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Prototipagem estrutural

Daniel Nascimento-e-Silva, PhD

Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)

Estrutura é um termo muito falado, mas muito difícil de encontrar alguém que saiba com exatidão a que ele se refere. Fala-se, por exemplo, em estrutura econômica, estrutura social, estrutura familiar, estrutura espacial e assim por diante. Mas o que isso tudo significa? O segredo está no substantivo “estrutura”. Para desvendá-lo, é preciso que se saiba com exatidão a que ele se refere. Há duas maneiras distintas, mas convergentes, de se entender toda e qualquer estrutura. A primeira é relativa a um todo feito de partes. O ser humano, por exemplo, é um todo feito por cabeça, tronco e membros, que são as suas partes. De uma forma geral, tudo o que existe fisicamente, até mesmo os prótons, nêutrons e elétrons, que constituem os átomos, são feitos de partes, têm subdivisões. De forma semelhante, tudo o que formos capazes de pensar só é possível porque tem subdivisões. Por exemplo, se imagino uma baleia voadora é porque baleias têm cabeças, olhos, narizes e nadadeiras que farão o papel de asas, para que minha imaginação permita que elas voem. A segunda maneira é através do que chamamos de arranjos. Arranjar quer dizer modificar a ordem dos elementos de um todo a partir de uma determinada finalidade, sem alterá-lo, como inclinar os encostos de cadeiras ou substituir os materiais que os compõem.

Note, então, que todos esses exemplos estão concentrados na ideia de elementos, partes, componentes. É que considerar a estrutura é se concentrar nas partes de um todo. Analisar uma estrutura é identificar as partes componentes do todo, uma vez que o verbo “analisar” significa quebrar. É o que acontece no grande colisor de hádrons (LHC, da sigla em inglês). Ali, as partículas componentes dos átomos, como elétrons e pósitrons, são quebradas para que se possa conhecer os seus componentes. A partir dessa identificação é que se pode entender os arranjos delas na formação de um átomo. Os “cacos” dos pósitrons e elétrons são seus elementos estruturais. Por sua vez, os pósitrons e elétrons são componentes estruturais do átomo. Estruturalmente falando, o átomo é o todo, os pósitrons e elétrons são seus componentes e os “quarks”, que são os “cacos” dos pósitrons e elétrons, são seus subcomponentes e assim por diante.

Voltando-se aos termos “estrutura social”, “estrutura econômica”, “estrutura familiar” e assim por diante, ainda que inconscientemente está-se falando nos elementos que compõem uma sociedade, uma economia e uma família. Dito de outra forma, sociedade, economia e família têm partes que deverão ser apresentadas para que se possa compreendê-las. Alguém poderia dizer que os elementos da estrutura social são instituições, valores e estratificação, enquanto outro poderia apontar como partes da estrutura econômica o trabalho, sistemas de produção e renda e, da estrutura familiar, afeto, responsabilidades e espiritualidade. Quem efetivamente sabe do que está falando quando se refere a qualquer tipo de estrutura, obrigatoriamente precisa apresentar os seus elementos componentes, ainda que os mais importantes.

É essa mesma exigência que se deve fazer para a prototipagem. Quando se faz, por exemplo, um protótipo panorâmico de uma tecnologia, a intenção é que se visualizem os valores que serão entregues no futuro e que estão sendo prometidos agora. Quando se faz um protótipo estrutural a preocupação não é mais com os valores, mas com a sua materialização efetiva. A representação estrutural, que é outra maneira de se referir ao protótipo de inovações, é a apresentação minuciosa de cada um de seus componentes, subcomponentes, partes, subpartes e peças. A engenharia de produtos, por exemplo, trata de forma relacional a esquematização de estruturas do tipo pai-filho-neto. Tomemos uma cadeira como exemplo. A cadeira total é o pai. Braços, encosto, assento e estrutura de metal são os filhos. Cada parafuso e cada ponto de solda que unem os braços, encosto e assento à estrutura de metal são os netos. Produtos muito complexos, como automóveis, transformam suas partes em subprodutos. Assim, a carroceria seria um subproduto, com seus respectivos componentes, subcomponentes, partes, subpartes e peças.

Mais uma vez, o que queremos deixar claro é que protótipo de estruturas é representação gráfica e física do todo com todos os elementos que o integram e fazem funcionar. Não importa se o produto é uma sequência didática ou um sistema de monitoramento de poluição atmosférica: se é tomado como uma totalidade, suas partes podem e precisam ser identificadas e materializadas de alguma forma. Alguém poderia apresentar como os elementos estruturantes de uma sequência didática os objetivos de aprendizagem, um tema central, os materiais a serem utilizados, a forma de operação e uma sistemática de avaliação da aprendizagem. Por outro lado, um sistema de monitoramento de poluição atmosférica poderia ter como elementos estruturantes a coleta do material a ser analisado, o processo de análise, a geração dos resultados e a transmissão desses resultados. Perceba a ideia de estrutura sempre presente como consequência da apresentação dos elementos que compõem aquilo a que se está referindo. É esse todo feito de partes o grande desafio da prototipagem estrutural.

É possível fazer a prototipagem estrutural antes do protótipo conceitual? Alguém poderia fazer essa pergunta muito pertinente para todos aqueles que desejam e têm interesse na geração de tecnologias. Naturalmente que sempre é possível que a estruturação preceda ou prescinda da conceituação. Mas, novamente vale a pena repetir, é a partir da conceituação que a estrutura ganha em velocidade e precisão. O conceito do produto e da tecnologia deixa clara a sua proposta de valor porque fica visível no seu protótipo. O protótipo estrutural, vendo fisicamente o valor a ser gerado, tem muito mais chances de consistência em um tempo mais breve e com materiais mais adequados. Em resumo, é sempre uma grande vantagem fazer a prototipagem estrutural centrada em um protótipo conceitual.

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