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 Tenório e o livro que já nasceu clássico

Evaldo Ferreira: @evaldo.am

O escritor e poeta Tenório Telles, junto com Antônio Paulo Graça (já falecido) acaba de lançar mais uma grande obra, ‘Estudos de literatura do Amazonas’, um livro que já nasce clássico, por ser único, até agora, em realizar estudos minuciosos, desde os primeiros suspiros literários, no Amazonas, até os dias atuais, preenchendo uma lacuna que permanecia aberta. ‘Estudos de literatura do Amazonas’ se faz necessário para todos os que se interessam pelo pensamento não apenas local, mas universal. Nessa entrevista ao JC, Tenório falou sobre seu mais novo livro e a quantas anda a literatura amazonense.   

Jornal do Commercio: Como está a literatura, hoje, no Amazonas?

Tenório Telles: A literatura é um processo e está sempre em movimento, se renovando, mesmo que, em alguns momentos, pareça que nada está acontecendo. Assim, posso dizer que o fenômeno literário em nossa terra segue sua dinâmica de mudanças, atualização e renovação. Tenho lido muitos autores jovens e percebo que uma nova geração está surgindo, com potencial criativo e boa formação intelectual, fruto da presença das universidades e da facilidade de acesso ao mundo da cultura. A leitura se ampliou muito com as redes sociais, claro que o próprio ato de ler mudou muito.

JC: Muita gente escreve um livreto, com algumas páginas, e já se considera um escritor. Quando um livro pode ser enquadrado dentro do contexto literatura?

TT: Infelizmente é perceptível um processo de banalização da literatura. Muitos a usam como adorno social e como instrumento de autopromoção. O que define a qualidade de uma obra não é a vaidade ou a ilusão de se achar, em razão de algo publicado, já um grande escritor. Leva tempo para um autor se forjar e exige muito esforço, sobretudo muita leitura. Não se consegue ser um escritor sem estudo, sem conhecer os grandes autores e principalmente a tradição literária. Trabalhei anos lendo originais e percebia a falta de rigor criativo e comumente o desconhecimento da língua. Vi muita arrogância –pessoas que estavam iniciando e já se achavam maiores que Machado, Drummond, Jorge Amado…

JC: O Amazonas carece de bons romancistas, contistas, prosadores, cronistas?

TT: O Amazonas tem uma tradição de bons poetas e prosadores. Desde o primeiro romance, ‘Simá’, de Lourenço Amazonas, temos conseguido ao longo dos anos formar romancistas e contistas expressivos. Posso citar Álvaro Maia, Milton, Márcio, entre outros. Os contistas são excelentes: Engrácio, Carlos Gomes, Astrid… e mais recentemente merecem destaque Thiago Roney, Allison Leão, Daniel Amorim… jovens que acredito vão se destacar e se firmar com o amadurecimento. Quanto à crônica, vejo que é o gênero que hoje floresceu em nosso processo literário, com muitos escritores se dedicando ao gênero e com muita qualidade.

JC: Temos muita gente publicando livros de poesias, enquanto as outras vertentes literárias são deixadas de lado. Como explica isso?

TT: Isso se explica pela tradição. O Amazonas sempre teve esse pendor para a poesia. Do ponto de vista histórico esse foi o gênero predominante entre nós. E o fato é que tivemos poetas de alto nível. Como não falar em Violeta Branca, Tenreiro Aranha, Ruas, Tufic, Farias de Carvalho, Bacellar, Thiago de Mello, Elson Farias. E os contemporâneos: Simão Pessoa, Aldisio, Zemaria, Cláudio Fonseca… E hoje me alegra testemunhar uma nova geração surgindo.

JC: ‘Estudos de literatura do Amazonas’ será importante em que sentido?

TT: O livro foi concebido para ser um testemunho do processo literário regional, com destaque para os autores e obras que ajudaram a construir a tradição da palavra em nossa terra. A obra é uma viagem através do tempo, situando os autores dentro de seus contextos culturais e destacando a qualidade e importância de suas criações. Sobretudo o esforço que fizeram para realizar suas obras. Penso que ajudará os professores e jovens que desejam conhecer a experiência literária construída no Amazonas.

JC: Que escritores amazonenses, atuais, merecem ter seus livros lidos?

TT: A literatura contemporânea local é inevitável para os leitores interessados. Não há como desconsiderar os autores do Movimento Madrugada, um especialmente leio sempre –Alencar e Silva. Alguns livros são incontornáveis: ‘Frauta de barro’, ‘Íntima fuligem’, ‘Dois irmãos’, ‘Mad Maria’, ‘Pássaro de cinza’, ‘Aparição do clown’ e os jovens a que já me referi. Destaco ainda o trabalho de Pollyanna Furtado, Priscila Lira, Danielle Soares, Susy Freitas. Não poderia deixar de mencionar Leyla Leong, Cacilda Barboza pela contribuição à literatura infanto-juvenil. Sei que há outros em processo de autoconstrução.

JC: Além dos seus, indique um livro para o leitor desta matéria ir comprar e se deleitar com o texto.TT: A leitura segue sendo uma experiência iluminadora na vida de todos nós. Gostaria de sugerir três livros: ‘Jorge Amado – uma biografia’; ‘O infinito em um junco’ e ‘As náiades e a mãe-d’água’.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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