A Carta Iedi de ontem esmiúça o desempenho da indústria em setembro. Como o IBGE (Instituto Brasileiro de geografia e Estatística) anunciou na semana passada, a produção industrial física brasileira recuou 0,5% com ajuste sazonal, após aumento de 1,3% em agosto.
A redução da indústria de transformação foi de 0,4%, refletindo a queda no nível de atividade em 16 das 27 atividades pesquisadas pelo IBGE. Do lado do impacto negativo, este se originou especialmente nos setores de veículos automotores (-3,1%), celulose e papel (-7,2%) e outros produtos químicos (-3%).
É importante também destacar a queda em um setor que vive a intensa adversidade da maior valorização do real, no caso, vestuário e acessórios com queda de 2,9%. Outro destaque negativo foi farmacêutica, um setor que vem se recuperando esse ano, com declínio de 2,5%.
No caso de veículos automotores deve ser levado em conta o elevado crescimento da produção no acumulado desse ano, 12,5%, fruto de um grande dinamismo do mercado interno. Isso significa dizer que o principal fator de retração da atividade industrial em setembro pode ser considerado, pelo menos a princípio, como passageiro, não devendo voltar a se apresentar como um determinante negativo.
Graves como indicadores de eventuais mudanças de tendência foram os resultados em vestuário e acessórios e farmacêutica, pois podem estar indicando, no primeiro caso, uma nova rodada de influência adversa do câmbio sobre a indústria nacional, e, no segundo, um esgotamento da recuperação dos setores mais ligados ao rendimento médio da população, dentre os quais o item medicamentos é um destaque.
Contribuição positiva
Dentre os setores que mais contribuíram positivamente, os mais importantes foram alimentos (0,8%), edição e impressão (1,6%), refino de petróleo e produção de álcool (1%), e material eletrônico e equipamentos de comunicações (2%).
Segundo o Iedi, a relevância do crescimento em alimentos pelo segundo mês consecutivo é que afasta uma possível evidência de declínio da capacidade de compra da população, que fora sugerida pelo declínio da produção nos dois meses anteriores. O significado disso é que, ao que parece, o aumento da inflação entre os meses de julho e agosto passados não afetou significativamente o consumo da população, pelo menos no que diz respeito ao setor de alimentos.
Por outro lado, a variação positiva em máquinas e equipamentos tem o significado muito importante de sugerir continuidade do crescimento da inversão na economia.
O setor, cuja evolução acumula no ano 17,5%, é o principal fiador de que o processo de crescimento econômico em curso não gerará pressões inflacionárias pelo lado da demanda, e que, portanto, não será necessário contê-lo através da política de juros.
Setor empregador
Já a evolução nos setores de edição e impressão é relevante porque trata-se de um setor empregador e que no acumulado do ano até setembro ainda registra queda em sua produção de (0,6%).
A conclusão geral de uma análise mais detalhada do resultado industrial de setembro mostra que, sem dúvida, houve um arrefecimento do processo de evolução. Porém, considerando:
1) que o principal fator de declínio foi a indústria automotiva que, no entanto, cresce a taxas excepcionais;
2) que setores fundamentais, tais como alimentos e edição e impressão mostraram recuperação e;
3) o setor de máquinas e equipamentos continua em franca evolução; pode-se concluir que o resultado de setembro contém elementos positivos para a avaliação da indústria brasileira nesses meses finais do ano e meses iniciais de 2008.