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Lacre e seu potencial antimicrobiano

Dezoito pesquisadores participam do projeto ‘Membranas poliméricas incorporadas com óleo essencial de Vismia spp: desenvolvimento, caracterização, propriedades antioxidantes e antimicrobianas’, coordenado pela doutora em química de produtos naturais, Dominique do Carmo, do campus da Ufam, de Itacoatiara. Colaboram com o estudo a Ufam, o CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia) e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Com apoio da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), o projeto pretende confirmar que o óleo essencial extraído das folhas da planta amazônica conhecida como lacre tem atividade antibacteriana e antioxidante contra bactérias, conforme explicou ao Jornal do Commercio a Dra. Dominique.

Jornal do Commercio: Lacre. Que planta é essa? 

Dominique Fernandes: As espécies Vismia cayennensis e Vismia guianensis são conhecidas popularmente como ‘lacre’. A V. guianensis também é conhecida como pau-de-lacre, árvore da febre, caapia e caopia. Ambas as espécies são encontradas na região Norte e Nordeste, além de Colômbia, Venezuela e Guiana. Este nome popular deve-se à presença de resina amarela avermelhada nas suas cascas e frutos. As duas espécies já foram estudadas anteriormente, porém a V. guianensis apresenta um maior número de estudos em relação ao seu perfil químico e com descoberta de constituintes biologicamente ativos. 

JC: É o óleo essencial do lacre que tem efeito fitoterápico para infecções e inflamações? 

DF: Até o momento não há relato na literatura sobre o efeito fitoterápico do óleo essencial das folhas ou caule das duas espécies. O uso popular está associado especialmente ao látex alaranjado que exsuda da quebra dos galhos, cascas, frutos e folhas, porém, como já foi comprovada a ação antimicrobiana e antifúngica das Vismias, para este projeto, se pensou investigar o perfil químico e a ação antimicrobiana dos óleos essenciais considerando seu grande potencial já comprovado.

JC: Por que escolheu pesquisar especificamente essa planta? 

DF: Foi considerando que o gênero Vismia apresenta reconhecidas fontes de compostos fenólicos, com amplo espectro de ação farmacológica devido a presença de metabólitos secundários, como flavonóides, flavonóis, xantonas, antraquinonas, benzofenonas, esteroides, monoterpenos e triterpenos, entretanto, ainda são escassos os estudos que mostrem os principais princípios bioativos presentes nos óleos essenciais capazes de controlar as infecções bacterianas e fúngicas, bem como são também escassos os estudos que avaliam seus efeitos in vivo, in silico e possíveis mecanismos de ação. Por este motivo, as duas espécies foram escolhidas para este estudo.

JC: Quantas plantas amazônicas conhecidas apresentam óleos essenciais? Todas estão sendo pesquisadas? 

DF: Todas as plantas produzem óleos essenciais, não apenas as aromáticas e medicinais, já que eles são fundamentais para sua sobrevivência e manutenção da espécie. Mas nem sempre esses óleos podem ser extraídos, ou porque são produzidos em quantidade muito pequena, ou porque existe alguma dificuldade de cultivo. Em relação aos estudos já realizados com óleos essenciais, pode-se inferir que nem todas estão sendo pesquisadas, uma vez que o Brasil possui aproximadamente 40 mil espécies vegetais conhecidas. Inúmeras dessas plantas são consideradas medicinais por povos originários e diversas comunidades tradicionais. No entanto, as listas oficiais de plantas medicinais possuem um número muito inferior ao já registrado por estudos científicos. Portanto, muitas espécies que produzem óleo essencial ainda não foram estudadas.

JC: O óleo do lacre já é utilizado pelo homem do interior, por indígenas, ou só agora seu efeito fitoterápico está sendo conhecido? 

DF: Poucos estudos são encontrados com óleo essencial de Vismia. O uso popular da espécie concentra-se no exsudato encontrado nas folhas, frutos, caule e cascas, portanto, o seu efeito fitoterápico ainda é pouco estudado.

JC: O que está faltando para esse óleo ser vendido como a andiroba, a copaíba, o pau rosa? 

DF: Mais estudos químicos e farmacológicos para comprovar sua ação farmacológica, baixa toxicidade, segurança e eficácia. 

JC: Que informações a senhora passaria para alguém que queira investir na produção e industrialização do óleo de lacre? 

DF: As amostras de óleo essencial de Vismia apresentam grande potencial químico, considerando que foram identificados monoterpenos de hidrocarboneto, monoterpenos oxigenados, sesquiterpenos de hidrocarbonetos e sesquiterpenos oxigenados, metabólitos com um largo espectro de atividades biológicas já comprovadas em outros estudos. Além da composição química, as amostras de óleo essencial de Vismia apresentaram um resultado preliminar promissor frente às cepas de bactérias e fungos, evidenciando seu potencial antimicrobiano. Estas amostras apresentam grandes possibilidades científicas, justificando a continuidade dos seus estudos.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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