Pesquisar
Close this search box.

Gravação em canetas e objetos vive

Houve uma época em que era chique ter o nome gravado numa caneta, e elas eram conhecidas pela marca: Cross, Waterman, Montblanc, Montegrappa, Parker, Sheaffer, apenas para citar as mais sofisticadas, mas aí as canetas descartáveis tomaram conta do mercado e as canetas caras ficaram restritas a um pequeno grupo de endinheirados. As mais populares saíram de cena, e com elas as gravações dos nomes de seus donos. Ainda assim, os gravadores de nomes continuaram diversificando seus objetos de trabalho. O paraense Wilson Bruno é gravador há 55 anos e garantiu que nesse tempo todo não passou um único dia em que não tivesse clientes gravando nomes, ou qualquer outro tipo de texto, nos mais diversos tipos de objetos.

Wilson aprendeu o ofício quando tinha apenas 14 anos, com o irmão Raimundo Nonato Loureiro da Cruz, ainda em Belém. Uma curiosidade. Até hoje, aos 79 anos, Raimundo Nonato continua atuando como gravador na capital paraense.

“Meu irmão, por sua vez, havia aprendido com o paraibano Raimundo de Oliveira Dantas que, até onde eu sei, havia levado esse tipo de trabalho para Belém. O paraibano era o dono da Casa das Canetas. Para se ter idéia de como todo mundo possuía ao menos uma caneta, ele tinha quatro funcionários apenas para consertá-las, em sua loja, e dois somente para fazer gravações”, lembrou.

“O comércio, conserto e gravação de canetas em Belém era tão intenso que, além da Casa das Canetas tinha o Palácio das Canetas, o Ponto das Canetas, o Rei das Canetas, e outras lojas mais no mesmo ramo, que agora não recordo os nomes”, completou.

Ainda gravam canetas

Em 1977, a pedido do amigo Rivaldo Bandeira de Melo, Wilson veio para Manaus trabalhar no Médico das Canetas, de propriedade de Rivaldo, mas trabalhou ainda em outros lugares, Sortidão e Las Modas Boutique. Em 1983 Wilson voltou para Belém e, três anos depois, Rivaldo o chamou de volta, pois não estava conseguindo bons gravadores para sua loja. Ele voltou, e desde então ocupa um espaço na loja de Rivaldo, hoje no Centro Comercial Capibaribe.

“A única evolução que houve nesse tempo todo em que faço gravações é que antes eu usava aquela máquina que os dentistas utilizam para obturar. Agora tenho um motorzinho de suspensão, mas de resto, é tudo a mesma coisa”, falou.

Wilson contou que o serviço parece fácil, só escrever em algum objeto, mas não é bem assim. De vez em quando, aparece alguém com uma gravação mal feita, querendo que ele conserte.

“Raramente dá para consertar. Já recebi cliente com uma bela pulseira de ouro e a gravação horrível de seu nome. Aí não tem jeito. Só derretendo a pulseira e fazendo outra novamente”, afirmou.

Wilson não sabe quando começou o ‘boom’ de gravações de canetas, em Belém, mas acha que foi com Raimundo de Oliveira no mesmo período em que Rivaldo Bandeira também trouxe a novidade para Manaus, na década de 1950. Rivaldo, como Raimundo, era nordestino, sendo que de Pernambuco.

“A gravação de canetas caiu bastante, mas ainda tem muita gente que as grava. Eu tenho um cliente, manauense, mas mora em São Paulo, que nas suas vindas a Manaus traz objetos, e canetas, para eu gravar”, revelou.

No Pico da Neblina

Outros objetos graváveis que foram aumentando a lista de serviços de Wilson são as placas de metal, troféus, chaveiros, canecas e até vidros.

“É uma forma de, quando colocado o seu nome, personalizar aquele objeto, mas em muitos casos é uma medida de segurança. Sempre aparecem médicos trazendo seu material cirúrgico para eu gravar seus nomes. Esses objetos são caros. Se ‘somem’ dentro de um hospital, é um prejuízo para o médico. Até ‘comadres’ (coletor de urina feminino) já trouxeram para eu gravar”, contou.

Enquanto Wilson dava a entrevista, um cliente chegou com um taco de bilhar para ele gravar seu nome. E o taco já tinha o nome do cliente. Ele explicou que sempre manda fazer tacos novos e os traz para personalizar com a gravação. Aproveitou e pediu a Wilson que reforçasse as cores de seu nome gravado num canivete.

O paraense credita sua longevidade no ofício ao profissionalismo. Ele garantiu que sempre procurou se aperfeiçoar e fazer seu trabalho da melhor maneira possível.

“Lia livros buscando as melhores letras. A que mais uso é a gótica, que faço de diversas formas”, acrescentou.           

Wilson orgulha-se de ter uma placa gravada por ele fixada no alto do Pico da Neblina, o mais alto do Brasil, localizado no norte do Amazonas. A placa foi levada pelos integrantes do 1º/8º GAV (Grupo de Aviação) Esquadrão Falcão, da Força Aérea, numa expedição ao pico, em 1986.

“Parar? Nem penso nisso. Meu irmão começou antes de mim, tem dez anos mais do que eu, e continua na ativa, então…”, concluiu.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar