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PIB do AM avançava acima da média nacional antes da crise do IPI

O PIB do Amazonas teve desempenho acima da média nacional, em fevereiro, segundo o BC (Banco Central). A passagem de janeiro para fevereiro rendeu alta de 1,71% para a economia estadual, apesar do rápido surto de ômicron e dos choques de oferta de commodities que se seguiram ao começo da guerra na Ucrânia. O crescimento foi puxado principalmente pela indústria e pelos serviços, sendo mais que suficiente para repor o tropeço anterior (-0,5%). O desempenho ainda ficou 5,81% superior ao patamar de fevereiro de 2021 –período em que o Estado ainda vivia a segunda onda de pandemia. 

É o que apontam os números mais recentes do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central). A economia amazonense aparece com 155,22 pontos, no melhor desempenho desde junho de 2021 (154,05 pontos). Na média móvel trimestral, a alta foi de 2,48%. O PIB amazonense avançou 5,50% no bimestre e 6,74%, no acumulado de 12 meses. Economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio apontam, contudo, que os números do BC mostram uma fotografia antiga. A crise do IPI e a guerra na Ucrânia só começaram na última semana de fevereiro, e o consenso é que seus efeitos no PIB estadual já devem aparecer nos próximos levantamentos.

O Amazonas foi novamente melhor do que o da média nacional (138,83 pontos), cuja alta mensal não passou de 0,34%, não conseguindo repor nem metade das perdas de janeiro (-0,99%). O confronto com o mesmo mês do ano passado rendeu incremento de 0,66%, enquanto o acumulado subiu 0,44%. A economia brasileira subiu 0,27% no comparativo do encerrado em fevereiro 2022 com os três meses anteriores. Já a variação anualizada de 12 meses teve variação positiva de 4,82%. Vale notar que estes dois tipos de comparação são os mais usados para indicar eventuais tendências. 

O IBC-Br tem metodologia de cálculo distinta das contas nacionais calculadas pelo IBGE – cuja próxima divulgação nacional está prevista para 2 de junho de 2022. Seu cálculo leva em conta estimativas para os setores econômicos, acrescidos de arrecadações de impostos. Mas, sua divulgação não inclui o desempenho de cada rubrica. Dados do IBGE indicam que tanto os serviços, quanto a indústria e o comércio do Amazonas avançaram no segundo mês deste ano.

A manufatura amazonense retornou ao campo positivo, sendo uma das que mais avançou em todo o país. A alta de 11,3% na comparação com o mesmo mês de 2021 foi alavancada pelas linhas de produção de motocicletas (+44,5%), concentrados (+44%) e artigos de borracha e material plástico (+19,5%). O desempenho compensou a perda de vigor anterior e possibilitou que o bimestre fechasse com 3,4% de expansão. 

O varejo do Amazonas voltou a respirar em fevereiro, após sofrer dois tombos seguidos, apesar dos aumentos da inflação e dos juros. E, a despeito de um Carnaval atípico, e da ômicron em alta, conseguiu ficar 1,2% acima do patamar pré-pandemia. Favorecido, antes de mais nada, por uma terceira onda de baixa intensidade, e pelo prosseguimento da reabertura do setor, os serviços voltaram a colecionar os melhores indicadores locais, com elevação de 11,5% no ano e de 9,9% no acumulado.

Impactados pelos desempenhos do mês anterior –que foi de queda –, os recolhimentos da Receita e da Sefaz tiveram pior sorte. A arrecadação federal no Amazonas desacelerou com força e não passou de R$ 1,56 bilhão. Dilapidado pela inflação o acréscimo ante fevereiro de 2021 –período de auge da segunda onda da pandemia no Estado –não passou de 0,49%. Já a receita tributária estadual do Amazonas estagnou, ao somar apenas R$ 1,20 bilhão e subir apenas 0,69%, na mesma comparação. Em ambos os casos, as maiores baixas se deram nos tributos incidentes nas vendas.

“Antes da crise”

A conselheira do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), ex-vice-presidente da entidade, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, observa que o Amazonas apresentou uma “atuação positiva”, quando comparado aos demais Estados brasileiros. Ela avalia que o Estado ficou no azul principalmente em função do incremento das vendas dos produtos fabricados no PIM, apesar dos apuros decorrentes da falta de insumos, juros elevados e inflação. 

“É bom lembrar que os resultados antecedem a queda de braço dos decretos de IPI, e mesmo os efeitos da guerra na Ucrânia. E se levarmos em consideração a base de comparação de 2021, verificamos que vivíamos uma onda de pandemia e, agora, enfrentamos uma guerra contra a inflação. Acredito que teremos um resultado bem fraco nos próximos meses, possivelmente próximo a zero. Para mim, nossa maior vulnerabilidade está na dificuldade de receber insumos e componentes [depois dos lockdowns na China]. Sem estes, o PIM não tem como continuar funcionando”, ressaltou. 

A economista concorda, contudo, que a crise do IPI e a limitação da renda do consumidor brasileiro pela inflação também contribuem para um cenário desfavorável para a indústria incentivada de 2022. Um indicador disso viria do fato de que nem a Copa do Mundo está conseguindo animar as vendas de televisores no país. “O crédito mais caro, com os juros elevados para tentar conter a inflação. O fato é que temos vulnerabilidades na produção e no consumo, e precisamos melhorar toda a nossa cadeia produtiva”, asseverou.

“PIB negativo”

O também conselheiro do Corecon-AM, professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Júnior, avalia que o desempenho do Estado acima da média nacional, registrado em fevereiro, dá uma ideia para onde a economia amazonense estava rumando –e tendia a prosseguir, caso a geopolítica e os humores de Brasília não tivessem surgido para oferecer obstáculos ao crescimento.

“Fevereiro é um mês que já dá uma ideia de como vai fechar os primeiros trimestre e semestre do ano. É diferente de janeiro, que sofre muita influência de dezembro. Apesar da alta, há os aspectos da guerra na Europa e dos decretos de IPI, que só aconteceram no final de fevereiro. Provavelmente, quando esses períodos forem consolidados, vamos ver que a influência não virá desse crescimento de 1,71%. Se não fosse por esses dois fatores, o Amazonas estaria muito bem nessa fotografia”, analisou.

No entendimento do economista, o PIB do Amazonas já vinha sendo favorecido pelo refluxo cambial decorrente da alta da Selic e da maior entrada de capital estrangeiro para aplicações de curto prazo no país. Isso porque o dólar menos caro torna as importações de insumos mais em conta “O Estado estava sendo puxado pela valorização do real, apesar dos juros e da inflação alta. Esse aspecto do câmbio trouxe alívio no começo de fevereiro e iria demonstrar uma economia aquecida, se a história fosse outra”, afiançou.    

Mais pessimista, Francisco de Assis Mourão Júnior considera que o primeiro trimestre deve ter sido negativo para o Amazonas. “São vários fatores que contribuem para isso e os principais são os já citados. Para a nossa região, a principal influência negativa vem dos decretos do IPI, que criam essa instabilidade. A indústria é a primeira a sentir, mas o comércio deve sofrer mais. Tudo isso, além da inflação e dos juros, deve contribuir para termos uma queda no PIB, nestes três primeiros meses do ano”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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