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Follow-Up – Raio X da sociedade

Se quisermos encontrar soluções para nossos problemas, o primeiro passo é entender o que se passa na cabeça dos brasileiros. É o que fez o sociólogo Alberto Carlos Almeida, nascido em Alagoas, criado no Rio de Janeiro e hoje residindo em São Paulo, com a realização de ampla pesquisa em 103 municípios, incluindo 27 capitais. Possuindo doutorado em Ciências Políticas pelo Iuperj, Almeida lançou no ano passado um livro (A Cabeça do Brasileiro) em que relata os resultados da pesquisa. Em fase de conclusão, Almeida tem outro livro que objetiva descobrir o que pensam os eleitores: “A Cabeça do Eleitor”.
Em recente entrevista, indagado se fora surpreendido com os resultados da pesquisa que deu origem ao livro “A Cabeça do Brasileiro”, o pesquisador disse: “A pesquisa me surpreendeu em dois aspectos. Em primeiro lugar, porque o quadro é muito ruim. Claro, depois que você pára para pensar a surpresa deixa de ser surpresa. Mas em geral a situação do Brasil é muito ruim. O brasileiro tem uma mentalidade muito arcaica, antiga, atrasada. Quando você pega todos os resultados juntos e vê o panorama total, é surpreendente. Eu não esperava, por exemplo, um conservadorismo tão grande com relação às práticas sexuais. Ficou claro que o brasileiro é um falador. Fala mais do que faz. O segundo aspecto que me surpreendeu na pesquisa é o valor que se dá à hierarquia, algo bem estudado na obra do Roberto DaMatta. O brasileiro é hierárquico, e muito. Continua chamando o patrão de ‘senhor’ (‘doutor’, ou ‘chefe’) mesmo que ele faculte ao empregado chamá-lo de você”.
As descobertas da pesquisa corroboram as teses que o antropólogo Roberto DaMatta desenvolveu sobre o povo brasileiro ao longo de sua carreira. Doutorado pela Universidade de Harvard (EUA), DaMatta é um pensador original que já esteve em Manaus proferindo palestra no projeto “Encontro com Notáveis”, patrocinado pelo Cieam por intermédio do Cetrin (Centro de Treinamento da Indústria) para incentivar a formação de capital intelectual no PIM.   

Tamanho do atraso

Referindo-se ao tamanho do atraso constatado na pesquisa, Almeida afirmou: “No fundo eu esperava menos. Só que aí você se debruça sobre os resultados e começa a ver melhor. A escolaridade do Brasil é uma das piores do mundo. Quando tomamos a Europa, Portugal tem uma das escolaridades mais baixas. Quando tomamos as Américas, isso se aplica ao Brasil. Não é por acaso. Tal pai, tal filho. A cultura portuguesa que não valoriza a escolarização foi trazida para o Brasil. Por isso somos assim”. Todavia, após ingressar na União Européia, Portugal está se modernizando, dando passos concretos para a sociedade do conhecimento.
 
Familismo e nepotismo

Comentando o valor que o brasileiro dá à família, o sociólogo declarou: “O brasileiro confia realmente na família – muito mais do que em qualquer grupo social: amigos, colegas de trabalho etc. A confiança na família é gigantesca. Esse familismo muito forte explica por que se empregam tantos parentes em cargos de confiança Mesmo no nível superior completo, 96% confiam em primeiro lugar na família. É quase 100%. A questão é que, no nível superior, a diferença entre quem confia na família e quem confia sobretudo nos amigos é de 35 pontos percentuais. É bem menos do que no segmento de escolaridade baixa. Ali, a diferença em favor da família é de 60 pontos percentuais”. O nepotismo, que tanto escândalo gera, seria algo muito natural na cabeça do brasileiro? Almeida respondeu: “A sociedade inteira faz isso. Basicamente, o que acontece é que a gente fica muito indignada com os políticos, mas o livro manda um recado diferente. Ele está dizendo que não são os políticos a fonte do problema. É a sociedade. A sociedade é assim. Costuma-se dizer: ‘Ah, ele foi eleito e se transformou’. Errado. O político quando foi eleito não mudou. Ele foi criado naquela sociedade e é produto dela. Ele confiava na família antes de ser eleito, e continuou confiando depois de eleito. Qualquer um que fosse eleito f

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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