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‘Manaus é pioneira na carbonização do lixo’ diz Michel Ribeiro

Reunindo oito empresas especializadas no tratamento de resíduos, a Amec saiu na frente no processo de carbonização do lixo que gera energia limpa, sem nenhum dano ao meio ambiente. Algo que poderia ser uma solução para o aterro sanitário de Manaus cuja vida útil tem menos de dois anos, ressalta o empresário Michel Ribeiro, diretor-presidente do grupo empresarial.

Com sede no Amazonas, a Amec é pioneira nessa nova tecnologia no Brasil, hoje largamente utilizada em países do primeiro mundo. Japão, Europa e Estados Unidos já tratam os rejeitos com praticamente zero de impactos ambientais, possibilitando o reuso do que é descartado diariamente pela população e pelos mais diversos segmentos de atividade econômicas.

Por enquanto, a reciclagem dos rejeitos pela carbonização só existe no Amazonas, fato que gerou críticas e questionamentos do Sul-Sudeste do país sobre a escolha do Estado para a instalação da primeira usina com um know how tão avançado, diz Michel.

Segundo ele, no início de outubro o grupo inaugurou a nova usina que carboniza todo e qualquer tipo de resíduos. E deu demonstrações de como é operacionalizado o novo processo para uma plateia formada por lideranças empresariais, secretários e muitas expertises do segmento. “Tudo é automatizado e muito eficiente. Nenhum gás chega à atmosfera. Nossas chaminés estão lacradas o tempo todo”, acrescenta Michel Ribeiro.

O empresário disse que todo o maquinário foi importado da China. E tem capacidade para processar de 5 mil a 8 mil toneladas/mês de resíduos, transformando em carvão natural que pode gerar energia para as indústrias.

Ele afirma que fábricas do Distrito Industrial já compram briquetes de carvão oriundo da carbonização do lixo para movimentar suas linhas de produção, um nicho que se expande por ter até 100% de sustentabilidade. E acontece de forma natural e sem riscos para a natureza.    

“Reaproveitamos pelo menos 60% dos resíduos descartados em Manaus, gerando novas oportunidades de renda para a população. É o lixo que vem dos restos de comida, dos lixões das feiras, das indústrias. Nada se perde. Tudo isso volta em novas proteínas para as prateleiras dos supermercados”, afirma o empresário.

Em parceria com a prefeitura de Manaus, o grupo Amec também participa da campanha que vai apontar a árvore mais bela da cidade, uma iniciativa para incentivar estudantes das escolas municipais e estaduais a incorporarem mais a importância da preservação do meio ambiente.

O resultado do concurso deve ser divulgado em 22 de dezembro. E vai premiar com R$ 5 mil o vencedor, um recurso patrocinado pela própria Amec.

Michel Ribeiro deu uma entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – Como surgiu a Amec e há quanto tempo a empresa atua no Amazonas?

Michel Ribeiro – Nossa empresa está no mercado há 15 anos tratando resíduos de Manaus de uma forma diferenciada. Somos o primeiro do Brasil a reciclar o lixo orgânico pela carbonização, aquele que vem nos restos de prato, oriundos de feiras. O reaproveitamento é feito pelo processo térmico.

E transformamos em proteínas que voltarão para as prateleiras dos supermercados. Já fazemos isso em uma fazenda de nossa propriedade. Produzimos ração para animais. Foi um recurso que lançamos mão pra suprir as necessidades da agropecuária.

Manaus está muito distante dos grandes centros produtores de insumos que se originam dos plantios de milho e soja. Então, é muito difícil ter criação na cidade. Temos hoje, em média, 5 mil animais em nossa fazenda.

Agora, demos um início a um novo processo de reciclagem com a tecnologia da carbonização de resíduos. Antes fazíamos a incineração que é muito danosa – é como jogar uma bomba no ambiente.

Somos a primeira empresa a reciclar o lixo hospitalar. Mas não reaproveitamos todos os resíduos. E já atendemos a uma grande rede de clientes na capital que se utilizam desses serviços.

A Amec foi uma empresa criada pra reciclagem, com uma atuação muito forte no Distrito Industrial. O nosso foco é reciclar, reaproveitar, trazer isso como matéria-prima para as indústrias de um modo geral

Agora, sentimos a necessidade de buscar o lixo zero. Se reciclamos só um índice que varia de 70% a 80%, há sempre uma demanda que acaba indo pros aterros. Manaus nos preocupa porque o nosso aterro sanitário tem dias contados – uma vida útil menor que dois anos.

Resolvemos investir numa tecnologia que é a carbonização do lixo, gerando energia elétrica, movimentando as fábricas com vapor que resulta desse novo processo tecnológico.

A carbonização tem inúmeras finalidades, não só gerar energia elétrica. Se Deus quiser, até o próximo ano vamos estar gerando energia livre para muitos clientes. Somos pioneiros no Brasil nesse novo processo.

JC – Em geral, quando se fala em carbonização tem-se uma outra interpretação, algo como queima. Na realidade, como opera essa nova tecnologia?

