Lá se vão 54 anos da criação da Zona Franca de Manaus e da SUFRAMA.
Essa instituição “cinquentona” não parece “animada” para comemorar mais este aniversário. Afinal, desde o ano passado, quando iniciava uma aparente recuperação após um período recessivo acentuado, Manaus foi “capturada”, como o resto do país, pela crise econômica decorrente da pandemia de coronavírus…E neste início de ano, quando parecia que as coisas iriam melhorar, uma nova onda da doença assolou nossa capital, com maior intensidade e poder destrutivo do que no ano passado. Deixou um enorme rastro de óbitos e sofrimento, sendo considerada a maior calamidade regional dos últimos 100 anos!
Assim, a recuperação econômica foi novamente comprometida, por razões locais e também porque a segunda “onda” da pandemia se espalha rápida e destrutivamente pelo país, comprometendo a atividade econômica e laboral e prejudicando o mercado consumidor de grande parte dos produtos fabricados no nosso estado.
Não há mesmo o que comemorar, mas lições a aprender, ainda que tardiamente, como ensina o provérbio popular, melhor do que nunca.
Está certo que o passado de vitórias pode ser inspirador. Como também a resistência de segmentos importantes da nossa indústria. Mas aqui entre nós, o Governo Federal continua pródigo em ignorar nosso modelo como algo importante para o país, embora ainda seja obrigado a respeitá-lo sob os aspectos político e ecológico, mesmo que a contragosto. Nesse âmbito, os tecnocratas de Brasília não se diferenciam tanto, seja em governos intitulados de “esquerda” ou de “direita”, muito pelo contrário. As ameaças continuam constantes, uma hora sobre o polo de concentrados, outra sobre as bicicletas…História que se repete há décadas.
O maior símbolo da falta de visão estratégica dos governos de Brasília, dominados pela tecnocracia “distraída” dos interesses da Amazônia para nosso país, é o CBA. Talvez a única, mas importante, iniciativa do governo Fernando Henrique pelo desenvolvimento estratégico da nossa região, abandonada pela governança que lhe sucedeu, quiçá, comentam alguns de forma anedótica, porque na fachada do prédio tinham sido insculpidas, dentre outras imagens regionais, alguns tucaninhos inocentes, mas que pareciam “marcas” do governo que fora apeado do poder. Ora, teria sido mais fácil mudar a fachada do CBA do que abandoná-lo, não às traças, que não são comuns por estas bandas, mas ao desígnio dos burocratas dos ministérios disputando entre si o domínio deste que deveria ser o mais importante centro de biotecnologia do hemisfério sul do planeta e se tornou uma espécie de “elefante branco”. Ou melhor dizendo, uma anta gigante abandonada…
Existe sim esse colonialismo interno dos detentores do poder tecnocrático em Brasília. Mas também, felizmente, há a histórica resistência diante de ameaças e agressões à um modelo que, embora com várias limitações, sustentou economicamente Manaus e o Estado, ainda que os recursos gerados não tenham sido tão bem aproveitados como devia ter ocorrido.
Não se desmerece, portanto, a cinquentona Zona Franca de Manaus, que nem é mais uma verdadeira “zona franca”, mas mantém o “apelido”. O PIM, este sim, que resiste, com alguns exemplos potentes como a Sansung e a Honda, é certamente muito importante para nossa capital e nosso estado. Mas não deve mais ser visto como “galinha dos ovos de ouro” do Amazonas. A acomodação decorrente da dependência exagerada de uma única matriz econômica, não nos exime da necessidade de nos unir para defendê-la, mas sem a cegueira da absoluta maioria dos velhos coronéis da borracha, que assistiram impávidos o debacle da hévea, sem perceber que tinham literalmente “parado no tempo”.
Ao longo dos anos nossa governança política tem sido fraca para ir além da defesa das prerrogativas do PIM. Basta-lhe isso, mas não é suficiente, não foi nem será, para tornar o Amazonas um estado menos desigual e sustentável, a médio e longo prazo, inclusive economicamente,
Enquanto o imediatismo não for superado por uma corajosa e inteligente estratégia de defesa do bem comum dos amazonenses, observo que nada de novo ocorrerá por aqui, como no conhecido “quartel de Abrantes”. Ou se para com essa letargia de leseira baré, ou até a esperança vão querer nos roubar.
Penso que já está passando da hora de acordar, até para fazer jus ao hino do Amazonas : “só triunfa a esperança que luta.”