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Turismo no Amazonas permanece em compasso de espera

Divulgação

Até o mês passado as operadoras de turismo no Brasil já somavam R$ 3,9 bilhões em adiamentos e cancelamentos de viagens, e os números negativos continuam crescendo, segundo a Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo). Em Manaus, se forem somados a isso outros segmentos do setor, como lojas de artesanato, guias de selva e restaurantes flutuantes, o quadro é bem mais devastador.

O macapaense Marlon da Conceição Prado veio para Manaus em 1986 e, desde então, está envolvido com turismo. Entre outros trabalhos na área, foi guia, chegou a ter uma pousada no lago Mamori e, junto com a esposa, a artista plástica Rosa dos Anjos, foi proprietário da Etnia, uma loja de arte e artesanato no mini shopping do Tropical Hotel.

“Abrimos a loja em 1999 e apenas dois anos depois, em 2001, após o ataque às Torres Gêmeas, em Nova Iorque, sofremos um grande baque em nossos negócios, aqui, tão distantes”, lembrou.

“Além de queda de turistas americanos para o hotel, e consequentemente para a loja, exportávamos muitas peças de artesanato para os Estados Unidos e com a paranóia americana pós-atentado, nossas peças eram quebradas na alfândega deles, acredito eu, para ver se não tinha bomba ou algum explosivo. Com isso, nossas exportações para lá, que eram muitas, cessaram”, contou.

Depois de manter a Etnia desativada por vários anos, Marlon e Rosa reabriram a loja, na rua Tapajós, no Centro, em 2016, unindo arte e artesanato e o ateliê de Rosa.

“60% dos nossos clientes são turistas brasileiros e o restante, estrangeiros, mas agora, nenhum. Desde o dia 19 de março fechamos a loja por falta de clientes. Acredito que a recuperação será complicada. Europeus e americanos são muito cautelosos e a fala sobre a pandemia, particularmente em Manaus, foi muito acentuada. Tenho vários amigos estrangeiros preocupados com a situação aqui”, disse.

Marlon acredita que neste ano, o turismo em Manaus pode ser esquecido, pois não haverá mais turistas na capital amazonense e a Amazonastur precisará trabalhar muito nos Estados Unidos e Europa para reverter essa situação.

“Estou aguardando a vacina contra o coronavírus. Há uma demanda reprimida de turistas no mundo. Quando existir uma vacina, haverá uma explosão de consumo”, previu.

Zerou em março

Francisco Carlos Machado Magalhães é guia de turismo desde 2016 e formando em turismo. É proprietário da Sauim Cultura & Turismo, empresa especializada em organizar viagens para eventos no Amazonas, passeios por pontos turísticos de Manaus, além de roteiros de barco pelos rios das redondezas da cidade.

“Divulgo minha empresa e serviços através das redes sociais e assim os turistas ficam interessados em conhecer nossa região”, falou.

“A maioria dos turistas que recebo são os chamados domésticos (nacionais), do Nordeste, e do Rio de Janeiro. O evento preferido por eles é o Festival de Parintins. Em Manaus os levo aos museus e pontos turísticos como o Teatro Amazonas, o Bosque da Ciência, e aos passeios de barco, que os deixa encantados”, falou.

“Comecei a sentir o fluxo de paralisação gradativa de turistas a partir do final do mês de janeiro, quando a pandemia ainda nem havia chegado ao Brasil. Essa paralisação foi crescendo até zerar, em março”, recordou.

Da mesma forma que Marlon, Francisco acredita que a retomada das viagens de turistas pós-pandemia, será lenta.

“Levará um bom tempo para os turistas retomarem a confiança na rotina das viagens, enquanto isso, cresce o serviço de assessoria de informações turísticas através de sites e blogs”, revelou.

Vamos voltar, como sempre

O restaurante flutuante Peixe Boi, no rio Tarumã, é o mais antigo de Manaus, com 32 anos de funcionamento.

“Nunca tínhamos ficado tanto tempo sem funcionar, desde o último final de semana de março. O máximo que eu fecho o restaurante é por uns dez dias, entre o Natal e o Ano Novo, quando dou férias aos meus funcionários e viajo para a minha cidade, São Paulo”, lamentou Ana Scognamiglio, proprietária do Peixe Boi.

A cozinheira do flutuante, dona Inês, trabalha no estabelecimento desde o início e como pertence ao grupo de risco, foi a primeira a ficar em casa, mas são seus quitutes os mais requisitados pelos clientes, muitos, assíduos frequentadores que Ana viu casar, começar a levar seus filhos e hoje, os netos, ao flutuante.

“Eles estão sempre em contato comigo querendo saber quando iremos reabrir, mas só faremos isso após liberada a reabertura dos restaurantes”, avisou Ana, que está em São Paulo, no seu apartamento.

O Peixe Boi se notabilizou por receber, ao longo de três décadas, uma lista de personagens ilustres: artistas, jogadores de futebol, cantores, chefs nacionais e internacionais, e mais recentemente, sertanejos encabeçados por Wesley Safadão.

“Meus funcionários me mantém informada de tudo. O movimento de barcos no Tarumã praticamente cessou. Ao menos a natureza agradece”, disse.

Falando em funcionários, os funcionários do Peixe Boi, quase 20, moradores do próprio Tarumã, estão vivendo da pesca e da venda de frutos.

“Vamos voltar, como sempre voltamos, com mais garra e vontade, e ainda melhores, agora cercados pelas novas medidas de higienização”, garantiu Ana.

Fonte: Evaldo Ferreira

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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