MR –  Tem uma diferença bem grande. A queima é a incineração, muito danosa ao meio ambiente. A carbonização nada mais é do que o processo de desidratação dos resíduos. Com o calor térmico, ela desidrata o rejeito até a formação de carvão.

Na natureza, toda matéria que tem vida tende a se transformar em carvão, depois vem a cinza.  Não tem clima, não tem fogo. É um processo de transformação bem natural.

JC – E de que forma, após a geração do extrato, isso tudo vai se transformar em energia?

MR – Dividimos o nosso equipamento em duas partes. Os maquinários estão chegando da China. Com a fabricação do carvão, isso vai gerar uma caldeira que vai gerar um vapor, que vai rodar um motor e esse  motor vai rodar uma turbina que possibilitará a geração de energia.

É a maneira como vamos gerar energia. Hoje, nós estamos vendendo briquetes de carvão a fábricas do Distrito Industrial  para gerar energia. Existem empresas que vendem vapor pra algumas fábricas. Já estamos gerando energia de uma outra forma. E logo logo, se Deus quiser, vamos estar jogando energia elétrica na rede

JC – Com essa nova tecnologia, qual o ganho para o meio ambiente?

MR – O ganho é gigante. A nossa usina não gera nenhum tipo de gás. Todos os  gases são tratados dentro da própria usina e reaproveitados. Nada é jogado na atmosfera. Os gases são tratados por um processo de condensação. Nossas chaminés são totalmente lacradas. Para o meio ambiente é a melhor coisa, uma maravilha.

Ao contrário, as incineradoras jogam uma bomba na atmosfera que não é pequena. Dois anos atrás eu era uma dessas empresas que incineravam lixo hospitalar, resíduo urbano. E nós resolvemos investir numa tecnologia que não tivesse esses impactos.

Países de primeiro mundo usam essas atividades, é um procedimento normal no Japão, Europa, Estados Unidos. E a gente trouxe isso para o Brasil, primeiramente para o Amazonas.

JC – Como funcionam as operações, as empresas contratam o serviço para  o  destino correto dos resíduos….?

MR – Hoje, o grupo Amec faz o serviço completo. Desde a coleta até o destino final. Batemos muito forte na reciclagem que tem um custo benefício bem melhor. Nossos clientes são shoppings, hospitais, condomínios, indústrias.

Fazemos a carbonização dos materiais. Seja ele oleoso, pastoso, sólido, hoje a usina está preparada para tratar qualquer tipo de resíduo e transformar tudo em carvão.

JC – Todo e qualquer resíduo serve para esse processo….?

MR – Todos eles, o lixo hospitalar, o lixo de varrição do Distrito, plásticos principalmente, aquele rejeito contaminado de restaurantes, shoppings, podem ser carbonizados. Nossos equipamentos estão preparados para pegar diferentes níveis de umidade – existe um tipo para cada caso. Os maçaricos entram em ação de acordo com as necessidades.

JC – O aterro sanitário tem prazo para vencer. Lá, também poderia ser usada essa tecnologia de carbonização…?

MR – Pode. Todo mundo que trabalha com resíduos tem essa preocupação. A prefeitura está fazendo um belo trabalho de reciclagem. E apoiamos isso. É a primeira vez que vejo uma prefeitura preocupada em reciclar.

Acho que nosso aterro tem menos de dois anos de vida útil. É muito pouco tempo. A finalidade desse  novo equipamento é o lixo urbano, o lixo residencial. Buscamos um lixo oriundo mais da iniciativa privada, das empresas, de shoppings, para fazer o serviço.

É um novo equipamento que poderia atender a cidade de Manaus e resolver dois problemas – a parte de lixo e a parte de geração de energia. A Região Norte tem hoje uma das energias mais caras do Brasil.

Quase  toda essa energia era gerada em 100%  por diesel fornecido pelo governo federal. Hoje, já temos o gás natural gerando eletricidade no interior. Resolveria muito os problemas, as cidades têm muito lixo aberto.

JC –Percebe-se  que a Amec prioriza o verde e a valorização da raiz ambiental. E dissemina ainda esses cuidados junto aos estudantes. Como está a campanha das árvores junto à classe estudantil?

MR – Em comemoração ao aniversário da Amec no ano que vem, resolvemos participar junto com a Semulsp do projeto sobre a árvore mais bela de Manaus.

Acreditamos que para mudar nossa cidade, o nosso País, temos que ir na origem, nos estudantes, nas escolas. Acho que até deveria ter uma matéria de meio ambiente. É fundamental.

Preocupado com isso, o grupo Amec vai participar desse grande evento, vamos dar uma premiação de 5 mil reais para a árvore mais bela. É uma campanha pra incentivar o plantio de árvores. Em 2022, a Amec também vai plantar 20 mil mudas de árvores pra embelezar a nossa cidade de Manaus.

JC – Realizado junto com outras instituições, esse movimento lembra que existem as parcerias. Ninguém pode fazer as coisas sozinho….

MR – A Semulsp está do nosso lado, tenho 20 anos de empresa e são 20 anos ao lado da secretaria. Vemos um trabalho diferenciado nas praças, nas empresas públicas.

