Com a quadra do Natal, inevitáveis são as memórias dos festejos pretéritos de Noel. A nostalgia parece prevalecer diante das celebrações religiosas, da confraternização das famílias, com a ceia repleta de guloseimas típicas da ocasião. São rabanadas, tortas, muito tender e peito de peru, regado ao vinho e porque não aos refrigerantes gasosos e calóricos.Imagens das antigas reuniões de parentes vêm à mente.Pais,tios,tias, primos, sobrinhos e a angelical imagem da vovó. A avozinha querida de vestimenta e modos angelicais tinha sempre a fatia mais gostosa do bolo, o presente dado com mais carinho, o sorriso mais encantador. Era a vovozinha certamente o apelo especial a esse tipo de conclave.
Aquelas avozinhas saídas do protótipo da Dona Benta e quanta falta elas fazem.Sim porque de todas as figuras proeminentes das festas de fim de ano, são as avós que estão em extinção. Não que os casais cujas bodas ultrapassaram alguns preciosos minerais estão deixando de ter netos, ao contrário o homo sapiens nessas bandas da América Latina ainda tem gosto por reproduzir-se em substancial quantidade. Refiro-me precipuamente ao gradual desaparecimento da doce e imaculada figura da avó ( seja ela materna ou paterna) na condição amorosa e impecavelmente mãe duas vezes que o velho e saudoso Lobato soube descrever como ninguém.
Dias atrás em uma incursão pelos superpopulados supermercados presenciei um diálogo no mínimo singular. A meiga criança de aproximadamente três anos corria alegremente entre as pilhas de brócolis e couve-flor, soltando gritinhos de felicidade. Em dado momento exclamou em voz alta vovó, vovó!!! Rapidamente a babá encarregou-se de apanhá-la levando-a ao colo, dizendo vovó já vem aí. Naturalmente voltei-me para visualizar a maternal e querida figura que despertava tanta atenção da fofa pimpolha.
Para minha absoluta e total surpresa surgiu ali mesmo no setor de hortifrutigranjeiros uma criatura totalmente oposta à versão tradicional da vovó dos contos de fada. Em um insinuante e arrojado vestido, dotado de decote capaz de aguçar a imaginação mais fértil da petizada, caminhou friamente na direção da doce menina uma mulher de avançada idade ornamentada como uma femme fatale pós- balzaquiana ( e bote pós nisso). Do alto dos seus sessenta e tantos anos a avó do século XXI, ostentava um longo aplique louro e uma maquiagem de fazer corar as meninas mais travessas da Lobo Dalmada. Com uma bota simulando couro de onça de aproximadamente dez centímetros, em passadas provocantes exclamou para a serviçal:
– O que é que essa menina quer? Tá com sede de novo?
A cuidadosa babá sacou num piscar de olhos uma mamadeira contendo um liquido de coloração vermelha que suponho tratar-se de um tipo de vitaminada. A fedelha embeberada silenciou com um brilho de desapontamento nos olhos.
A ultra jovial avó afastou-se rapidamente da descendente, rebolando com lascívia em direção ao setor de vinhos. O trivial seria ter a própria senhora de dotes femininos remoçados pela custosa medicina dos cirurgiões plásticos colocado em seus braços à neta, dispensando-lhe carinho necessário para minorar sua aflição infantil. A modernosa avó dispensa esse trabalho, delegando tal função a colaboradora especificamente contratada para tal fito. Ok , o mundo mudou, as mulheres trabalham e não necessariamente dispõem de tempo para permanecer com suas crias a maior parte do tempo. O marido deve equitativamente dividir seu tempo com a prole.
O cerne da questão não é exatamente esse. O que esperar para o futuro. A dispendiosa industria da beleza popularizou o uso do botox, do silicone, entre outras opções utilizadas para ludibriar o tempo. De novo, tais escolhas são validas se isso ajuda a preservar a auto estima, a vontade de viver.
O que assusta é a perspectiva de habitar um mundo povoado por seres repletos de silicone, movendo-se a custa de pílulas contra impotência e outros mimos para fraudar o período naturalmente destinado ao envelhecim