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Reencontros de Adelson Santos

Evaldo Ferreira: @evaldo.am

‘Não mate a mata’, mais de 40 anos depois, sempre atual; a bela letra e melodia de ‘Dessana, dessana’; ‘Um certo tempo depois’, tudo a ver com a trajetória do músico, compositor, cantor e maestro, são apenas algumas das centenas de composições do mestre Adelson Santos, que mais uma vez poderão ser ouvidas no show ‘Reencontros sonoros’, que ele apresentará na quarta-feira (14), no Teatro Amazonas, a partir das 20h, para comemorar seus 60 anos de carreira. Detalhe. A entrada é gratuita.

“Depois de 60 anos de carreira fazendo música na floresta, já peguei minha entrada no Céu com o título de Rei da Perseverança selvagem”, falou Adelson.

Durante o show, o artista irá dividir o palco do teatro com vários artistas amazonenses os quais, ao longo da sua jornada musical, estiveram presentes em algum momento da sua vida. Além dos ícones musicais citados antes, o compositor irá apresentar sua nova composição ‘Amor na pandemia’.

“Esse título ‘Reencontros sonoros’ é porque convidei artistas que passaram por mim desde sempre e continuam acreditando na arte”, declarou.

Alguns dos nomes que subirão ao palco junto com Adelson foram seus alunos ou músicos que atuaram sob sua regência. Dentre os cantores estão: Jander Fonseca, Luziene Lins, Fabiano Cardoso, Rebeca Leitão, Clara Cândido, Flávia Procópio e Samantha Carvalho. Já os instrumentistas são: Bianca Correia (baixo), Daniel Marcos (sax alto), Neil Armstrong (violão), Breno Di Andrade (piano), Tércio Macambira (bateria), Noval Benayon (percussão) e Jéssica Sabino (violino). O show também contará com o quarteto da Ovam (Orquestra de Violões do Amazonas). Adelson foi o idealizador, e primeiro regente, da Ovam e da Orquestra Vozes da Ufam.

Pioneiro do rock

Sobre seu maior sucesso, ‘Não mate a mata’, quase um hino ecológico, o compositor explicou.

“Essa música é eterna. ‘Não mate a mata’ é o título mais sintético que existe na civilização para que salvemos a natureza. Já estou cantando esta música há 40 anos e a devastação continua. As matas do mundo estão em chamas”, disse.

Quem ouve as músicas tranquilas de Adelson, baladas, com muitas das letras denunciando as injustiças sociais, nem imagina que ele formou a primeira banda de rock de Manaus, em 1967, numa época em que esse estilo musical chegava aos ouvidos dos manauaras através das rádios Baré, Difusora e Rio Mar.

“A banda era a The Rock’s e fez muito sucesso, mas ganhou pouco dinheiro. Éramos chamados para tocar em todo tipo de festa, mas grana que era bom, nada. Depois de um tempo, vi que o caminho não era aquele. Tocávamos todo o repertório dos Beatles, Rolling Stones e bandas nacionais e os nossos instrumentos, com a chegada da Zona Franca, eram o que havia de melhor no mundo. As bandas que surgiram depois de nós é que não eram boas. Muitas delas tinham ótimos instrumentos, mas só faziam barulho”, recordou. 

Décadas de muita batalha para fazer sucesso e ganhar dinheiro, mais de 300 músicas compostas, sete livros publicados, quatro LPs e dois CDs gravados, e Adelson ainda não chegou onde pretendia.

“Minha missão foi estrangulada pela produção capitalista. Não consegui entrar para o rol dos ‘bem sucedidos’ com sorriso no rosto e um lugar no pódio. Infelizmente. Não deu pra mim. Bem que me esforcei pra isto. Mas fiquei de fora. Andei chegando perto da parada, mas não atingi o alvo. Mas, bola pra frente. A única certeza que sobrou dessa aventura toda foi que eu não consegui deixar meu caráter se corromper pelos dissabores da vida”, contou.

Homem Massa

Adelson afirmou que continua compondo como sempre.

“O problema é que não temos mais mídia para gravar as obras. Ou vamos pro Spotify, ou ficamos mudos”, lamentou.

Sobre as músicas que, atualmente, tomam conta das emissoras de rádio, televisão e Tik Toks da vida, ele lamentou.

“Estamos atravessando uma onda de músicas produzidas pelo Homem Massa. Melodias sem harmonias, sem ritmos, sem pé nem cabeça. Exemplo: a obra que serve para Anitta mexer a bunda. A bunda é bem feita, mas a música é bola fora”, ironizou.

E aconselhou os novos artistas da terra.

“A safra de novos artistas amazonenses é muito boa. Só lamento é que todo mundo vai morrer de fome se tiver que viver da arte, aqui em Manaus”, avisou.

O show ‘Reencontros Sonoros’ foi idealizado pelo próprio Adelson juntamente com a produtora Bianca Correia, da Bia Bass Produções. Ambos decidiram trazer ao palco do Teatro Amazonas vários artistas convidados.

Adelson Santos começou a ficar conhecido em Manaus na década de 1980, depois de morar alguns anos no Rio de Janeiro, para onde havia ido arriscar como artista, e voltar com LPs que tiveram músicas ‘estouradas’ nas rádios locais. ‘Um certo tempo depois’, de 1980; ‘Sonhos de voar’, de 1982; e ‘Não mate a mata’, de 1990. Na década seguinte foi professor de música na Ufam e na UEA. Em 2005 teve sua ópera ‘Dessana, Dessana’ apresentada no 9º Festival Amazonas de Ópera.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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