipes técnicas dos governos estadual e municipal para vir com o setor produtivo nessa pegada. Estou nesta labuta há uns 17 anos e este é um dos momentos mais delicados para a ZFM. Discute-se reforma Tributária, com propostas que não contemplam incentivo fiscal. E o governo federal busca abertura comercial a qualquer custo. São duas coisas que podem prejudicar muito a Zona Franca.

JC – Qual é a importância de termos uma bancada ativa em Brasília? E quais os possíveis impactos para a ZFM, a partir do resultado das eleições para o Congresso, no começo de fevereiro? 

JJJ – A mola propulsora da ZFM são os incentivos federais, logo essa discussão se dá em Brasília, no Congresso e no Executivo. Muito do que não aconteceu de ruim à Zona Franca, até agora, se deve à atuação dos nossos deputados e senadores, sem exageros. Mesmo sendo uma bancada pequena, conseguiram ocupar pontos estratégicos e impediram muitos movimentos e ações extremamente prejudiciais para o modelo. Sou testemunha disso. Mas, a Aleam, que tem uma comissão da ZFM e pode requerer Adins (Ações Diretas de Inconstitucionalidade), também tem de atuar, assim como a CMM. Conversei com alguns vereadores e alguns disseram, para minha felicidade, que esta será pauta deles. E esse é um caminho que temos de trilhar, a partir da diversificação da economia e do PIM. O mundo todo pede emprego, preservação do meio ambiente, centros industriais com inovação tecnológica e investimentos em pesquisa, além de políticas de desenvolvimento regional que deem resultado. Já temos tudo isso na Zona Franca. Conversei com o vice-presidente, general Mourão, que é um profundo conhecedor da região, e disse a ele que temos de divulgar o modelo para o mundo, que quer o que já temos. Por isso, é incoerente termos uma reforma Tributária que atropele a ZFM. 

JC – Em suas respostas anteriores, o senhor mencionou a reforma Tributária. Como está essa situação, atualmente? 

JJJ – A reforma Tributária já está aí. Tivemos discussões em 2019 e 2020 e temos a PEC 45, que entendemos não ser o melhor caminho para o Brasil. A proposta apresentada pelo deputado Baleia Rossi (MDB/SP) tem muitos pontos positivos, mas tem esse ponto dos incentivos fiscais. O Brasil é um país de dimensões continentais e tem na floresta amazônica um polo de desenvolvimento industrial e econômico, mas uma PEC pode acabar com isso. Precisamos de algo que atenda o país plenamente, sem riscos de migração de negócios entre regiões. E não é um risco apenas para a ZFM, porque outros Estados também perderiam indústrias e negócios, que foram atraídos por incentivos estaduais. 

Jornal do Commercio – E quais são os riscos inerentes à tendência de abertura comercial por parte do governo federal, mencionada pelo senhor?

JJJ – No caso da abertura comercial, o ponto de atenção é que o governo brasileiro entende a necessidade de inserção internacional competitiva da economia brasileira, com fluxo comercial maior. E, para que isso aconteça, o governo está realizando acordos internacionais, com redução de Imposto de Importação para produtos estrangeiros. No primeiro momento, o consumidor pode achar que vai ter um produto mais barato aqui. Só que os países que oferecem esses manufaturados são extremamente mais competitivos. Não temos o mesmo ambiente de negócios e o custo para produzir aqui é muito elevado. Aí vai ter gente dizendo que não tem que fabricar esses produtos “no meio da floresta”. Se fosse por essa lógica, a China ainda estaria vivendo do cultivo de arroz. Temos uma estrutura estabelecida e precisamos respeitar. Queremos fazer a abertura, mas vamos abrir com cautela e fomentar exportação. Estamos bem próximos de países como Colômbia, Equador e Peru. Para exportar para lá, atualmente, eu tenho que levar o produto para São Paulo e subir para o Panamá. Temos de trabalhar isso, sem prejudicar a indústria nacional.                

