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Indústrias do Amazonas crescem enquanto cenário nacional é de queda generalizada

O faturamento da indústria de transformação do Amazonas avançou em uma escala de dois dígitos, em março. O emprego, que havia encolhido, esboçou reação. As horas trabalhadas e o uso da capacidade instalada das fábricas também subiram, mas em ritmo mais lento do que o de fevereiro. Com isso o Estado voltou a se descolar da média nacional, que só colecionou números negativos no período. É o que revelam os dados locais dos Indicadores Industriais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), compilados em parceria com a Fieam (Federação da Indústria do Estado do Amazonas).

Conforme o estudo, o faturamento real da manufatura escalou 39,8% na variação mensal, superando com folga a perda de fevereiro (-13,2%). As vendas cresceram apenas 4,5%, no confronto com março de 2021 –período em que o Estado começava a sair da segunda onda e do período de toques de recolher.  No trimestre, o aumento foi de 18,6%, também favorecido por uma base de comparação fraca. A média brasileira ficou negativa em todas as comparações (-0,4%, -6,4% e -6,7%, respectivamente). 

Em paralelo, as horas trabalhadas nas linhas de produção da indústria amazonense mantiveram o passo (+7,4%), entre fevereiro e março deste ano, embora tenham desacelerado na comparação com a sondagem anterior (+8,3%). No confronto com a marca de 12 meses atrás, o indicador subiu 11,7%, segurando o acumulado do ano em alta de 19,4%. Em todo o país, o setor estagnou na variação mensal (0%), embora tenha crescido de forma mais amena nas demais comparações (+4,1% e +2,9%). 

A UCI (utilização da capacidade instalada) –que trata do percentual de máquinas comprometidas na produção –avançou pelo terceiro mês consecutivo, com acréscimo de 1,8 ponto percentual (+2,20%), ao passar de 81,7% para 83,5%, entre o segundo e o terceiro mês deste ano. Em relação a março do ano passado (73,4% de uso), a expansão foi de 10,1 p.p. (+13,76%). Na média do trimestre, a UCI avançou 3,6 p.p. (+4,63%), de 77,8% (2021) para 81,4% (2022). O indicador nacional (80,9%) decresceu em relação ao dado de fevereiro de 2022 (81%), mas expandiu ante março de 2021 (80,3%).

Empregos e salários

Os dados relativos à mão de obra da indústria do Amazonas, por sua vez, mostraram novamente resultados conflitantes. O saldo de contratações no parque fabril do Estado subiu 0,6%, na comparação com fevereiro, em número ainda aquém para recuperar a perda anterior (-1,6%) –e com viés de estabilidade. No confronto com o terceiro mês do ano passado, houve alta de 11,4%, proporcionando um acumulado do ano (+29,9%) mais forte. Em âmbito nacional, o setor estancou na variação mensal, e subiu em ritmo menor nas demais comparações (+2,7% e +3,1%).

Já a massa salarial da manufatura amazonense emendou um segundo mês seguido de crescimento de dois dígitos. Disparou 20,2%, na passagem de fevereiro para março, em ritmo ainda mais acelerado que fevereiro (+15,5%), além de consolidar a recuperação da queda de janeiro (-32,4%). Em relação ao patamar de 12 meses atrás, a decolagem foi de 44,9%, ajudando a manter o aglutinado de janeiro a março em alta de 21,7%. Na média brasileira, a variação mensal ficou negativa em 0,3%, mas ainda teve altas de um dígito nas elevações anual (+1,1%) e acumulada (+1,5%). 

“Perda do ritmo”

Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNI, o gerente de Análise Econômica da entidade, Marcelo Azevedo, destaca que, além da estabilidade em relação à geração de empregos, as horas trabalhadas na indústria em março se mantiveram no mesmo patamar de fevereiro. Já o rendimento médio real da indústria também recuou nas variações mensal, anual e acumulada (-0,2%, -1,6% e -1,6%, respectivamente). Para o dirigente, o cenário reflete o baixo crescimento da indústria no primeiro trimestre do ano e se soma ao momento de inflação elevada. 

Marcelo Azevedo, lembra que, depois de uma queda nos empregos provocada pela pandemia entre fevereiro e julho de 2020, houve recuperação consistente com 20 meses de crescimento ou estabilidade. “Na comparação com março de 2021, a alta é de 2,7%, mas os primeiros três meses de 2022 mostram a perda do ritmo de recuperação do emprego que se verificou em 2021”, salientou.

Solidez e incertezas

Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam, e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, já havia dito que ainda não houve tempo para os decretos do IPI produzirem impactos significativos na atividade industrial no período analisado pelos Indicadores Industriais da CNI, já que a redução da alíquota do tributo foi efetivada em 25 de fevereiro, “véspera de um feriado prolongado”. “As empresas possuem um tempo de avaliação e decisão. Não há como desmobilizar toda uma operação em questão de dias”, frisou.

Em nova entrevista concedida à reportagem, Antonio Silva não entrou nos detalhes dos números, mas ressaltou também que o momento ainda é de instabilidade econômica e política, e que o curto prazo aponta para um período de incertezas. O presidente da Fieam acrescentou que, por conta dessa volatilidade de curto prazo, o setor industrial avalia com cautela as perspectivas futuras, aguardando principalmente o desenrolar do segundo trimestre.

“A inflação e a crise no fornecimento de matéria-prima continuam a refrear um maior crescimento. Os indicadores de março, contudo, denotam que o PIM permanece sólido, mesmo ante todos os problemas enfrentados. Ressalto a importância da manutenção dos empregos e da alta na utilização da capacidade instalada. Esses fatores indicam que nossas indústrias continuam operando dentro de um razoável salutar. Apesar da demanda reprimida decorrente da pandemia de Covid-19 contribuir para os dados positivos, o panorama político e econômico futuro ainda requer atenção”, encerrou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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