Escândalos de pedofilia e tráfico de menores, envolvendo indígenas nas regiões do Alto Solimões e Vale do Javari, foram denunciados ontem, 21, à imprensa pelo deputado estadual Wilson Lisboa (PCdoB), que, em virtude da gravidade da situação, decidiu acionar a Polícia Federal e o Ministério das Relações Exteriores, além da Secretaria de Estado da Segurança Pública e do Comando da Polícia Militar, juntamente com a Força Nacional sediada em Tabatinga.
Em coletiva concedida na Assembleia Legislativa, o deputado se disse “horrorizado” com as denúncias sobre crimes de pedofilia e tráfico de menores encaminhados à Comissão de Direitos Humanos, Assuntos Indígenas e Cidadania da Assembleia Legislativa durante a recente reunião itinerante da Aleam na cidade de Tabatinga, Alto Solimões. Segundo Lisboa, que preside a Comissão, as denúncias atingem uma população de 47 mil indígenas, que sofrem com uma grande epidemia de Hepatite B, e precisam ser investigadas conjuntamente pelos governos do Brasil e do Peru. “As denúncias são muito fortes, ocorrem nas nossas fronteiras e envolvem dois importantes países da América do Sul”, disse o parlamentar, informando ter acionado também o TJ-AM (Tribunal de Justiça do Amazonas) para as providências cabíveis.
Wilson Lisboa informa que o problema é do pleno conhecimento da Comarca de Tabatinga, mas reconhece que o órgão jamais poderá realizar as investigações sem a ajuda do governo federal e do governo do Estado por meio de seus órgãos competentes. De acordo com ele, o esquema de agenciamento de menores usa empresas de fachada como hotéis de selva e envolve a participação de americanos entre o Brasil e o Peru. “É assim que funciona na rede criminosa, e, além dos crimes propriamente ditos, as menores não são mais vistas por suas famílias, elas simplesmente somem”, aponta Lisboa. O deputado conta que a juíza de Tabatinga, Kethelen dos Santos Gomes, informou-lhe que há poucos dias, em uma abordagem realizada com a ajuda da Força Nacional em hotéis e motéis de Tabatinga, flagranteou uma menor de 13 anos de idade completamente drogada. “A juíza pouco pode fazer porque a menor era colombiana”, detalhou, ressaltando que “o problema é dos mais sérios, os hotéis e os motéis funcionam no lado brasileiro e os traficantes do sexo usam embarcações sofisticadas, voadeiras super rápidas entre os dois países”.
Epidemia de Hepatite B
Segundo o deputado Wilson Lisboa, a situação da saúde indígena na Vale do Javari é a pior possível, inclusive por conta de uma epidemia de Hepatite B que atinge 90% da população indígena do Vale do Javari. “Primeiro foi a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), que não deu conta do recado, e depois contrataram uma Ong que também não resolveu nada”, denuncia, expressando que o quadro é agravado porque os profissionais de saúde passam até seis meses sem receber seus salários.
“O pior de tudo é que ninguém sabe se a Prefeitura de Tabatinga é responsável, se o Estado é responsável, se a União é responsável”, observa o deputado, para quem a solução do problema seria uma ação de parceria entre a União, o Estado e o município. “Pelas estatísticas, a hepatite está matando duas por pessoas por família e parece que não está acontecendo nada neste país, isso é humor negro, uma brincadeira de muito mau gosto para com os indígenas do Vale do Javari”, protesta.