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Os impactos psicológicos que a pandemia trouxe

Os impactos psicológicos que a pandemia trouxe

O ser humano nasceu para ser livre, por isso, o surgimento da pandemia em sua rápida jornada pelo planeta, obrigando as pessoas a ficarem dentro de suas moradas, pegou muita gente de surpresa. Num primeiro momento o medo de pegar a terrível covid-19 até acuou as pessoas, mas depois, com o passar dos dias, semanas, meses de confinamento as reações psicológicas adversas começaram a aparecer.

“A pandemia trouxe uma insegurança muito grande para as pessoas, isso gerou uma sensação de ameaça e, consequentemente, o surgimento do estresse. Com isso ficamos todos mais susceptíveis a desenvolver um transtorno psíquico. Dentre os principais, estão os transtornos de ansiedade, transtornos de estresse pós traumático e adaptativos, abuso de substâncias psicoativas e transtornos depressivos”, listou a psiquiatra Silvana Cristina Vasconcelos do Nascimento.

Silvana tem especialização em psiquiatria pelo Hospital Juliano Moreira, de Salvador. Atua na área há 19 anos e atualmente é a responsável técnica da clínica Pensare Saúde Mental, em Manaus.

“A primeira reação é a do medo de ser contaminado pelo vírus invisível que se aproxima. As dificuldades começam a surgir com a necessidade da redução e distanciamento do contato físico. Para nós latinos não é nada fácil deixar de se abraçar e de se tocar. A segunda fase da epidemia está relacionada com o confinamento compulsório, que exige uma forçada mudança de rotina. Nesta fase, são comuns as manifestações de desamparo, tédio e raiva pela perda da liberdade. A terceira fase está relacionada com as possíveis perdas econômicas e afetivas decorrentes da epidemia. As pessoas confinadas terão perdas econômicas importantes”, completou o professor titular e chefe do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, psiquiatra Jair de Jesus Mari.

Aumento da violência doméstica

E os transtornos psicológicos adquiridos nesse período de pandemia, podem não ter mais cura. Tais transtornos, na sua maioria, têm apenas controle.

“Podemos atribuir isso aos múltiplos fatores desencadeantes, desde predisposição genética, fatores sociais, ambientais e subjetivos do próprio indivíduo”, acrescentou Silvana.

Também ânimos se acirraram com o isolamento: pais com filhos, marido e mulher, neste caso, inclusive, com o aumento do feminicídio no mundo todo.

Diversos países registraram tal aumento, como é o caso de Alemanha, Canadá, França, Reino Unido, China, Estados Unidos, Singapura e Chipre. No Brasil, os índices já eram bastante acentuados antes da pandemia: de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, a cada dois minutos uma mulher realiza registro policial por violência doméstica no país, ou seja, com a pandemia as mulheres se viram duplamente ameaçadas: por um vírus potencialmente letal e por pessoas violentas de seu próprio convívio doméstico.

“Entre os fatores desse aumento da violência doméstica é que, na condição de isolamento social, fomos obrigados a perceber dificuldades que antes eram mascaradas pela ausência, horas fora de casa, sem convívio com familiares, cônjuges, filhos. A quarentena nos obrigou a parar e sair de várias zonas de conforto. O consumo de álcool e outras substâncias psicoativas também aumentou muito, culminando com a violência doméstica”, disse Silvana.

Um legado positivo

Teve gente que surtou, teve gente que se resignou. E você, como se viu, ou está se vendo, agora que a pandemia começa a passar, em Manaus?

“Acho difícil que alguém tenha passado por esse período sem nenhum tipo de reação, mas óbvio que existem aqueles que possuem uma capacidade adaptativa maior. A estabilidade emocional vem da resiliência, da capacidade de observar os pontos positivos de um momento de crise, dos cuidados com as informações que eu dou ao meu cérebro. Autocuidado, momentos de relaxamento, atividade física, evitar excesso de informações negativas, tentar manter uma rotina diária de atividades, são algumas das estratégias que podemos usar para manter o equilíbrio emocional”, ensinou.

Para a psiquiatra, homens e mulheres sentiram essas mudanças da mesma forma. As pessoas com menor capacidade adaptativa e com mais dificuldades em lidar com contrariedades e frustrações estão mais vulneráveis, independente do gênero.

“Ainda não sabemos ao certo como será o novo ‘normal’, mas acredito que vamos conseguir nos adaptar. O ser humano tem uma capacidade adaptativa enorme, e a pandemia nos deixará um legado positivo também. Por conta dela surgiram outras formas de trabalho, de relacionamentos, demos um salto tecnológico, as pessoas precisaram se reinventar. O medo é um detalhe importante, mas não deve ser o foco principal”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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