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Liberdade aos que voam

Boa parte da minha infância morei em apartamentos. Um deles fazia parte de um prédio de dezessete andares e minha família morava justamente no último andar. Para uma criança, o grande barato de morar em um apartamento localizado no último andar é que você pode ficar um pouco mais próximo dos pássaros.
Se você está em lugares altos é comum que tenha contato com os que voam. Foi exa­tamente o que aconteceu. Como era comum deixarmos as janelas abertas, em um determinado dia entrou no apartamento uma andorinha.
Como você deve ter acompanhado nas minhas histórias contadas nos artigos anteriores, deve saber que sempre tive a imaginação muito fértil. Quando aquele pássaro entrou por engano na­quele ambiente então tomei uma atitude enquanto ele estava sobre a mesa da sala. Fui bem devagar até a janela e fechei-a. Fui até a outra e fechei-a também. Na verdade fechei todas as possibilidades de fuga daquele ser que ao perceber que estava encurralado voou por todo o lugar tentando encontrar um lugar que pudesse fugir. A única chance seria a chegada de meus pais, porém só ia acontecer à noite.
Minha idéia era muito boa (porém horrível para o pássaro). Queria ficar com ele dentro do lar sem que ele precisasse ficar em uma gaiola e quando meus pais chegassem fazer uma grande surpresa (menino tem cada idéia…). Deixei água e algumas sementes bem visíveis para que ele pudesse se alimentar assim que tivesse vontade. Porém não parava de voar e sempre ia em direção as janelas fechadas.
Bem, como não poderia fazer andorinha se acostumar com a nova casa então fui fazer minhas tarefas da escola. Quando abri um livro, dei de cara com um poema muito sugestivo para aquele momento. O autor era Olavo Bilac e o tema era “Pássaro Cativo”. Aqueles momentos foram terríveis para mim.
Foram ruins porque me senti no lugar daquele pássaro. Diz um trecho: “Solta-me ao vento e ao sol. Com que direito à escravidão me obrigas?(…) Por que me prendes, solta-me, covarde”! Aquilo pesou na consciência. Deveria pesar em muita gente também.
Existem muitas pessoas que estão ao nosso redor que também voam bem alto com seus sonhos. Querem ir bem além com desejos de serem vitoriosos na vida sofrida que levam. São pessoas que têm o direito de voar, porque fomos feitos por Deus com o dom de sonhar e realizar. Antes de continuar olhe ou pense nos sonhadores que estão perto de você.
A questão aqui é que, assim como eu criei uma prisão para um pássaro, existem muitos por aí que fazem verdadeiros cativeiros para outros. “Você não pode fazer isso”. “Esqueça, não vai dar certo”. “Impossível”. “Que tal parar de sonhar e começar a trabalhar?”. Algumas palavras e atitudes também criam cativeiros. Em alguns casos começaram na infância com atitudes de extremo cuidado que impedem o indivíduo a desenvolver a sua capacidade de sonhar e realizar. Entenda uma coisa: não tenho o direito de impedir os grandes vôos dos que estão perto de mim, apenas porque não sei voar.
Nossa geração precisa de homens-pássaros, sonhadores sem limites, que não tenham vergonha de estar com os pés na terra e com a cabeça nas alturas. No início desta mensagem falei que quando se vive em lugares altos é comum encontrar-se com os que voam. Os cativeiros precisam acabar. Liberdade aos que voam.
Repare que nossas atitudes são influenciadas por aqueles que já tiveram determinadas experiências, sejam elas boas ou ruins. Se andar com sonhadores então aprenderá a sonhar também. Se conviver com realizadores, você se tornará um. O que peço a você, amigo leitor, que exerce liderança, permita vôos bem altos, estimule a criatividade e perceba que você também poderá se beneficiar destes momentos que poderão ser o divisor de águas de sua carreira, ministério ou até mesmo família.
Proponho mais ousadia. Seja você o que vai abrir as portas da gaiola e diga: “amigo, grandes realizações nascem de grandes sonhos”. Seja você aquele que estenda as mãos ou dê tapinha nas costas encorajando, motivando, ensinando. É isso aí. Vencedores sempre têm uma visão que é capaz de mudar o mundo de outras pessoas e a sua própria. Mais uma vez: liberdade aos que voam. Aqueles que voam têm por gaiola a imensidade, é o que diz o poema de Olavo de Bilac, em outras palavras –não conhece limites.
Foi por causa dessa leitura que minha atitude mudou em relação àquele pássaro. Diz o final do poema “Pássaro Cativo”: “… e sua mão tremendo abriria a porta da prisão”. Foi o que fiz. Abri todas as janelas do apartamento e fui correndo atrás da andorinha para que fosse voar bem alto longe daquele ambiente fechado. É melhor assim. Gaiolas abertas, sonhadores livres. Liberdade aos que voam. Que a mão de Deus te leve por lugares cada mais altos.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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