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Fotógrafo Raphael Alves lança livro com fotos retratando a pandemia em Manaus

Fotógrafo Raphael Alves lança livro com fotos retratando a pandemia em Manaus

Os fotojornalistas são verdadeiros perpetuadores da história. Graças a eles muitas de suas imagens têm enriquecido ainda mais de informações sobre os diversos tipos de acontecimentos ao redor do planeta. Com o fotógrafo amazonense Raphael Alves não é diferente. Desde que a pandemia do coronavírus chegou a Manaus, em março do ano passado, ele tem se dedicado a fotografar a situação da cidade e sua população diante do medo, da tristeza e da incerteza do amanhã. E foi mais além. Lançou o livro ‘Insulae’, com algumas das imagens que tem feito nesse quase um ano de pandemia, e doou todo o dinheiro da venda do livro, que esgotou em uma semana, para uma comunidade indígena. Coroando o seu trabalho, o fotógrafo ainda ganhou um prêmio internacional de fotografia. Empolgada com o prêmio e com a repercussão das imagens que Raphael vem produzindo, a editora Artisan Raw Books resolveu lançar uma segunda edição de ‘Insulae’, cuja renda será novamente doada pelo rapaz para a comunidade indígena.

“Eu comecei a ganhar um dinheirinho com fotografia, ainda no primeiro período da faculdade de jornalismo, há 21 anos. Naquela época eu queria ser jornalista, e cheguei a estagiar escrevendo matérias, mas sempre gostei de fotografar, então resolvi ser fotojornalista”, contou Raphael.

Em Manaus, Raphael trabalhou em quase todos os jornais impressos, e hoje colabora com a Agência EFE, da Espanha, além de atuar como freelancer de O Globo, The Washington Post, Financial Times, e das revistas Veja e Época.

Em Manaus, Raphael trabalhou em quase todos os jornais impressos

Esgotados em uma semana

“Apesar de, como fotojornalista, ter coberto as mais diversas situações e acontecimentos, cobrir a pandemia em Manaus tem sido totalmente diferente. Tudo é novo porque estamos lidando com algo pouco conhecido e recente. O que mais tem me marcado ao longo desses meses é a dor e o sofrimento das famílias. Esse tipo de situação eu nunca havia fotografado antes”, falou.

Raphael Alves perpetua imagens da dor e do enfrentamento da cidade diante da pandemia do novo coronavírus

E medo do desconhecido e do perigo é algo que o fotojornalista não deve ter, e se tiver, tem que enfrentar.

“Receio de ir para o ‘campo de batalha’ eu tenho todos os dias, e isso não foi uma decisão minha. Foi algo que aconteceu naturalmente. Sou fotógrafo e só poderia fazer isso agora, cobrir os acontecimentos. Conforme as coisas foram acontecendo, eu fui me envolvendo mais e mais”, disse.

Com um acervo de milhares de fotografias sobre a pandemia, em julho do ano passado Raphael resolveu publicar ‘Insulae’ (28 páginas com fotos em pretão e branco), ideia logo aceita pela editora Artisan Raw Books. Os primeiros 50 livros publicados venderam em uma semana.

‘Insulae’, do latim, significa ‘isolamento’. Era a forma de habitação destinada às pessoas mais desfavorecidas na Roma Antiga, abrigando milhares de pessoas em condições insalubres e em constante risco.

“Toda a renda da venda do livro foi revertida para a Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé. Cobrindo aquela comunidade indígena, vi que elas estavam sendo muito afetadas pela pandemia, e tiveram que encontrar seus próprios meios para resolver seus problemas. Elas são artesãs e não puderam mais negociar seus artesanatos por causa do comércio fechado, então, começaram a fazer máscaras para vender. Mostraram que são guerreiras mesmo”, contou.

O livro foi vendido para o Brasil todo e os vendidos em Manaus, Raphael os entregou pessoalmente.

Olhar para o lado

E ‘Insulae’ vai ganhar uma segunda edição. Raphael participou do concurso ‘Pictures of The Year Latin America 2021’, principal prêmio de fotojornalismo da América Latina e Países Ibéricos, e ganhou na categoria especial ‘A Pandemia na Ibero América’ o que fez a Artisan Raw Books querer lançar uma segunda edição do livro.

“O concurso acontece de dois em dois anos e sempre tem essa categoria especial. Em 2019 foi sobre as imigrações; este ano, a covid. Ganhei com algumas das fotos que estão no livro. Fiquei honrado, mas não feliz com a premiação, porque no mesmo dia que me comunicaram do prêmio, recebi a notícia de que meu tio havia sido entubado e veio a falecer uma semana depois. Como o prêmio é muito importante no mundo todo, espero atrair as atenções para cá, Manaus, Amazonas, Amazônia, porque sempre fomos uma região esquecida pelo próprio Brasil. Somos um Brasil que está desnorteado e não sabe pra onde vai”, lamentou.

Agora, Raphael pretende usar a renda obtida com a venda da segunda edição de ‘Insulae’ para ajudar o hospital de campanha erguido pelos próprios moradores do Parque das Tribos, no Tarumã. Nessa comunidade mora a técnica em enfermagem Vanda Ortega, do povo witoto, que desde o início da pandemia vem lutando para amenizar a pandemia no Parque, e foi a primeira pessoa do Amazonas a receber a vacina contra a covid-19.

“Lição que aprendi com essa situação? Aprendi a olhar para o lado. Gostaria que as pessoas passassem mais a olhar para o lado, para quem está ao seu lado, mas confesso que não tenho muita esperança, porque você vê o descaso de muita gente, mas vamos tentando conscientizar. Ao olharmos para o lado fazemos um mundo melhor, porém, ainda precisamos caminhar muito para chegar lá”, finalizou.

Como adquirir ‘Insulae’:

https://www.editoraartisan.com.br/product-page/raphael-alves-insulae-2021

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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