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ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE O PORVIR (X)     

Bosco Jackmonth*

Segundo as fontes, a palavra “paz” compôs-se com um novo significado. Pensavam em paz as gerações anteriores, como ausência temporária de guerra. Mas hoje a vislumbramos como a implausibilidade da guerra. Transcorria o ano de 1913, quando se falava que havia paz entre a França e a Alemanha, o que se queria dizer era que, “no presente, não há uma guerra entre esses países, mas ninguém sabe o que nos aguarda no próximo ano”.

Hoje, quando afirma-se que existe aquela paz, sabe-se que é inconcebível, em quaisquer circunstâncias previsíveis, eclodir uma guerra entre essas duas nações. Uma paz assim prevalece não apenas entre a França e a Alemanha, mas entre a maioria (conquanto não todos) dos países. Sucede, não existe um cenário para que uma guerra séria ecloda no ano que vem entre a Alemanha e a Polônia, ente a Indonésia e as Filipinas, ou entre o Brasil e o Uruguai.

Essa nova paz, não é apenas uma fantasia hippie. Governos sedentos de poder e corporações gananciosas também contam com ela.  Assim, quando a Mercedes-Benz planeja suas estratégias de vendas na Europa Oriental, descarta a possibilidade de que a Alemanha conquiste a Polônia. Uma corporação que importa mão de obra barata das Filipinas não está preocupada com a possibilidade de que a Indonésia invada as Filipinas no ano que vem. Quando o governo brasileiro se reúne para discutir o orçamento do próximo ano, é inimaginável que o ministro da Defesa do país se levante de sua cadeira, dê um soco na mesa e grite; “Esperem um momento! E se quisermos invadir e conquistar o Uruguai? Vocês não levaram em consideração. Temos de reservar 4 bilhões de dólares para financiar essa conquista”.

Claro que há uns poucos lugares nos quais o ministro da Defesa ainda fala coisas do tipo, assim como há regiões em que a Nova Paz não conseguiu assentar raízes. Não há garantia é claro, de que a Nova Paz se mantenha permanentemente. 

Tal qual as armas nucleares a princípio a tornaram possível, da mesma forma desenvolvimentos tecnológicos podem criar um cenário para formas inéditas de guerra. Em particular, uma guerra cibernética pode desestabilizar o mundo ao conceder a pequenos países e grupos não estatais a capacidade de lutar com eficácia contra superpotências. 

Quando os Estados combateram o Iraque em 2003, levaram o caos a Bagdá e a Mossul, mas nem uma única bomba foi lançada sobre Los Angeles ou Chicago. No futuro, no entanto, um país como a Coreia do Norte, ou o Irã, poderia utilizar bombas lógicas para interromper a transmissão de energia na Califórnia, explodir refinarias no Texas e fazer trens colidirem em Michigan (“bombas lógicas” são códigos de software maliciosos plantados em tempos de paz e operados à distância.

É altamente provável que esses códigos já tenham sido contaminados em redes que controlam instalações vitais de infraestrutura nos Estados Unidos e em muitos outros países). Não se deve confundir, contudo, capacidade com motivação. Embora introduza novos meios de destruição, a guerra cibernética não cria necessariamente incentivos para que sejam usados. Durante os últimos setenta anos a humanidade quebrou não só a Lei da Selva, como também a Lei de Tchékhov. É famosa a declaração de Anton Tchékhov de que, se uma arma aparece no primeiro ao de uma peça, é inevitável que seja disparada no terceiro. E, no decorrer da história, se reis e imperadores adquiriam alguma arma nova, mais cedo ou mais tarde, seriam tentados a usá-la. Desde 1945, a humanidade aprendeu a resistir à tentação. A arma que apareceu no primeiro ato da Guerra Fria nunca mais foi disparada. 

Estamos acostumados a viver em um mundo de bombas que não foram lançadas e de mísseis que não foram disparados e nos tornamos especialistas em quebrar tanto a Lei da Selva como a de Tchékhov. Se essas leis alguma vezes funcionarem conosco, a culpa terá sido toda nossa – e não de nosso inexorável destino. (Continua).

Advogado de empresas (436/AM). Ex-funcionário do Banco do Brasil, designado como Fiscal Cambial junto a agências bancárias locais; comissionado a ordem do Banco Central. Cursou Comunicação Social/Jornalismo, Contabilidade e lecionou História.

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