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Desafio de qualificação da mão de obra industrial é maior no Amazonas

Estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria) informa que o Brasil precisa qualificar 9,6 milhões de pessoas em ocupações industriais, até 2025, para repor inativos e preencher novas vagas. A estimativa é que 2 milhões iriam para a formação inicial, e 7,6 milhões, para formação continuada. Pelos cálculos da entidade, 79% da necessidade de formação de novos quadros para o setor nos próximos quatro anos é de aperfeiçoamento. O motivo apontado é que o mercado de trabalho está em processo de transformação, devido ao emprego de novas tecnologias e mudanças na cadeia produtiva. 

Não foram informados os números por unidades federativas. O dado mais recente divulgado a respeito é mencionado em Mapa do Trabalho Industrial do Senai (Serviço de Aprendizagem Industrial), e indicava que o Amazonas precisaria qualificar mais de 142 mil trabalhadores nos níveis superior, técnico, qualificação e aperfeiçoamento, para atender o prazo. Fieam e Senai-AM apontam, por outro lado, que os diferenciais regionais do Amazonas tendem a tornar o desafio ainda maior em âmbito local, em razão do perfil socioeconômico do Estado e da escalada dos ataques à ZFM.  

Os números mencionados pela CNI estão no Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, estudo realizado pelo Observatório Nacional da Indústria para identificar demandas futuras por mão de obra e orientar a formação profissional de base industrial no país. As áreas com maior demanda são transversais; metalmecânica; construção; logística e transporte; e alimentos e bebidas. As ocupações transversais são aquelas que permitem ao profissional atuar em diferentes áreas, como técnico em Segurança do Trabalho, técnico de Apoio em Pesquisa e Desenvolvimento e profissionais da Metrologia, por exemplo.

A estimativa é que, em quatro anos, devem ser criadas 497 mil novas vagas formais em ocupações industriais, saltando de 12,3 milhões para 12,8 milhões empregos formais. Estas requerem conhecimentos relacionados à produção industrial, mas estão presentes em outros setores da economia. Em volume de vagas, ainda prevalecem as ocupações de nível de qualificação (74% do total). A CNI destaca que o crescimento das ocupações de nível técnico e superior deve seguir como tendência, em razão das mudanças organizacionais e tecnológicas nas empresas.

A CNI alerta que, devido à “lenta recuperação” na abertura de novas vagas formais, a formação inicial servirá principalmente para repor mão de obra inativa.. Em texto divulgado pela assessoria de imprensa da CNI, o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, reconhece que a recuperação do mercado formal de trabalho brasileiro será lenta. “Estamos diante de um cenário de baixo crescimento do PIB, reformas estruturais paradas, eleições e altos índices de desemprego e informalidade. Essa qualificação será recorrente e, quem parar de estudar, vai ficar para trás”, alertou.

Transformações e incertezas

O diretor regional do Senai Amazonas, Rogério Pereira, reforça que as atividades industriais tendem a passar por transformação, por conta do advento de novas tecnologias. “A indústria 4.0 ainda está em evolução e sequer foi adotada de forma plena em todo o mundo. A principal dificuldade é preparar o trabalhador para esse novo cenário, com máquinas cada vez mais interagindo entre si e com maior comunicação direta com o cliente”, frisou. 

Embora ressalte que não dispõe de números regionais a respeito da lacuna de qualificação a ser preenchida nos próximos três anos, Pereira lembra que o PIM conta com “uma maioria absoluta de montadoras de equipamentos” e certamente será “muito impactado” com advento das novas tecnologias, que tendem a redefinir a competitividade das empresas. Diante disso, o trabalho na capacitação é um desafio, não apenas pela sobrevivência do setor, como também para garantir a empregabilidade dos trabalhadores do Amazonas.

O dirigente disse que ainda não existe uma definição clara de quais segmentos serão mais demandados, porque “tudo é muito novo”, mas mencionou que a internet das coisas, big data, entre outras, tendem a se destacar. “Estamos preparando o Senai-AM já nessa visão. Já estamos montando laboratórios voltados para as tecnologias da indústria 4.0 e estamos continuamente reinvestindo para equipar isso tudo, além de recapacitar professores e mudar ementas e currículos de cursos”, listou.

O diretor regional do Senai Amazonas concorda que Estados com números mais baixos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e menor renda média tendem a enfrentar maiores dificuldades, embora acrescente que o desafio da educação é brasileiro. “Não se trata apenas de trabalhar uma defasagem, mas levar em conta que estamos em um mundo novo e com exigência de novas habilidades, como o trabalho dentro de um universo virtual com linguagens de programação e inteligência artificial, ligados aos desejos e necessidades do cliente. Mas, tudo isso ainda está em formação e, por isso, as incertezas de com isso vai acontecer ainda existem”, ponderou.   

Insegurança jurídica

O vice-presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Amazonas), Nelson Azevedo, destaca que a “estimativa positiva” da CNI se baseia em cenáriosque dependem de vários fatores igualmente positivos. Um deles seria o controle inflacionário no Brasil e no mundo. O outro seria o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia, da qual depende a oscilação do preço do petróleo e a gestão da escassez dos fertilizantes para a agroindústria. No âmbito do PIM, a questão passaria pelos ataques ao modelo ZFM, a exemplo da crise do IPI. “Estamos mobilizados para assegurar a segurança jurídica de nossas vantagens comparativas. É um imbróglio que promete ainda muitos capítulos”, frisou.

O dirigente, que também preside o SIMMMEM (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Manaus), diz que o Polo conta “historicamente” com estrutura adequada para atender a demanda de qualificação, no tripé Senai/Sesi/IEL, assim como nas “instituições públicas e privadas de segundo grau e de graduação”. Diz que a diversificação e o adensamento do Polo são desejáveis “desde sempre”, mas ressalta que nada sugere que o Brasil terá “maiores interesses”, no curto prazo, em abraçar uma nova matriz econômica para o Amazonas e a Amazônia Ocidental.

“Qualquer mudança neste cenário implicaria em que as autoridades federais decidissem aplicar na região os recursos que aqui geramos. A cada ano, 75% do bolo de recursos gerados a partir do Polo Industrial de Manaus são recolhidos pelos cofres da União e aplicados em outras finalidades. Assim, sem segurança jurídica, e sem os recursos aqui gerados, não iremos aonde gostaríamos. A luta é grande, mas vale a pena”, asseverou.

Indagado sobre os diferenciais regionais em termos de necessidade de mão de outra, o vice-presidente da Fieam salientou que o nó ainda está no “conjunto de fragilidades” da infraestrutura do Amazonas. “Os incentivos compensatórios dessa fragilidade nos transportes, comunicação e energia já poderiam ter sido superados pelo volume de recursos repassados para os cofres federais, e pelas riquezas produzidas no PIM. No vizinho do Pará, temos as mesmas características geopolíticas, mas a infraestrutura paraense está algumas décadas adiante da nossa”, arrematou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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