27 de julho de 2024
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Subsídios outros da história

Sim, às variáveis da História, esse arquivo da humanidade! A propósito, recentemente aqui nesta mesma sessão semanal, divulgou-se um apanhado ligado ao assunto do título, permeado de um roteiro do já vivido, das atualidades e das projeções do que há de vir quando tendo estas em mira. Foram duas longas séries de artigos nrs.12/12 e 13/ 13, “Aguardando o Determinismo Histórico” e “Historiando a História”, nesta ordem.

Bem entendido, são episódios tais que se voltam para o que circula a respeito. Dá-se que por certo cabem nos moldes abordados no gênero, como, por exemplo, antigo destaque do texto do consagrado editorialista Roberto Pompeu de Toledo, intitulado “A Vã Corrida Atrás da História” que convém aqui anotar em parte, tal como aquele escritor o faz quanto a fonte que confessa ter colhido de notória revista. Assim: “Uma charge da revista New York de algum tempo atrás mostrava um cidadão da Roma antiga que ao datar um documento, faz um gesto de desconsolo e se lamenta: “Esqueci de novo! Pus a.C. em vez de d.C.” Explicar a graça de uma piada é a melhor forma de desmoralizá-la, mas vamos lá abramos uma exceção.

O Romano cometia o mesmo erro, tão comum, de ao emitir um cheque, no começo do ano, repetirmos a data do ano que terminou. No seu caso errara de era – em vez de “depois de Cristo”, escrevera “antes de Cristo” – e é desse fato que a charge extraiu seus efeitos. Como é que o diabo do romano poia saber que já estava na era d. C. e não do a. C? Aliás, como é que podia saber que na remota província da Judéia, por aqueles dias, nascera de uma obscura família um bebê destinado a se tornar a figura central de uma nova religião?

A charge se desdobra de um absurdo a outro. Mesmo que o romano tivesse consciência do nascimento do bebê, dificilmente adivinharia que a religião nele inspirada viria a tornar-se tão importante que dali a três séculos viria a ser a religião oficial do Império. E mesmo que tivesse conhecimento disso não poderia adivinhar que, passados alguns séculos, o domínio da nova religião seria tal que o próprio modo de contar o tempo seria dividido ente entre antes e depois do nascimento de seu personagem central. Logo, o romano da charge é um portento. Eis que capaz de sacar contra o futuro com pontaria precisa e alcance de vários séculos.

Mostrando-se como coincidência, a rigor, ao comentarem o crash do sistema financeiro americano, muitos foram aquelesmesmo reputados especialistas em suas áreas – que anunciaram o fim de uma era. Seria – olha, só! – o fim do liberalismo, do neoliberalismo, do capitalismo, da hegemonia americana, de um certo modo de vida, de um modo de encarar o mundo, talvez mesmo o fim do mundo – escolha-se o fim que quiser – mas que seria o fim muito grave e sério de alguma coisa, seria. Algumas pessoas anunciavam o fim de uma era por ideologia; elas não gostam do neoliberalismo, do capitalismo e da hegemonia americana, e preveem seus fins por coincidir com seu desejo.

Outras – e estas são mais interessantes – o fazem pelo irresistível impulso de avançar o sinal da história. A sensação é muito boa. Equivale a nada menos do que o subjugar o tempo, e tê-lo aos pés como a um gatinho manso. Vive-se a emocionante experiência de ver a história brotar do solo. É como se o turco que invadiu Constantinopla pudesse ter gritado ao companheiros naquele ano de 1453: “Vamos logo, que estamos inaugurando a hora moderna!” Ou como o transeunte que passou pela Rua Saint-Antoine, em Paris, no dia 14 de julho de 1789, e viu a turbamulta atacar a Bastilha, pudesse ter comentado com a esposa ao voltar para casa:” Sabe o que eu vi hoje, querida?  O início da era contemporânea”. Antecipar um marco histórico nos faz tão poderosos, no saque contra o futuro, quanto o romano da charge. (Continua). 

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