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Sem crise em 2015

Crônica

Telefonei para tia Idalina para desejar-lhe um feliz ano novo. Sempre soube que titia era extremamente supersticiosa e perguntei-lhe sobre qual a simpatia mais eficaz para se livrar dos efeitos de um ano de 2015 em crise. Levei uma baita bronca. Disse-me para não falar em crise.
De fato já foi muito supersticiosa. Tinha até uma caderneta onde anotava todas as superstições de que ouvia falar. Era um sofrimento, pois as adotava de imediato. Acreditava em tudo.
– Não me contem suas superstições, implorava ela.
Jogou fora a tal caderneta e não acredita mais em nada. No tempo em que ia à praia de Copacabana pular sete ondinhas, nunca tinha grana para pagar as taxas e impostos de janeiro. Abomina todas essas bobagens definitivamente.
Esse ano não vai vestir nada de especial no ano novo. Decidiu que vai ficar de pijama, de cor roxa, que impõe respeito. Vai passar na cama, em meditação total. Dizem que se deve usar uma peça íntima amarela que representa ouro, riqueza, dinheiro.
– Bobagem –, me disse. – Não preciso mais de dinheiro. Minha roupa íntima será nude. Uma cor que remete à calma e a classe. Você não acha?
Contou-me que não vai comer lentilhas, nem romã e tampouco semente de uva. Vai comer nozes, avelã e castanha. Não por superstição, mas porque gosta e pronto.
Idalina resolveu não ir a lugar nenhum. Disse que está sitiada em Copacabana. O calor lá fora está infernal. Há turistas de todos os cantos do Brasil e do exterior. Gente de todo tipo e de toda cor, como diz a música da Sangalo. E vai rolar a festa. Mas ela está fora.
Sente saudades de quando tinha marido e passava o Natal em Nova York e o Réveillon em Paris. Bons tempos. Voava de Nova York para Paris de Concorde. Era o máximo. A principal vantagem do Concorde era a velocidade. Enquanto um jato comum levava oito horas para ir de Nova York à Paris, o Concorde fazia o voo em três horas e meia. O réveillon em Paris é maravilhoso e reflete:
– Mas, como dizem os franceses: “tout casse, tout passe, tout s’en lace”. Tudo se quebra, mas passa e se entrelaça novamente.
E me deu a bronca final:
– Não pense em crise. Quando nasci já se falava em crise. Crise da borracha, crise da guerra, do pós-guerra, guerra fria, crise do petróleo, da bolsa, disso e daquilo.
E concluiu:
– O importante, meu filho, é que o povo brasileiro é feliz. Sempre foi.
Que crise, que nada. Tia Idalina ouviu na televisão que 90 % dos brasileiros estão na maior felicidade. E finalmente me disse:
– Esquece a crise. Feliz 2015.
E sem crise!

Pedro Lucas Lindoso

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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