A utilização da capacidade instalada da indústria metal-mecânica no Amazonas, abaixo de 80% desde meados de dezembro de acordo com os indicadores da CNI (Confederação Nacional da Indústria), só deverá voltar aos níveis pré-crise e encostar na média histórica (perto de 83,66%) após o primeiro trimestre de 2010. Esse posicionamento referendado pelo presidente do Sinmen (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas de Manaus), Athaydes Félix Mariano, e empresários atuantes no setor, considera que a retomada consistente do investimento em aumento da produção, no entanto, só deverá ocorrer em meados de 2011.
O levantamento da CNI mostrou que a utilização da capacidade instalada recuou 5,2 pontos percentuais de setembro de 2008 (momento em que a média do setor era de 84,5%) até junho deste ano, encerrado com 79,3%.
Mariano avaliou que essa ociosidade permite às indústrias atenderem ao aumento da demanda sem novos investimentos, mas reduziu drasticamente a mão-de-obra ocupada. De acordo com o executivo, o segundo semestre tem sido marcado pela sinalização entre a maioria das fábricas de possível aumento do quadro de temporários como forma de atender o crescente número de pedidos. “Livres de efeitos sazonais, esse aumento de novos contratos com as indústrias do polo de duas rodas aponta para o fim da instabilidade do setor. Entretanto, ainda está aquém do volume de pedidos de outros anos”, acrescentou.
Mariano destacou ainda que foram os investimentos iniciados em 2007 que sustentaram o nível alto de utilização da capacidade instalada no quarto trimestre do ano passado, quando, a despeito da crise, o setor fechou com 86,3%. Segundo o empresário, a indústria atualmente consegue operar com um nível elevado sem pressões inflacionárias, o que ocorreu pela primeira vez desde a década de 1970. “Como o presidente Lula manteve as estratégias econômicas e o país avançou para a estabilidade econômica definitivamente, com o governo sinalizando que continuaria nessa rota de crescimento, houve a retomada do investimento em 2007 e 2008”, contou.
Materiais de transporte
Para o diretor industrial da AmazonAço, Valmir Magalhães, os maiores responsáveis pela queda do uso da capacidade instalada da indústria foram os setores de metalurgia e materiais de transporte. A afirmativa faz sentido quando analisada sob a ótica dos dados divulgados pela CNI, segundo a qual, juntos, esses segmentos responderam por 62% do recuo do indicador de setembro a dezembro de 2008. A taxa da metalurgia, em setembro, era de 92,2%. Em dezembro, recuou 13,7% fechando em 78,5% no parcial daquele mês.
O economista da CNI, Marcelo de Ávila, explicou em nota ao Jornal do Commercio que, apesar de o segundo semestre ser historicamente melhor para a indústria, não há nenhuma perspectiva de diminuição da ociosidade. “De janeiro de 2003, quando a CNI iniciou o levantamento, até junho de 2009, a média de utilização da capacidade instalada foi de 81,1%”, considerou.
Barreiras ao investimento
Já o diretor industrial da Manaus Aço e Carbono, André Gomes Leitão, fez questão de frisar que os empresários têm algumas barreiras para o investimento e que essa alta capacidade ociosa não traz incentivo para o empresário investir. “Se a demanda aumentar de maneira forte, de uma hora para outra, o empresário consegue atender sem qualquer investimento porque tem ociosidade”, afirmou o empresário, acrescentando que qualquer setor só é incentivado a investir quando o nível de utilização da capacidade instalada fica pressionada em níveis mais elevados do que a média histórica.
O economista Álvaro Smont avalia que a ociosidade na indústria continuará alta. Em nota, o professor analisou que em alguns setores essa tendência será muito mais forte em relação a outros. “Para que o aumento da demanda não gere arrocho inflacionário, um dos incentivos deveria ser o crédito mais favorecido para quem quiser fazer um investimento rapidamente, com redução na taxa de juros, por exemplo. Ou, eventualmente, um desconto do imposto de renda”, finalizou.