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Olhar sobre o Chafariz das Quimeras

Em outubro de 2020 o Jornal do Commercio publicou a matéria ‘Sob a proteção das quimeras’, contando um pouco da história do Chafariz das Quimeras. Inaugurado em 1913, na praça 15 de Novembro, próximo a atual rua Visconde de Mauá, o belo elemento arquitetônico foi transportado para outros locais, na cidade, até finalmente ser posicionado, em 2009, no Parque Senador Jefferson Peres, onde permanece até hoje. A história chamou a atenção da arquiteta e urbanista Márcia Honda, que resolveu elaborar o projeto ‘Percursos e percalços de uma fonte do centro histórico de Manaus-AM’ e participar do edital Prêmio Zezinho Corrêa, promovido pela ManausCult. O projeto foi contemplado e agora Márcia Honda o disponibiliza para o público através do minicurso ‘Conhecendo um projeto de restauro’, publicado no YouTube, feito em contrapartida por ter desenvolvido o projeto sobre a fonte.

“O principal benefício para quem assistir ao minicurso será a informação: saber a origem, a trajetória e a composição desse exemplar remanescente do período áureo do ciclo da borracha que, em nome do progresso defendido por alguns administradores locais, ficou a deambular pela cidade, desmantelando-se, até, finalmente, reunir seus resquícios em um logradouro completamente distinto de sua implantação original”, falou.

“Esperamos que as pessoas reflitam sobre a importância de preservarmos nossos referenciais históricos e sobre os limites, por vezes, necessários a intervenções modernizadoras, evitando novas perdas a esse expressivo conjunto escultórico de Manaus”, completou.

Rico acervo arquitetônico

Além das informações conseguidas com a matéria no JC, Márcia fez pesquisas na internet e descobriu mais sobre o Chafariz das Quimeras, como um dos catálogos da fundição francesa Val D’Osne, de onde a fonte foi encomendada. Localizou, ainda, nesse álbum, algumas das peças utilizadas. Também ficou sabendo de alguns lugares, no Brasil e em outros países, onde exemplares das quimeras, fabricados por essa empresa, podem ser encontrados. Quando Márcia visitou a fonte, observou atentamente seus detalhes e notou, no pedestal do bebedouro que compõe o conjunto, nova confirmação de quem encomendou o artefato e o ano de fabricação.

“As letras em relevo estavam quase que imperceptíveis, devido ao estado de conservação da peça, mas, com o auxílio das informações levantadas durante a pesquisa, ficou inequívoca a compreensão”, lembrou.

De acordo com a arquiteta e urbanista, Manaus possui um rico acervo arquitetônico, remanescente do período da borracha, a maioria seguindo o repertório eclético, em que várias influências estilísticas figuram na mesma construção, bem adequado ao cosmopolitismo aqui vivenciado, mesclando culturas de várias procedências.

“Desde os modelos mais simples, aos mais rebuscados, representam uma fase importante de nossa história e não deixam a desejar a nenhuma outra cidade que mantenha exemplares daquele período”, afirmou.

O minicurso ‘Manáos: saudades do que não vivi’, disponível no YouTube é voltado, principalmente, para profissionais do segmento do patrimônio cultural: arquitetos, urbanistas, engenheiros civis, antropólogos, historiadores, entre outros, mas é excelente informação histórica para a população em geral. Essa é uma contrapartida pelo resultado do projeto realizado.

O monumento andou por muitos lugares ate parar em 2009 no Parque Senador Jefferson Peres

“Visa esclarecer sobre a peculiaridade de um projeto de restauro e sua importância para a preservação do patrimônio histórico edificado, motivo pelo qual demanda tratamento específico e cuidadoso, visando garantir a manutenção de seu valor cultural para as gerações vindouras. São abordadas, conceitualmente e através de exemplos reais, as principais etapas de um projeto de restauro, a saber: levantamento cadastral, mapeamento de danos, diagnóstico do estado de conservação e terapias”, informou.

O que não vi

Pesquisar é um dos meus maiores hobbies de Márcia, tanto que ela possui o Instagram @manaos.saudades, criados para compartilhar aspectos antigos de Manaus, desde sua fundação, até a década de 1960.

“Estabeleci esse limite temporal, pois nasci na década de 1970 e minha intenção é abordar sobre o que não vi, sobre o que não vivi, mas que, inexplicavelmente, desperta-me saudades. Será nesse perfil, também, que, doravante, anunciarei minhas futuras produções, inclusive palestras virtuais”, avisou.

Além da arquiteta e urbanista, Márcia tem sua opinião sobre o descaso das pessoas e autoridades, hoje, pelos monumentos históricos de Manaus.

“Destruir ou descaracterizar nossos bens patrimoniais é um crime, um atentado contra nossa memória, contra nossa história. Tais referenciais ligam-nos com o passado, permitem-nos compreender como era a sociedade da época a que pertenceram, com seus hábitos, costumes e saberes, e ainda possibilitam entendermos nossa situação atual e projetarmos o nosso futuro. Afinal, o hoje, amanhã também será passado. Se continuarmos com práticas destrutivas, que legado deixaremos? Nossa trajetória será apagada”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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