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Lideranças questionam alta na Selic

Como previsto pelo mercado financeiro, e antecipado pelos comunicados do Banco Central, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu, por unanimidade, repetir a dose na alta da Selic, nesta quarta (8). A taxa foi elevada mais uma vez em 1,5 ponto percentual e foi a 9,25% ao ano – o maior valor desde setembro de 2017. Lideranças classistas e economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio apontam que, diante panorama de gradual engessamento da economia nacional, o remédio certo está vindo mais uma vez na hora e na dosagem errada.

A nova alta da Selic veio novamente na cola da escalada da inflação, que vem se mostrando resiliente ao encarecimento paulatino do custo do dinheiro. Esse foi o sétimo reajuste consecutivo na taxa Selic, depois de passar seis anos sem elevação. De março a junho, o Copom elevou a taxa em 0,75 p.p. em cada encontro. No início de agosto, o BC passou a aumentar os juros básicos em 1 ponto, a cada reunião. Na última, ocorrida na última semana de outubro, a elevação chegou a 1,25 p.p..

Em seu comunicado, o Banco Central sinalizou que um novo ajuste da mesma magnitude deverá ser feito na próxima reunião do Comitê, prevista para fevereiro de 2021. “O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados, para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”.

O Comitê diz entender que a decisão “reflete um cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual, para a inflação prospectiva, e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023”. E acrescenta que, “diante do aumento das projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista”.

O texto também pontua que o ambiente se tornou “menos favorável” no cenário externo, com bancos centrais de outros países expressando a necessidade de cautela frente à inflação – com impactos previsíveis nas economias emergentes – e as incertezas advindas do aparecimento da variante Ômicron. Em síntese,  BC admite que a atividade econômica brasileira mostra “evolução moderadamente abaixo da esperada”, mas reforça que “a inflação ao consumidor continua elevada” e que “a alta dos preços foi acima da esperada”.

“Tiro no pé”

O conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Junior, considerou que o Banco Central tomou uma “medida errada”, ao decidir repetir a dose de alta de juros da reunião anterior, quando o país passa pela “incerteza de uma terceira onda” e a economia já dá sinais de recessão técnica, com dois PIBs trimestrais negativos seguidos. O economista diz que espera que o BC não faça o mesmo, em fevereiro, apesar do indicativo em contrário.

“É uma medida desesperada da autoridade monetária para tentar baixar a inflação e a valorização do dólar. Desse jeito, vamos começar 2022 com inflação e juros ainda mais altos, além de desemprego elevado. Infelizmente”, lamentou. “Acredito que vamos caminhar para uma recessão. Não sei como a equipe econômica e, principalmente a equipe técnica do Copom, visualizam esse cenário. Aumentar ainda mais os juros, neste momento? Para mim, é um tiro no pé”, sentenciou.

Na mesma linha, o também conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), consultor empresarial e professor universitário, Leonardo Marcelo Braule Pinto, diz que a decisão do BC só aumenta a contração da base monetária brasileira, em meio a um cenário de empresas com mais capacidade ociosa e precisando de capital de giro. Para o economista, no curto prazo, “a roda da economia vai demorar mais para acontecer”, com estagnação de empregos e renda, aumento da inadimplência e quebra de empresas, com os prejuízos se concentrando principalmente nas micro e pequenas empresas, assim como entre os trabalhadores. No longo prazo, seria uma incógnita.

“A ideia era mantermos 8,25% de Selic até o final de 2022, mas já estamos em 9,25%. Ou seja, menos crédito. Eu precisaria fazer uma análise de conjuntura macroeconômica bastante exigente, para dizer com precisão quais são os planos do governo, para o médio e longo prazo. Não sei se é um combate a uma certa inflação já projetada. Não consigo analisar se vai ser bom ou ruim. Mas, podemos ver que o atual panorama econômico é péssimo”, desabafou. 

“Efeitos em cadeia” 

O presidente do Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Amazonas), Frank Souza, lembrou que a decisão do Copom já era esperada, mas observou que uma Selic maior significa menos negócios. “A cada meio percentual para cima na taxa, menos 500 mil moradias são construídas no Brasil, por ano. Quanto mais altos os juros, mais sobe o preço do financiamento para o incorporador e para o interessado em comprar imóvel. Precisaríamos estar com preços menos elevados de insumos e taxas de juros menores, para ter um mercado maior. Vejo com restrição esse reajuste. É um rumo de aumento com efeitos em toda a cadeia do setor”, lamentou.

O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, considerou que a medida foi inadequada para atual momento econômico. “Os últimos dois trimestres de retração do Produto Interno Bruto demonstram que a atividade econômica já se encontra em franco descenso. O acentuado aumento da taxa Selic, apesar de refrear o consumo e desacelerar a inflação, também eleva sobremaneira o custo do financiamento e desestimula a demanda, em um momento crítico para muitas indústrias, que ainda estão se recuperando dos efeitos nocivos impostos pela pandemia de covid-19”, frisou.

Em sintonia, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, destaca que, em um panorama de quebras de safras, por mudanças climáticas, além do aumento dos custos pelo dólar, o cenário desenhado pelo encarecimento do dinheiro tende a ser mais grave, mesmo para um setor que produz bens essenciais, como o agropecuário. “Para nosso setor, essa trajetória de alta na taxa Selic é preocupante, porque torna mais caro os financiamentos, e inibe os investimentos, bem como restringe o consumo. A economia brasileira e de muitos países sente ainda fortemente os impactos da pandemia, e isso se verifica dos índices inflacionários”, resumiu.

Já o presidente da assembleia geral da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Ataliba David Antonio Filho, ressaltou que a última reunião do Copom em 2021 “vai dar o que falar”, dados os seus efeitos de longo prazo. “A atitude do Banco Central não está visando só conter a inflação, mas leva em conta um horizonte maior, que deve se descortinar ao longo do próximo ano. A previsão é de um cenário de desdobramentos com o comportamento de inflação, juros e serviços de transportes de carga e de massa, o que vem influenciar diretamente os indicadores econômicos”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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