Bosco Jackmonth*
O quadro que se punha dada a fome mundial era devastador. Tinha-se que 1 bilhão de pessoas dos países mais populosos do mundo estavam caminhando para a catástrofe. Na verdade, estavam na direção do maior milagre econômico da história.
Desde 1974, centenas de milhões de chineses foram resgatados da pobreza, e, ainda que centenas de milhões mais sofressem de privações e de subnutrição, pela primeira vez em seus registros históricos a China estava livre da fome.
Sucede, é que na maioria dos países, o hábito de comer demais tornou-se um problema muito pior que o da fome. A propósito, consta que no século XVIII, Maria Antonieta aconselhou as massas famintas a que, se ficassem sem pão, comessem brioches. Os pobres hoje estão seguindo literalmente esse conselho.
Enquanto os moradores ricos de Beverly Hills, nos Estados Unidos, comem salada de alface e tofu no vapor com quinoa, nos cortiços e guetos os pobres se empanturram com bolinhos recheados, salgadinhos artificiais, hambúrgueres e pizzas.
Segue-se, em 2014, mais de 2,1 bilhões de pessoas apresentavam excesso de peso em comparação com 850 milhões que sofriam de subnutrição. Prevê-se que metade da humanidade estará com excesso de peso em 2030. Em 2010, fome e subnutrição mataram cerca de 1 milhão de pessoas, enquanto a obesidade matou 3 milhões. Esse o quadro…
No rumo desta abordagem, tem-se que o segundo maior inimigo da humanidade era representado pela peste e pelas doenças infecciosas. Cidades fervilhando de gente, conectadas por um fluxo incessante de comerciantes, funcionários e peregrinos, eram ao mesmo tempo o fundamento da civilização humana e o terreno ideal para proliferação de agentes patogênicos.
Em consequência, as pessoas na antiga Atenas ou na Florença medieval viviam suas vidas conscientes de que poderiam adoecer e morrer em dias, ou que subitamente poderia irromper uma epidemia e destruir toda a sua família numa única investida.
Dessas irrupções, a mais famosa foi a chamada Peste Negra, ou peste bubônica, cujo início se deu na década de 1330, em algum lugar da Ásia Central ou Oriental, quando a bactéria Yersinia pestis, que tinha a pulga como hospedeiro, começou a infectar os humanos que eram picados por esse inseto.
Após, montada num exército de ratos e pulgas, a peste espalhou-se rapidamente pela Ásia, Europa e norte da África, levando menos de vinte anos para chegar às margens do oceano Atlântico.
Restou que entre 75 milhões e 200 milhões de pessoas morreram – mais de um quarto da população da Eurásia. Na Inglaterra, quatro em cada dez pessoas pereceram, e a população caiu de 3,7 milhões antes da peste para 2,2 milhões depois dela.
A cidade de Florença perdeu 50 mil de seus 100 mil habitantes. As autoridades eram completamente impotentes diante a calamidade.
Além de organizar orações em massa e procissões, não tinham ideia de como interromper a propagação da epidemia – e muito menos de como curá-la. Até a era moderna, a culpa pela doença foi atribuída ao ar viciado, a demônios maliciosos ou a deuses raivosos; não se suspeitava da existência de bactérias e de vírus. As pessoas acreditavam facilmente em anjos e fadas, mas não conseguiam imaginar que uma pulga minúscula ou uma simples gota d’água contivesse um exército completo de predadores mortais. (Continua).
Advogado de empresas (OAB/Am 436). Ex funcionário do Bco.Brasil, designado com Fiscal Cambial à ordem do Bco.Central. Cursou Contabilidade, Comunicação Social Jornalismo e lecionou História.