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“Fim do desmatamento é uma realidade”

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Jornal do Commercio – Quanto por cento, da floresta amazônica, já foi devastado desde 1992, ano da Eco92?
Cristiane Mazzetti – Desde a Eco92 perdemos 351.355 km2 de floresta (taxas de 1993 à 2017), área um pouco maior que o Estado de Goiás. O desmatamento total ocorrido na Amazônia Legal chega a mais de 760.000 km2 – equivalente à três Estados de São Paulo ou duas Alemanhas. O total desmatado equivale à cerca de 20% da área total da Amazônia.

JC: Os números que o governo federal divulga sobre a devastação da floresta amazônica são verdadeiros?
Cristiane: Sim, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) monitora o desflorestamento na Amazônia Legal desde 1988 através do projeto PRODES (Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite). São publicadas taxas anuais medidas entre agosto de um ano e julho do ano seguinte.

JC- Existem estudos que dizem que a continuar a derrubada da floresta nesse ritmo, ela não existirá mais em 50 anos. Isso é verdade?
Cristiane: É difícil fazer tal estimativa, no entanto o ritmo de destruição na Amazônia nas últimas décadas caminhou a passos muito mais largos que na Mata Atlântica durante o Brasil-Colônia, bioma que hoje tem menos que 10% da sua formação original. Diversos fatores podem influenciar na área que será perdida nos próximos 50 anos. Se, por exemplo, políticas públicas e corporativas de controle ao desmatamento forem implementadas, o desmatamento pode ser menor, por outro lado se propostas que fragilizam a proteção ambiental e incentivam o desmatamento (existe uma série delas em discussão e aprovação no Congresso Nacional em parceria com o governo Temer) virarem realidade, a situação pode piorar. Além disso, não podemos nos esquecer das mudanças climáticas que tendem a deixar partes da Amazônia mais secas e por sua vez mais suscetíveis à queimadas. Outro ponto é que cientistas apontam que a Amazônia pode estar próxima de um ponto de não retorno, ou seja, após um certo grau de perturbação (desmatamento, degradação, queimadas) a floresta começa a migrar para um novo equilíbrio muito mais próximo de savana, o que alteraria drasticamente os serviços ambientais hoje prestados pela floresta.

JC – Quais são as regiões da Amazônia onde o desmatamento é mais avassalador?
Cristiane – Os Estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia apresentam historicamente as maiores taxas anuais de desmatamento. Ainda assim, estados como o Amazonas vem apresentando um aumento considerável do desmatamento nos últimos anos, localizado no sul do estado, sendo este uma nova fronteira onde o desmatamento chega pelo norte do MT e RO.

JC – Sem a floresta, os rios ficariam assoreados, e até eles morreriam?
Cristiane – Também. A existência de florestas nas matas ciliares (porções de floresta localizadas nas beiras de rios e nascentes) impede a erosão do solo e o assoreamento dos cursos de água. Em escala um pouco maior, o desmatamento pode resultar em impactos no clima local. A vegetação armazena água no solo e a transpiração do líquido para a atmosfera ajuda a resfriar o ambiente, favorecendo a formação de chuvas. Além disso, as matas equilibram a quantidade de água da chuva que segue para os rios, que evapora ou que infiltra no solo para abastecer os lençóis freáticos. A floresta amazônica desempenha um papel fundamental na formação de chuvas que abastecem o continente e na regulação do clima, ao persistir com o desmatamento enfraquecemos seus serviços ambientais essenciais, que beneficiam o país e o mundo.

JC – Como ficaria a região amazônica sem a floresta? Um deserto, vazio demograficamente?
Cristiane: Poderia se tornar um ambiente totalmente diferente como disse acima quando descrevi o ponto de não retorno, além disso perderíamos importantes serviços ambientais que hoje a floresta exerce, como a regulação do clima e o papel na formação de chuvas, sem contar a imensa biodiversidade e riqueza cultural que a floresta hospeda.

JC – Existe alguma solução para se preservar a floresta, ou o ‘desenvolvimento’ fala mais alto?
Cristiane: Não existe uma dicotomia entre desenvolvimento e conservação, o fim do desmatamento já é uma realidade e alvo de compromissos internacionais e empresariais. Várias soluções podem ser implementadas, dentre elas estão: o uso das áreas já abertas e subutilizadas (na Amazônia há uma imensidão de áreas abertas, são pelo menos 10 milhões de hectares nesta condição que poderiam ser melhor aproveitados), o fomento de uma economia florestal que mantenha a Amazônia em pé e gere renda para as comunidades locais (por exemplo, através de extração de óleos, castanhas, açaí, princípios ativos para medicamentos, dentre outros). Além disso, é fundamental o engajamento da sociedade para que o desmatamento zero seja atingido. Em 2015 a sociedade levou ao Congresso Nacional, pela primeira vez na história do Brasil, uma proposta de lei pelo fim do desmatamento nas florestas brasileiras, a proposta foi apoiada por mais de 1.4 milhão de brasileiros, agora é hora de continuar pressionando para que se transforme em realidade.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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