11 de dezembro de 2024

Respeitemos a profissão

Nesta pandemia, onde muitos perderam seus empregos, quase todos aceitariam um trabalho fora daquilo que estavam acostumados a fazer. Mesmo que fosse “inferior” àquele que consideram mais digno. E há muitas profissões discriminadas. As discriminações começam quando meninos na hora que muitos pais mandam seus filhos estudarem para não precisarem trabalhar. Por trabalho, para muitos, é apenas o trabalho braçal. Quem trabalha na lavoura é trabalhador assim como o empregado da indústria. Para estes, o empresário não trabalha e suga o suor dos trabalhadores, numa alusão flagrante que o trabalho degenera. Há pessoas, de mente pequena, que pregam que o trabalhador deve ter raiva do seu empregador. Os burocratas do escritório não merecem a alcunha de trabalhador. 

Na Alemanha, completado o ensino fundamental de, no mínimo, nove anos, a maioria opta por fazer um curso profissionalizante pelos próximo três ou sete anos, dependendo da profissão. Depois, quando já está trabalhando opta, ou não, pela complementação no ensino superior. Detalhe: não há escolas totalmente gratuitas. Contudo os jovens fazem bicos para ajudar no custeio dos estudos e na complementação do aprendizado.

A descriminação do trabalhador não é coisa só do Brasil. Está presente até nos filmes, onde há nobreza em ser do exército, mas o pessoal da cozinha nunca é sequer mencionado. Quem administra as refeições para um grande número de pessoas sabe o trabalho que isso dá e a logística que isso exige. Nos filmes e livros de história nunca se fala do cozinheiro responsável pela alimentação da tropa. 

Lembro da época em que trabalhava com restaurante e um rapaz de 30 anos veio pedir trabalho. Após a entrevista pedi seus documentos. Então ele se saiu assim: “Eu não gostaria que assinasse minha carteira, porque sou programador de computador e não queria manchar minha carteira com este registro”. Nem na maior necessidade ele teve respeito pelo trabalho. Considerava “mancha” um registro de uma atividade que ele considerava inferior. Não o contratei, obviamente, porque ele estava envergonhado do trabalho que iria exercer. Aliás, comensal comum, que come apressadamente, nem se lembra em analisar o caminho que a comida percorreu até estar prontinha, saborosa, saudável e quente em seu prato. Nisto deve ter se baseado o candidato ao trabalho na cozinha.

A profissão de cozinheiro está começando a ser valorizada por causa de programas de televisão. Profissões que antigamente eram mal vistas, como a medicina, hoje é disputadíssima. Outras, que em tempos remotos eram muito valorizadas, como a do ferreiro, caíram em desuso porque a maneira manual de fazer as coisas está sobrando apenas aos artesões. Ainda há aquela, que é valiosa desde o tempo da revolução industrial que é do ferramenteiro. Este profissional que precisa ter habilidades naturais que podem ser aprimoradas pelo estudo, é uma espécie ghost writer da maioria das indústrias, pois é ele que projeta e fabrica as ferramentas que vão fabricar as peças ou os produtos. Faço esta comparação porque em toda atividade tem aquele que aparece e o que não aparece, porém é de uma importância extrema. É o caso do cinegrafista que a gente nunca vê, mas cujo trabalho é essencial fazer com que o apresentador seja bem visto.

Para ilustrar, o trabalho não é só um meio, mas é um fim em si próprio. Voltando a falar da pandemia, muitos gostariam de exercer alguma atividade, mesmo que a remuneração fosse pequena, nem que fosse apenas para alegria ao seu semelhante. Quem faz um trabalho espera reconhecimento. Quem já preparou uma refeição com todo carinho e ficou desapontado ao ver que todos comiam sem demonstrar nenhum sentimento?

Luiz Lauschner

é empresário

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