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Mercado de trabalho no AM é mais jovem, pouco instruído e masculino

O mercado de trabalho do Amazonas está mais jovem, pouco instruído e masculino. Os dados mais recentes do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) confirmam que, ao final de 2020, o saldo de vagas para quem tinha até 39 anos – e especialmente entre 18 e 24 anos – aumentou, enquanto o inverso ocorreu para os trabalhadores mais velhos. O ensino médio foi praticamente o único grau de instrução com mais admissões que desligamentos. As oportunidades também foram maiores para os homens, que conseguiram mais que o dobro das vagas ocupadas por mulheres.  

O ano se encerrou com um saldo positivo de 10.205 postos de trabalho no Amazonas, graças ao predomínio das contratações (156.990) sobre as demissões (146.785), o que resultou em um estoque de 424.431 empregos. Ano de pandemia, com ensaio de depressão econômica, 2020 teve desempenho pior do que o registrado em 2019 (11.129), mas saiu-se bem melhor do que 2018 (6.569). 

Em torno de 70,80% das vagas celetistas foram preenchidas pelos homens (7.225), em detrimento das 29,20% mulheres (2.980) que conseguiram o mesmo feito. Vale notar que o Estado seguiu na contramão da média nacional, que apontou, no mesmo período, uma extinção de 68.948 empregos com carteira assinada para os trabalhadores do sexo masculino e um saldo positivo de 1.048 postos de trabalho formais para as trabalhadoras do gênero feminino.

Marcado pelo começo da escalada local da segunda onda de covid-19, dezembro apresentou o primeiro saldo negativo de empregos formais no Amazonas (-1.250), após cinco meses de crescimentos seguidos. A antessala da atual crise foi mais democrática nos desligamentos. Diferente do ocorrido no acumulado, os números de extinções de vagas praticamente se igualaram entre os trabalhadores dos gêneros masculino (-638) e feminino (-612).

Jovens e estudantes

A faixa etária que mais contribuiu para o ingresso de novos trabalhadores locais foi a que vai dos 18 aos 24 anos, onde a diferença entre admitidos e demitidos (+11.564 ocupações) superou o saldo médio do Estado. Em seguida, vieram os que tinham 25 e 29 anos (+2.579), até 17 anos (+1.883) e entre 30 e 39 anos (+55). Trabalhadores com 50 a 64 anos (-3.281) figuraram no outro extremo do ranking, seguidos por quem tinha entre 40 e 49 anos (-2.039) e os que já haviam passado dos 65 anos (-556).

Em dezembro, a única que conseguiu avançar no mercado de trabalho do Amazonas foi a dos trabalhadores com até 17 anos (+33). Na outra ponta, amazonenses entre 30 e 39 anos (-423) encabeçaram os cortes, sendo seguidos por seus colegas das faixas etárias de 50 a 64 anos (-263), entre 25 e 29 anos (-223), de 18 a 24 anos (-178), entre 40 e 49 anos (-153) e 65 anos ou mais (-43).

Quando se leva em conta o corte por graus de instrução, 97,26% do saldo positivo de ocupações com carteira assinada veio dos trabalhadores com ensino médio (+12.219 empregos) – e novamente com um número acima da média do Amazonas, no período. O ensino superior completo compareceu em uma distante segunda posição (+324), seguido pelos analfabetos (+20). Em contraste, fundamental completo (-983), médio incompleto (-663), fundamental incompleto (-624) e superior incompleto (-88) amargaram cortes de postos de trabalho. 

Apenas trabalhadores com ensino superior incompleto (+27) alcançaram saldo positivo, no último mês de 2020. Em contrapartida, os que tinham ensino médio completo (-416 postos de trabalho), ensino médio incompleto (-234), superior completo (-229), fundamental completo (-222), fundamental incompleto (-155) ou eram analfabetos (-21) foram levados pela enxurrada de destruição de empregos registrada no Estado, no período. 

Indústria e comércio

Os setores econômicos que mais geraram postos de trabalho com carteira assinada no Amazonas, no acumulado dos 12 meses de 2020, foram indústria (+4.738 ocupações), comércio (+3.106) e serviços (+1.866) e construção (674). Apenas a agropecuária amargou eliminação de vagas (-189). Vale notar que, entre diversos segmentos de serviços atuantes no Estado, os melhores resultados vieram justamente da atividade de locação de mão de obra temporária (+2.490). 

A situação se inverteu, em dezembro. Dos cinco setores econômicos listados pelo Novo Caged, apenas comércio (+214) registrou saldo positivo de vagas celetistas, na passagem de novembro para dezembro. Na outra ponta, serviços (-624), liderou a onda de enxugamento de empregos – especialmente a atividade de educação (-468). Agropecuária (-294), indústria (-277) e construção (-269) compareceram nas colocações seguintes.

Automatização e terceirização

O diretor da ABRH-AM (Associação Brasileira de Recursos Humanos – Seção Amazonas), Francisco de Assis Mendes, lembra que as empresas – especialmente as de capital aberto e com atuação global – vêm implementando políticas de aumento do contingente feminino em seus quadros, como medida de diversidade, mas ressalta também que algumas atividades, por serem mais pesadas, ainda acabam se mantendo como redutos predominantemente masculinos. 

O fato de a indústria puxar a geração de empregos no Amazonas também ajudaria nesse desnível, já que segmentos como o da metalurgia e seus fornecedores ainda são majoritariamente masculinos e empregam muita mão de obra. Em contraste, o polo eletroeletrônico, que costuma empregar mais mulheres, está limando mão de obra, em virtude da automatização e da transferência de operações para matrizes em São Paulo. “Pelo mesmo motivo, houve corte maior de empregos para homens, em todo o país: a indústria automobilística, que é uma grande empregadora, encolheu em 2020”, acrescentou.

Na análise do diretor da ABRH-AM, comércio e serviços devem continuar priorizando mão de obra de “início de carreira” e com faixas salariais e formações educacionais mais baixas. Ambos os setores, conforme Francisco de Assis Mendes, devem se manter mediante oscilações de mercado e datas sazonais, optando pela oferta de vagas temporárias e terceirizadas, dificultando a absorção de ex-trabalhadores do Distrito Industrial – que costumam ir para o empreendedorismo ou o mercado informal.

“No caso da indústria, a tendência para 2021 são contrações para o chão de fábrica, onde é predominante o perfil de idade mais jovem e de formação com ensino médio, pois se trata de atividade mais operacional. Em relação à admissão de homens e mulheres, há uma tendência de equilíbrio. Outro ponto importante é que, em função da pandemia e das incertezas econômicas, há uma tendência de contratações no modelo de mão de obra temporária e de terceirização de atividades, que não são do core business”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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