Pesquisar
Close this search box.

Pesquisadores estudam potencial de árvore da várzea amazonica

Investigar o potencial de exploração sustentável do louro inamuí (Ocotea cymbarum), espécie de árvore da região amazônica, para obtenção de óleos essenciais em várzeas no médio Solimões, está entre os objetivos de um estudo apoiado pela Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas). A pesquisa, intitulada ‘Investigar o potencial de exploração sustentável de Ocotea cymbarum para a produção de óleos essenciais nas várzeas da Amazônia Central’, está sendo desenvolvida em áreas de várzea da RDSM (Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá), nos setores Jarauá, Horizonte e Mamirauá, sob a coordenação da bióloga, doutora Darlene Gris, do IDSM (Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá), que falou um pouco mais sobre o assunto ao Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio: Por que a sra. resolveu pesquisar especificamente o louro inamuí?

Darlene Gris: O louro inamuí é uma espécie muito conhecida nas áreas de várzea. Os ribeirinhos costumam comentar sobre a grande quantidade de óleos que existem nas árvores dessa espécie, além disso, a árvore já vem sendo estudada pelo nosso grupo de pesquisa em relação a aspectos como germinação das sementes e suas relações com a inundação. Outra questão que nos impulsionou foi o fato de outras espécies da família Lauraceae serem fontes de óleos importantes na indústria farmacêutica, como o linalol e o safrol.

JC: O que, de qualidades, possui o óleo dessa árvore?

DG: Algumas literaturas citam que dessa espécie pode ser extraído o óleo de sassafrás, o que possui grande destaque por ser fonte de safrol, uma substância amplamente utilizada pela indústria farmacêutica, especialmente no tratamento de artrite reumatóide, doenças respiratórias, dentre outras. Algumas pessoas citam que o óleo do tronco tem propriedades anti inflamatórias. Mas nossa pesquisa pretende também prospectar outros compostos que possam ser de interesse.

JC: Trata-se de mais uma espécie amazônica. Onde fica exatamente a região do seu habitat?

DG: A espécie se distribui por vários locais na Amazônia. De acordo com o Programa Reflora, ela ocorre em florestas de várzea, florestas de igapó e também em áreas de terra firme.

JC: Que outras árvores amazônicas também produzem óleos essenciais? Esses óleos já estão sendo explorados de alguma forma?

DG: Existe uma gama de espécies de plantas amazônicas, de diferentes famílias, como a andiroba e a copaíba, que são utilizadas pela indústria farmacêutica e cosmética na composição de seus produtos.

JC: De onde se extrai o óleo do louro inamuí?

DG: Do tronco, por isso o nosso interesse em estudar a espécie e entender se as folhas ou frutos também são fontes desse óleo, de modo a tornar a sua obtenção menos agressiva, uma vez que a retirada de folhas e frutos (em quantidades controladas e sustentáveis) é menos invasiva que a perfuração (ou até o corte) do tronco.

JC: A madeira dessa árvore também é utilizada para construção de móveis e outros mas, na sua opinião, ela é mais valiosa em pé, devido ao óleo que produz?

DG: O manejo florestal sustentável é um aspecto bastante importante nas áreas de várzea, podendo ser uma importante alternativa econômica para as comunidades ribeirinhas, mas prospectar essas outras formas de obtenção de produtos não madeireiros também é muito importante, pois permite conhecer e explorar fontes de renda ‘menos agressivas’.

JC: Dê mais detalhes sobre sua pesquisa.

DG: Nossa pesquisa está sendo realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, na região do médio Solimões, em áreas de várzea. Nós realizamos inventários florestais nessas áreas, para quantificar e entender melhor como o louro inamuí se distribui nesses espaços. Estamos também acompanhando as fases fenológicas da espécie, ou seja, quando ocorre sua floração, frutificação e troca de folhas, para reconhecer quais os melhores momentos para coleta dos recursos. E por último, realizamos coletas de folhas, casca e frutos da árvore, que serão analisadas quimicamente, para identificação e quantificação dos compostos presentes em seu óleo, e entendimento de quais partes da planta são mais vantajosas e menos invasivas para a obtenção do óleo essencial.

Box

Instituto Mamirauá

O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá é uma Organização Social fomentada e supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Criado em 1999, vem atuando ao longo dos anos no desenvolvimento de pesquisas científicas sobre a biodiversidade, manejo e conservação dos recursos naturais da Amazônia de forma participativa e sustentável.

Com sede em Tefé, suas ações são voltadas à criação e à consolidação de modelos de uso da biodiversidade para o desenvolvimento econômico e social de comunidades tradicionais. Entre seus principais territórios de atuação estão as Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, que juntas somam uma área protegida de quase 3,5 milhões de hectares e mais de 15 mil moradores.  

A equipe do Instituto Mamirauá é formada por profissionais e pesquisadores com expertise técnica e profundo conhecimento do território, da biodiversidade e das dinâmicas sociais, que trabalham em estreita colaboração com as populações locais.  

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar