27 de julho de 2024
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Meritocracia, aulicismo e oportunidades

Essa é uma discussão que permeia a nossa sociedade há muito tempo. Muitos defendem que as pessoas só devem subir na escala social por fruto de seus méritos. Outros questionam que nem todos encontram as mesmas oportunidade na vida, para crescerem. De certa forma, ambos estão corretos. Mas, vou me usar como exemplo explicativo. Não sei se será um bom exemplo ou uma oportunidade de melhoria perdida no tempo e no espaço. Mas, funcionou comigo. E que não sirva de modelo para ninguém. E que sirva de modelo para todos. Façam sua escolha. Enfim, que eu me lembre, do início da vida, ainda na escuridão dos testículos de papai, eu, um simples e minúsculo espermatozoide, tive que competir na maior corrida da minha existência para alcançar o útero de mamãe.

Eu consegui ! Eu venci! Ninguém me ajudou ! Logo, eu mereci a vitória, conforme as regras do jogo biológico. Bastava estas palavras para encerrar a minha posição sobre meritocracia, aulicismo e oportunidades. Mas, a dinâmica da vida me ensinou outras coisas.  Meu pai nasceu negro e escravo, em 1930, no sertão da Paraíba. Isso mesmo: escravo em 1930 ! Minha mãe, branca, loira, nasceu no interior do Ceará, na época de severa seca, também em 1930. Ambos fugiram de suas origens e vieram para o sul do nosso Brasil: Rio de Janeiro e São Paulo. Fugiram para tentar sobreviver, de alguma forma. O tempo passou, e muitas e muitas e muitas dificuldades e injustiças aqueles adolescentes sofreram e engoliram.

Um dia, a vida os pôs frente a frente. Surgiu o Amor e, dessa oportunidade, houve a minha concepção. Na época, o meu pai era porteiro de edifício e a minha mãe era empregada doméstica. Ambos sem carteira assinada e ambos completamente analfabetos, pois nunca, na vida, entraram em uma escola. Bem, nesse quadro, no final dos anos 50, que chances eu teria de ser alguém na vida? Negro, filho de pobres sem futuro, sem diplomas, sem carreiras, sem nada. Eu não teria nenhuma chance, pela dinâmica da vida. E, nesse caso, pouco importa em qual país ou em que regime. Mas, a vida cobrou posições de nós três. E os meus pais decidiram apostar no meu futuro, pois eles não queriam que eu sofresse o que eles sofreram. Mais da metade dos parcos salários deles, com os biscates (bicos) e horas extras foram empregados em boas e excelentes escolas para a minha educação formal. Enfim! Hoje, eu agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de ter pais como eles. Eles, com muito sacrifício pagaram meus estudos e me educaram com princípios e valores sólidos. E eu, apenas tive que estudar para ser aprovado em todos os concursos em que decidi enfrentar e nunca perder o ano nas escolas. E foi o que aconteceu! Meus pais apostaram e deu certo! Nós três merecemos! Hoje, aos 63 anos de vida, eu ajudo muitos jovens alunos de faculdade. Sei o que é ser discriminado, ou sofrer excesso de rigidez em provinhas de faculdades por aí. Infelizmente ou não, hoje o acesso às Universidades está bem mais flexível. Por que minha dúvida? Antigamente o diploma era tudo.

Hoje, o mercado não contrata ninguém por ser apenas coitadinho ou bonitinha. Esses jovens podem até ter oportunidades, mas, sem conhecimento e sem cultura adequada, jamais irão exercer cargo de chefia, gestão e liderança. E quanto aos áulicos que conseguem cargos na trilha de políticos, sem fazer absolutamente nada produtivo? Tudo bem, cada qual segue o caminho que a vida apresenta. Mas, áulicos se aposentam? Enfim, eu defendo o critério da meritocracia, pois a vida me ensinou assim. Também defendo os cargos políticos pois ninguém fica rico e ganha esse dinheiro a vida toda e a cada mudança, perde-se tudo. Pelo menos, essas pessoas estão inseridas no contesto produtivo social. E os coitadinhos saudáveis que não tiveram oportunidades? Bem, sei que existem muitos casos. E sei, também, que existem pais e mães que não transmitiram valores e princípios aos seus filhos. Eu não faço essa análise, pois não discrimino. No entanto, a Natureza tem um primo que também não perdoa  e não tem pena: o Mercado de Trabalho! É ele, o Mercado de Trabalho que vai dizer se você venceu por mérito, apadrinhamento, arranjo ou por pena. Basta esperar!

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