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Gambá, tradição de Maués, é promovida em lives

Maués não é apenas a terra do guaraná, mas um local com muita cultura e tradições, como o Gambá, que poderá ser conhecido pelos amazonenses através das lives que o grupo Maués de Gambá promove desde o mês passado, e continua até agosto, sábado, sim; sábado, não, sempre às 16h. O projeto das lives foi contemplado no prêmio Feliciano Lana, da Secretaria de Estado de Cultura, através da Lei Aldir Blanc.

“O Gambá é uma das expressões culturais mais longevas do Amazonas. Não se tem registro de quando e como esse mix cultural se converteu em uma identidade amazônica. Sabemos apenas que é precursor da brincadeira de boi bumbá no Estado”, explicou Waldo Mafra, o Mestre Barrô de Gambá.

“Quando os negros fugiam das senzalas e adentravam na mata, e se encontravam com os índios, trocavam saberes, não só na música, no batuque e na culinária, mas também nas plantas e rezas, o que fez com que isso criasse raízes”, explicou.

Esse movimento surgido nas matas cresceu tanto que se tornou objeto central de alguns projetos de pesquisa na última década e com um processo de patrimonialização em esfera estadual em andamento.

Resumindo, o Gambá de Maués é um complexo sociocultural de origem africana, ameríndia e até europeia, que agrupa práticas musicais, danças, cantigas, rezas de ladainhas e a confecção de instrumentos musicais com material orgânico da floresta e, mais recentemente, com resíduos recicláveis.

“Os europeus entram no movimento através dos conquistadores de alma, os jesuítas europeus, com suas bandeiras e rezas em latim. Houve, então, uma mistura de ritmos, batuques, rezas e comitivas de santos entre quilombolas, indígenas, e os religiosos”, contou.

Encomendação das almas

Atualmente o Gambá de Maués reúne, nas pequenas comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, pessoas que celebram os seus padroeiros com muita festividade. Os mestres gambazeiros saem em comitiva de santos, fazendo uma peregrinação fluvial encostando de porto em porto, comunidade em comunidade, colhendo donativos para o festejo de seus santos. É no município de Maués que se encontra uma maior intensidade dessa expressão.

De acordo com Waldo Mafra, que também é o proponente do projeto das lives, e diretor geral do Museu CultuAm, em Maués, o Gambá assegura o processo de salvaguarda através de pesquisas em parceria com pesquisadores em diversos pontos do Brasil e do mundo, junto a uma rede de pesquisadores e produtores culturais da própria cidade.

Com o intuito de compartilhar essa gama de saberes que compõe a cadeia produtiva do Gambá de Maués, Waldo Mafra está realizando nas lives, junto com mestres da tradição oral e jovens músicos de Maués, uma série de shows musicais, rodas de conversa com mestres da tradição, além de exibir o ritual de ‘Encomendação das almas’, completando com o lançamento do Catálogo do Museu de Arqueologia e História de Maués.

“A ‘Encomendação das almas’ é uma ação que acontece todos os anos, no mês de novembro, no Dia dos Finados, quando os mestres vão ao cemitério buscar as almas e levar para um ritual de rezas pedindo a salvação delas, encomendadas nas casas das pessoas que fazem a encomendação. Em seguida devolvem as almas ao cemitério”, contou.

Mulheres no Gambá

Na terceira live, que acontecerá hoje, 05, às 16h, o tema é o ‘Gambá Matriz’, com a participação do Grupo Pingo de Luz, e do boi de terreiro Teimozinho, do Mestre Iracito. Haverá ainda uma oficina de confecção de tambores/caracachá. Na live será ressaltado o papel dos mestres gambazeiros do alto rio Maués-Açu (comunidade de Santa Maria) e do rio Urupadi (comunidade Nossa Senhora Aparecida do Pedreiro). O objetivo é mostrar como estes mestres mantêm a tradição que perdura há décadas, em Maués.

Além da amostra do boi de terreiro, também serão trazidas outras manifestações tradicionais do baixo Amazonas, como o Cordão de Pássaros, mais a participação do rabequeiro Mestre Zé Pinto.

“Nesta série de lives, além de inovações na sonoridade do repertório gambazeiro, serão apresentadas as inovações da própria tradição do Gambá, como a inclusão das mulheres como cantoras e percussionistas nos grupos de Gambá da atualidade. Nos primórdios da tradição, apenas homens podiam cantar e tocar nos grupos”, lembrou Waldo.

Atualmente, Waldo Mafra está realizando uma pesquisa de doutorado em colaboração com a cantora amazonense Karine Aguiar, pela Unicamp, com quem já publicou inclusive, o capítulo de um livro. Em outubro ele participará de um congresso na City University of New York apresentando os resultados deste trabalho colaborativo.

As próximas lives

Dia 05/06 – Gambá Matriz. Grupo Pingo de Luz e boi de terreiro Teimozinho, do Mestre Iracito.

Dia 19/06 – Oficina de tambores/caracachá.

Dia 03/07 – Roda de conversa. Mestres gambazeiros e apresentação do Mestre Rabequeiro Zé Pinto e convidados.

Dia 17/07 – Encomendação das almas.

Dia 14/08 – Lançamento do Catálogo do Museu de Arqueologia e História de Maués.

Onde assistir, no YouTube: https://bityli.com/hbfgQ

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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