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Manta e São Paulo

No último dia do mês de abril, foi feita a inauguração do vôo ligando Guaiaquil a Manaus. A responsável pela rota é a empresa equatoriana Tame, uma estatal daquele país. O evento, realizado no Hotel Tropical, contou com a presença de dois Ministros de Estado do Equador, além do presidente da empresa e autoridades locais.
A intenção do estabelecimento desta rota, inicialmente com dois vôos semanais, é promover uma maior integração com o país próximo, embora não faça divisa direta com o Brasil. Mas, há uma outra razão maior: estabelecer uma rota de mercadorias com o pacífico. Um sistema multi-modal que usaria o rio até onde a navegação permitisse e depois por terra até o porto de Manta. O resultado disso seria aproximar mais, ou diminuir a distância e o tempo de mercadorias vindas principalmente de Ásia. A formação deste corredor visa diminuir custos e agilizar a vinda de mercadorias.
Claro que entre Equador e Brasil existe um terceiro país interessado, o Peru, por cujo território estas mercadorias teriam de transitar. É um projeto audacioso que, se levado a cabo, irá promover uma integração entre os países da América do Sul. A rota aérea, que não se preocupa com rios e cordilheiras, serviria a turistas e a empresários sem tempo para fazerem o longo trajeto multi-modal.
Sem querer diminuir os méritos deste audacioso projeto; sem querer minimizar o Equador com suas quatro regiões definidas entre andina, amazônica, litorânea e das ilhas de Galápagos, por isso mesmo com atrativos turísticos que falam por si; sem querer desviar a atenção do universo de consumidores e fornecedores que com isso se aproximam do pólo industrial de Manaus; conudo, não devemos esquecer um velho projeto que poderia aproximar o Brasil do Brasil: O prolongamento da Transamazônica. Uma coisa não impede outra. Muito pelo contrário: a complementa.
A Transamazônica, herança de governos militares como a própria lei que criou a Zona Franca de Manaus, visava integrar os povos brasileiros. Iniciada em 1972 nunca foi terminada. Aliás, a parte “terminada” oferece más condições de trafegabilidade como quase todas as estradas brasileiras.
Mas, esqueçamos os problemas técnicos de varejo. A ligação com Santarém e depois Cuiabá, encurtaria a distância em 800 km o trajeto atual desde São Paulo, que passa por Porto Velho. Bastaria para isso que se completasse o trecho que vai de Santarém a Itaituba e de Itaituba a Maués. O trajeto por água seria feito de Maués até Itacoatiara. Novamente viria por estrada até Manaus.
O veículo que hoje passa quatro dias e quatro noites em cima de uma balsa de Porto Velho a Manaus, ou sete se o trajeto é feito por Belém, ficaria apenas 15 horas entre Maués e Itacoatiara, poupando a paciência dos motoristas e agilizando o vai-e-vem das mercadorias.
Dizia um diretor de uma fábrica no Pólo Industrial de Manaus: “Nossa preocupação com os 170 milhões de consumidores brasileiros é menor do que os 6 bilhões de consumidores no mundo.” Sem dúvida que não devemos dificultar a integração com todos os povos. Mas a história nos ensina que para conquistar o mundo devemos ter nossa casa arrumada.
A ligação inter oceanos é um sonho antigo. O canal do Panamá consumiu bilhões de dólares em valores de hoje. Consumiu milhares de vidas, caras em qualquer tempo, para que fosse construído.
Sonhar sempre foi permitido. Muitos e muitos grandes projetos, como a Ponte sobre o Rio Negro, surgiram assim. Se o sonho da Transamazônica foi concebido para dar suporte à Zona Franca de Manaus, por que não retomá-lo?

LUIZ LAUSCHNER é escritor e empresário, é membro do conselho nacional da Abrasel.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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