Pela primeira vez, a gente conseguiu reciclar o lixo dos igarapés, fizemos até uma passeata. Conseguimos reciclar 100% das garrafas PET que estavam debaixo das palafitas nos igarapés. E levar todo esse material que iria pros lixões pra dentro da indústria. 

Esse é o foco. Estamos sendo apoiados por cooperativas,instituições menores. Conscientizando a população que nosso lixo pode ser reaproveitado. Manaus hoje tem o pior índice de reciclagem do Brasil. Comparando ao Sul e Sudeste, estamos bem atrás. A classe política tem que pensar numa alternativa pra Manaus, se não vai virar um caos.

JC – Como os estudantes podem se inscrever para participar do concurso?

MR – O principal item é ser um estudante. Isso vai entrar na parte de avaliação quando  for feita a escolha da árvore mais bela. É muito simples. É só entrar no Instagram, toda criança tem hoje um Instagram.

E seguir a Semulsp e o grupo Amec.E postar asterisco (*) árvore mais bela. Tanto no Instagram da Semulps como da Amec. E ele vai estar participando. Já temos uma comissão que vai estar avaliando a árvore mais bela.

E quem  vencer vai ganhar um prêmio de 5 mil reais patrocinado pela Amec. E como Manaus tem árvores muito belas, vai ser difícil o concurso.

JC – Foi uma boa sacada essa questão das árvores….

MR – Realmente. Lançamos o concurso na semana passada e já estamos recebendo bastante fotos, é uma mais bela que a outra. É difícil a gente definir qual será a mais bela…

JC – Temos como saber a quantidade de toneladas que entra e a quantidade que sai da carbonização do lixo?

MR – O sistema tem capacidade para processar  de 5 mil a 8 mil toneladas/mês. São processadas de 5 a  8 toneladas/hora. A perda chega a 40%. Mas 60% dos resíduos  são reaproveitados, gerando carvão.

JC -Que tipo de atividades desenvolve o grupo Amec?

MR – Tínhamos oito empresas. Então, sentimos a necessidade de formar um grupo. Hoje, compramos resíduos dos condomínios, fazemos varrição e limpeza, gerando renda para pagamento de água, luz e salários do pessoal de portaria.

Portanto, conseguimos gerar renda reciclando os resíduos. Temos a parte de transporte, da conservação e limpeza, da criação de animais. E uma fazenda no Km 8 da BR-174, onde exploramos essas atividades.

Conseguimos reaproveitar os resíduos que voltam como novas proteínas para o mercado consumidor. Fazemos tratamentos de água oleosa, muitos condomínios jogam óleo vegetal nas tubulações das pias. E é um material que pode ser reaproveitado em 100%. Recentemente, li uma reportagem que um avião voou de São Paulo  para Europa com óleo vegetal, um avião da Air France.

Fazemos uma campanha pra reaproveitar esse óleo e transformar em renda. Transformamos esse óleo em combustíveis pra outros segmentos.

JC – Com toda essa expertise, o grupo Amec já tem outras metas….?

MR – Sim. O grupo mira agora os processos finais. Por exemplo, transformar os plásticos das residências pra voltar às casas. Fomos a primeira empresa do  Norte a fazer a reciclagem do vidro.

Infelizmente, o vidro está indo pra uma empresa no Rio de Janeiro, onde tem siderúrgicas que transformam de novo em vidro.

Já estamos fazendo  o reaproveitamento de uma areia específica pra indústria de duas rodas que trabalha com peças de alumínio. A ideia é transformar o vidro em areia shell molding para as indústrias. Já estamos fazendo alguns testes.

Mas o grande objetivo do grupo é a destinação final de todos os tipos de resíduos. A empresa  bate muito forte na sustentabilidade.

JC – Como a empresa pode conscientizar a população para fazer a sua parte em relação aos resíduos, diminuindo os impactos nos rios e igarapés?

MR – A empresa se preocupa muito com a biodiversidade. Fico feliz em ter uma tecnologia que teve início em Manaus. Isso causou muita estranheza. Muitos nos procuraram para saber por que o Amazonas foi escolhido para instalar a primeira usina de carbonização do País.

Uns argumentavam que deveria ter sido no Sul, Sudeste. Mas é valioso para nós. Estamos no coração do mundo.

E diria para qualquer cidadão manauara que veja o  lixo de uma forma diferente. Porque ele é muito rico e pode gerar renda pra todos.

Temos rotas de coletas em todas as localidades de Manaus. Hoje 70% do custo de um produto é a embalagem. Então, a gente pode recuperar esses custos que a cada dia que passa estão  mais caros

O que pedimos é que a população tenha um olhar diferente para o lixo. Estamos recolhendo lixo em toda a cidade, inclusive no interior.

JC – Quando sairá o nome do vencedor da árvore mais bela?

MR – Está marcado para o dia 22 de dezembro. Mas temos ainda muito trabalho, fazendo treinamentos nas escolas com os estudantes….

Foto/Destaque: Divulgação

Marcelo Peres

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