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Pedido de seguro cai em abril

A demanda por seguro-desemprego no Amazonas interrompeu uma série de três altas seguidas para tombar em abril. Depois de encostar, em março (7.110), na marca atingida na primeira onda de Covid-19, o número de requisições desabou 11,95% e chegou a 6.260, no mês passado. A comparação com o registro do mesmo período de 2021 (6.276) –quando o Estado ainda começava a emergir dos impactos da segunda onda –sinalizou para um virtual empate, mas com viés de queda (-0,25%). Os números foram extraídos da base de dados do Ministério do Trabalho e Previdência.

A redução ocorreu em todos os setores econômicos do Amazonas, indicando um possível soluço no mercado de trabalho local, a ser confirmado ou não na próxima divulgação dos dados do Novo Caged –que foi adiada novamente, nesta segunda (30). O maior recuo proporcional se deu na construção (-21,72%), que totalizou 447 solicitações. Em mês de Páscoa e preparativos para o Dia das Mães, o comércio (-14,80% e 1.646) também teve queda na escala de dois dígitos, seguido de perto pela agropecuária (-14,63% e 70). Serviços (-9,40% e 2.303) e indústria (-9,53% e 1.794) vieram em seguida. 

O confronto com o dado de um ano atrás, contudo, confirmou diminuição na procura apenas para comércio (-1,05%) e construção (-10,96%). Em sintonia com as incertezas em torno da crise aberta na Zona Franca de Manaus pelos decretos do IPI, a indústria (+6,28%) obteve o maior incremento. Foi seguida pelos serviços (+1,14%), apesar de a atividade estar praticamente parada, um ano atrás. A agropecuária, por outro lado, pontuou estabilidade.

A procura local pelo seguro-desemprego foi mais forte na segunda quinzena de março (3.274) do que na primeira (2.986). Com isso, o Estado já acumula 26.188 solicitações nos quatro meses iniciais do ano, patamar ainda 12,65% superior ao registrado em igual intervalo do ano passado (23.247), a despeito da fraca base de comparação. Os valores pagos no Amazonas superaram os R$ 22,95 milhões, no mês passado, sendo que o valor médio das parcelas foi de R$ 1.493,78 –em um total de 15.366 parcelas pagas localmente. 

Em síntese, a demanda foi novamente predominante entre os trabalhadores do sexo masculino (63,26% do total e 3.960 registros), com 30 a 39 anos de idade (34,38% e 2.158), com ensino médio completo (77,03% e 4.835), e que ganhavam entre um salário mínimo e um salário mínimo e meio (47,29% e 2.968). Mas, conseguir efetivamente o benefício ficou mais difícil no mês passado, e a taxa de habilitação caiu para 82,9%.

Recuperação e incertezas

Na análise da conselheira do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), ex-vice-presidente da entidade, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, a queda na demanda por seguro-desemprego no Amazonas ocorre em sintonia com uma tentativa de reação da economia regional, após mais de dois anos de impactos da pandemia. A economista considera que, apesar dos entraves econômicos e da instabilidade política, as perspectivas de curto prazo são positivas para as contratações no Amazonas.

“Esses números refletem uma retomada gradativa da atividade econômica. Mas, a melhora nos setores de comércio e construção pode ser sazonal. O perfil dos beneficiados, por outro lado, enfatiza uma realidade do mercado local, com predominância de trabalhadores do sexo masculino e adultos jovens. Há inúmeras variáveis envolvidas, mas minha avaliação é que os dados mostram uma tendência positiva de curto prazo e penso que a situação seguirá neste patamar nos próximos meses”, avaliou.

O também conselheiro do Corecon-AM, professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Júnior, avalia que a queda experimentada na demanda de empregos local, no mês passado, pode ter relação com os projetos de implantação e diversificação aprovados recentemente no CAS (Conselho de Administração da Suframa) e no Codam (Conselho de Desenvolvimento do Estado) –antes do começo da crise do IPI. “Já temos uma pequena mostra do que pode ou não ser o segundo trimestre. Tivemos um pequeno aquecimento, mas ainda há muitas incertezas. Temos de ver como vão se comportar os números em maio e junho. O cenário atual é de juros e inflação elevados, além da insegurança jurídica criada pela questão do IPI”, ponderou.

Insumos e IPI

O vice-presidente da ABRH-AM (Associação Brasileira de Recursos Humanos – seção Amazonas), e gestor de Relações Trabalhistas, Francisco de Assis, já havia assinalado, em entrevista recente à reportagem do Jornal do Commercio, que, em condições normais, a aproximação do segundo semestre tende a reduzir os “processos demissionais”, em razão do aquecimento sazonal. No caso da indústria, entretanto, o dirigente ressalva que isso ainda depende da melhora nas cadeias globais de abastecimento –impactadas pelos lockdowns na China e a guerra na Ucrânia.

O dirigente aponta as incertezas quanto à crise do IPI –que já foi judicializada pelos atores políticos do Amazonas e contestada no STF (Supremo Tribunal Federal) pela AGU (Advocacia Geral da União) –como a variável de peso para determinar a dinâmica das contratações. Mas, avalia que o imbróglio tende a impactar mais os novos projetos, do que as empresas já instaladas no PIM, que devem manter o planejamento de produção e vendas –pelo menos no curto prazo.

Sazonalidade e incertezas

Entrevistas recentes de lideranças de entidades classistas à reportagem do Jornal do Commercio também apontam o peso da sazonalidade na dinâmica das contratações e demissões no mercado de trabalho amazonense –e o consequente fluxo de demanda pelo seguro-desemprego. O presidente do Cieam, Wilson Périco, lembrou que há, por exemplo, uma queda nas vendas de aparelhos de ar-condicionado no começo do ano, levando as indústrias a fazerem ajustes. Mas, destacou que a chegada do verão no Sul e Sudeste, no segundo semestre, promove efeito contrário. O dirigente expressou preocupação quanto a uma aguardada piora na crise de abastecimento, por conta do “fechamento na China”. 

O presidente da Faea, Muni Lourenço, ressaltou que a evolução dos empregos no setor primário local vem sofrendo os efeitos do “aumento muito forte” dos custos dos insumos para a produção. Principalmente no caso de fertilizantes e adubos, em virtude da guerra na Ucrânia. O dirigente citou ainda, a cheia mais rigorosa e também o encarecimento dos combustíveis, apontando que a situação da atividade nos próximos meses segue incerta.

Já o presidente da assembleia geral da ACA, Ataliba David Antonio Filho, reforçou que o principal motor das contratações do setor de serviços foi a melhora nas estatísticas da Covid-19 no Estado, impactando principalmente nos segmentos de eventos, e de bares e restaurantes. No caso do comércio, o impulso viria da aproximação de datas comemorativas e a chegada de novos grupos empresariais ao mercado de Manaus, embora o dirigente saliente que as mudanças no comportamento do consumidor, em razão das altas da inflação, dos juros e do endividamento, limitam o ticket médio.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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