O varejo do Amazonas considera positiva a iniciativa do governo federal de organizar uma campanha para aquecer as vendas do comércio em setembro, um dos tradicionais meses em que a demanda sofre refluxo, em uma espécie de Black Friday nacional antecipado – a “Semana do Brasil”.
A ideia do governo é engajar as empresas a oferecerem – assim como ocorre na ação promocional norte-americana pós-Ação de Graças – descontos em produtos e serviços dos setores de comércio e turismo, entre os dias 6 e 15 de setembro.
A dúvida, contudo, é se isso será suficiente para fortalecer a demanda em um cenário nacional de desemprego, endividamento e inadimplência elevados e confiança do consumidor ainda reticente.
O projeto já foi apresentado pelo governo federal a mais de 100 empresários e representantes do setor neste mês, quando foram discutidas ações promocionais a serem desenvolvidas durante a Semana do Brasil. Mas, a forma de participação das empresas, entidades e órgãos públicos ainda está sendo definida.
“Esse tema já foi discutido com nossos associados. É uma ideia que já foi ventilada em duas reuniões nacionais, com todas as entidades de classe, em Brasília e São Paulo. Uma foi no dia 2 de agosto e outra no dia 15 do mesmo mês”, lembrou o presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas do Amazonas), Ezra Azury.
No entendimento do dirigente, a iniciativa é positiva tanto para o comércio varejista, quanto para os segmentos que trabalham com a atividade de turismo, incluindo companhias de transporte, hotéis e restaurantes, com descontos mais agressivos em bens e serviços.
O presidente da ACA (Associação Comercial do Amazonas), Ataliba David Antônio Filho, concorda e diz que a inciativa pode funcionar para aumentar o ritmo do comércio, principalmente para segmentos de vestuário, calçados e até de brinquedos.
“É um mês que, além de não contar com datas fortes para as vendas do varejo, antecipa o mês das crianças, realizado em outubro. Pode dar certo. Vejo com bons olhos qualquer iniciativa que ajude a alavancar as vendas do setor”, emendou.
Emprego e renda
No entendimento do presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, a inclusão de mais uma data comemorativa ou ação promocional no calendário do varejo ajuda, de alguma forma, nos resultados do setor, mas o efeito pode ficar abaixo do esperado.
“É uma ideia que pode ajudar na movimentação das lojas. É uma ajuda, mas não é a solução. Infelizmente, ainda estamos vivendo de pequenos remendos, quando precisamos de soluções de longo prazo. O que realmente falta para aumentar a demanda não é motivar o consumidor, mas gerar mais emprego e renda”, ressalvou.
O dirigente considera, por exemplo, que medidas que reduzam o custo do dinheiro, como redução dos deposito compulsórios dos bancos no BC, poderiam ser mais eficazes. Outra iniciativa que produziria efeitos mais fortes para o comércio, segundo Frota, seria a liberação de valores mais elevados para as contas do FGTS, “um recurso que pertence ao trabalhador”.
“Black Week”
Segundo o presidente da ACA, o ideal seria que a “Semana do Brasil” entrasse como um substituto de fato da atual Black Friday, em virtude da ausência de datas comemorativas para o varejo em setembro e pelo fato de as últimas edições nacionais da promoção norte-americana terem canibalizado as vendas do Natal.
O presidente da FCDL-AM concorda que, da forma como está sendo feito atualmente, a promoção da Black Friday prejudica o setor. Diferente do ocorrido nos EUA, prossegue o dirigente, há lojistas locais que estendem a promoção durante uma semana ou até em todo o mês, totalmente desvinculados da data comemorativa original.
“Tem gente que faz Black Week e até Black Month. Isso prejudica muito o lojista e acaba minando as vendas de dezembro. Mas, acreditamos que neste ano o período de extensão da Black Friday nacional vai ser mais curto e esperamos que a gente consiga chegar a um dia, como é nos Estados Unidos e como deve ser”, encerrou Azury.