JC – A pandemia impôs dificuldades para a indústria, como o desabastecimento de partes e peças, que ainda ocorre em muitos segmentos. Que outras mudanças podem ser citadas a partir desse cenário, especificamente para o polo eletroeletrônico?

JJJ – Nossa grande preocupação, quando surgiu a pandemia na China, há um ano, foi a falta de insumos. Vimos que ficaríamos sem partes e peças, a partir de maio, em virtude do tempo de trânsito. Para nossa infelicidade, a doença chegou aqui antes e, quando o comércio fechou, tivemos de travar. Chegamos a estagnar em 80% os nossos negócios, em abril. A partir do meio do ano, com o auxílio emergencial, as linhas de crédito, e as flexibilizações na legislação trabalhista, tivemos uma retomada. Mas, aí começou a faltar insumo nacional. Os fornos do aço foram desligados e a indústria de resina plástica, também. Como a retomada deles é diferente da nossa, começou a faltar aço, plástico e até papelão. Teve uma associada nossa, fora da ZFM, que parou porque não tinha material para embalagem. Até então, algumas fábricas estavam trabalhando aos sábados e em três turnos, coisa que há muitos anos não acontecia. Infelizmente, em dezembro, algumas tiveram de antecipar férias coletivas, pela falta de insumo. Tivemos um grande prejuízo, mas isso já está sendo normalizado. Estamos preocupados, agora, com o fim das ações de fomento à economia. A pandemia continua e a crise econômica, também. Outra questão é produzir sem que a cadeia de suprimentos nos deixe na mão. Temos conversado muito com as outras entidades e os fornecedores e entendemos que eles não devem ter esse problema no primeiro trimestre. 

JC – O que o senhor tem a dizer a respeito do panorama da indústria 4.0 no PIM, diante das vantagens que temos e que o senhor citou?

JJJ – A indústria no Brasil ainda é manufatureira. Não geramos tecnologia e seguimos apenas no processo fabril. E a indústria 4.0 é muito mais intelectual do que operacional. Muita gente confunde com robotização e maior maquinário nas fábricas, mas não é isso. É uma maneira mais inteligente de se produzir, sendo a quarta revolução industrial. Já temos hoje, dentro de algumas empresas do PIM, a parte de inteligência no desenvolvimento de produto. Mas, é algo que precisamos avançar muito, pois ainda estamos engatinhando. É um desafio a ser realizado, senão vamos morrer ao ficarmos para trás. Não adianta superar reforma Tributária e abertura comercial, sem nos desenvolvermos aí, pois não teremos como competir com essa indústria que já está na frente. Isso muda pessoal, maquinário, procedimentos. É uma mudança geral.   

Jornal do Commercio – O que está faltando para conseguirmos implementar as chamadas novas matrizes econômicas e impulsionarmos, pelo menos, a sinergia da indústria e da bioeconomia?

JJJ – A gente tem uma estrutura para o que temos hoje no PIM. A bioeconomia é uma evolução. O que sugiro é, a partir do Polo Industrial de Manaus, diversificarmos a economia do Estado. A ZFM faz com que o Amazonas seja o líder da região Norte em arrecadação de impostos federais e um dos sete Estados que mais recolhe tributos do que recebe repasses da União, além de gerar R$ 800 milhões anuais em recursos para P&D, e que pode dar sustentação à economia da região. O grande erro é pensar que a bioeconomia vai substituir a ZFM, quando tem de ser complementar. Nenhuma outra atividade vai conseguir substituir o PIM, em arrecadação, empregos e preservação ambiental, de um ano para outro. Enquanto tivermos essa riqueza gerada, vamos direcionar parte dos tributos gerados pelas empresas para viabilizar as ações de bioeconomia. Não é problema de legislação, mas falta de vontade para sentar e estabelecer. Vejo iniciativas na Sedecti e na Suframa, mas ainda precisamos evoluir. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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