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‘ZFM não perdeu e nem ganhou nada com aprovação da MP dos tablets no Senado’

A aprovação da MP dos Tablets na Câmara Federal e no Senado continua dividindo as opiniões das principais lideranças políticas e econômicas do Amazonas sobre os possíveis benefícios à Zona Franca de Manaus (ZFM). Ao contrário de alguns parlamentares da bancada amazonense em Brasília, o deputado federal Francisco Praciano (PT-AM) não manifesta nenhum entusiasmo em relação à medida e é taxativo ao afirmar que o Estado “não perdeu nada e nem deixou de ganhar”, mesmo com o aumento de 4,6% para 5,6% do crédito da Cofins para a produção dos novos computadores no Brasil.
Praciano atribui o grande alarde em relação à comemoração da aprovação da MP 534 nas duas casas legislativas a um “marketing político” de quem (sorrateiramente) quer angariar votos e tirar vantagens do desfecho da tramitação do projeto no Congresso Nacional, tão badalado na mídia brasileira. O parlamentar falou ao Jornal do Commercio, expondo as suas impressões e críticas sobre o tema.

Jornal do Commercio – O sr. não vê nenhuma vantagem na produção dos tablets no Amazonas. E muito menos agora com a divisão do bolo dos incentivos fiscais com outros estados. Por que tanto pessimismo?
Francisco Praciano – Os tablets iriam gerar, no máximo 500 empregos na Zona Franca de Manaus, e deixariam quase nada em impostos. Até agora foram aprovados seis projetos de implantação para produzir os novos computadores no Amazonas. Mas quem garante se realmente eles vão ser implantados aqui mesmo. Você já viu algum projeto desse tipo implantado por aqui…?

JC – Então, não há garantias de que esse s projetos serão implantados no Amazonas…?
Praciano – Certamente, que não. Com a divisão do bolo, chineses e coreanos já manifestaram que pretendem fabricar os tablets em São Paulo, onde existem mais condições logísticas para escoar os produtos e menos custos, obviamente, com os transportes.
JC – E por que tanta comemoração de algumas lideranças políticas e econômicas da região sobre a aprovação da MP?
Praciano – É mais um marketing político de quem quer tirar vantagem sobre o assunto que está em evidência na mídia. Na realidade, não perdemos nada e não ganhamos nada com a aprovação da MP na Câmara e no Senado, que, em tese, vão gerar alguns benefícios para o Amazonas. O importante é que ainda temos a ZFM, que tem condições de atrair novos investimentos, mesmo sem a exclusividade na produção dos tablets no país.
JC – Então, o desfecho da votação da MP não foi bom para o Amazonas…?
Praciano – Claro, evidente, que não. O impacto sobre a possibilidade de geração de novos empregos e na arrecadação é insignificante em comparação a outros projetos industriais. Os tablets são processos automatizados, ocupam menos mão de obra e deixam, portanto, menos impostos.

JC– O sr. não vê nenhu­­ma vantagem…?
Praciano – Bem, pelo menos conseguimos salvar a produção de tela de 600 m2 que irá beneficiar a fabricação de televisores com tecnologia LCD e LED…

JC– O sr. fala em novos investimentos em outros segmentos no Amazonas? Quais, na sua visão, têm grandes potencialidades na região?
Praciano – Pode­ría­mos, por exemplo, atrair novas empresas para a implantação de um polo naval no Amazonas. Temos potencial e know-how para desenvolver um projeto dessa dimensão. O Amazonas poderia estar exportando lanchas, iates e jet skis pro resto do mundo. Vamos brigar, portanto, pela isenção fiscal nesses novos segmentos. Podemos também fabricar ração para peixes, incentivar mais ainda a piscicultura. Nesse sentido, para diminuir o impacto com a importação de insumos para a fabricação de rações, poderíamos aproveitar a infraestrutura logística de Itacoatiara, por onde transita a produção de soja com foco no Centro-Oeste do país.

JC – Mas como atrair novos investimentos com o “velho e penoso” problema de logística na ZFM?
Praciano – Realmente, desde a sua criação há mais de 40 anos, a ZFM não se preparou para oferecer uma infraestrutura logística que torne os produtos aqui fabricados mais competitivos no mercado. Até hoje não temos um porto e um aeroporto que atendam às demandas das empresas. Não temos estradas e nem fiscais suficientes para a liberação de produtos. Enfim, estamos isolados praticamente do resto do país. E ainda querem acabar com o nosso maior monumento natural, que é o Encontro das Águas, onde defendem a construção de um novo porto. Temos várias opções para isso.

JC – E o que fazer, então?
Praciano – Vamos atrair novos investimentos e reordenar as políticas públicas. Por exemplo, em dez anos as empresas de informática destinaram R$ 8 bilhões para o desenvolvimento de novas tecnologias na ZFM. E até agora não se viu nenhuma iniciativa nesse sentido. Todo o know how que alimenta hoje a operacionalização das empresas aqui instaladas vem de fora. O problema é que nossos governantes não pensaram no futuro.
JC– Então, o sr. não vê boas perspectivas para a ZFM?
Praciano – Ao contrário, a ZFM tem condições de atrair novos investimentos, mas com foco em outros segmentos. Vamos brigar pela isenção fiscal em novos projetos, não só na área industrial, mas também no setor primário. Se a Zona Franca tivesse criado a infraestrutura logística e convertido os 5% que cada empresa de informática destina de seu faturamento para o desenvolvimento de novas tecnologias, com certeza já teríamos criado um vale do silício no Amazonas, a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos.

JC – Nos últimos anos oito anos o PT tem ditado os rumos da política e da economia do país. Em relação ao governo Dilma, o sr. acha que as decisões da presidente têm prejudicado a ZFM, como alega a oposição?
Praciano – Não, lógico que não. Como Lula, a presidente Dilma não tem nada de ruim para a Zona Franca de Manaus. O que temos de ruim veio mesmo do governo Collor e do governo FHC, cujas sequelas repercutem negativamente até hoje.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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