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Em 10 anos, construtoras do AM perderam mais do que ganharam

De crise em crise, a indústria da construção do Amazonas perdeu empresas e empregos, nos dez anos anteriores à chegada da pandemia de Covid-19. Entre 2011 e 2020, a quantidade de pessoas jurídicas atuantes no setor encolheu 9,89%, em âmbito estadual, ao passar de 546 para 492 unidades. O número de postos de trabalho foi ceifado em proporção ainda maior, na mesma comparação. O contingente não passou de 20.953 pessoas em 2020, número 34,30% menor do que o registrado em 2011 (31.893).

O único avanço durante essa década, veio do valor das incorporações, obras e/ou serviços de construção. Neste indicador, o Amazonas cresceu em participação na região Norte, partindo de 19,7%, em 2011, para 23,9%, em 2020. A conclusão vem dos dados da Paic (Pesquisa Anual da Indústria da Construção), realizada e divulgada pelo IBGE. Segundo o órgão de pesquisa, o levantamento serve para análise e planejamento econômico de empresas do setor privado e diferentes níveis de governo. 

Vistos mais detidamente, os números apontam para uma aceleração de dois dígitos no encerramento de atividades de construtoras, entre 2014 –ano de Copa do Mundo no Brasil e apogeu do setor –e os três anos seguintes, que foram de recessão para a economia brasileira. No período, a quantidade de empresas ativas encolheu 37%, com 725 (2014) contra 457 (2017). Entre 2017 e 2019, a atividade ganhou 43 novas pessoas jurídicas e avançou 8,6%. Mas, voltou a cair em 2020 (-1,6%), no primeiro ano da pandemia. 

A sondagem mostra, por outro lado, que o auge da ocupação na indústria de construção amazonense ocorreu em 2013, quando esta empregava um total de 38.717 trabalhadores. Era um contingente bem superior ao percebido no início daquela década (31.893). Nos anos seguintes, as demissões predominaram sobre as contratações, até o setor chegar a um total de 20.953 trabalhadores, em 2020. A pesquisa indica, contudo, que o Amazonas é o segundo Estado com maior número de ocupações no setor, no Norte do país, logo atrás do Pará (59.704) confirma também que todas as unidades federativas da região perderam postos de trabalho, com destaque para Rondônia (33.151).

Custos e incorporações

As empresas do Amazonas pagaram um total de R$ 597,4 milhões em salários, retiradas e outras remunerações, em 2020. E os custos de incorporação e das obras e/ou serviços da construção alcançaram R$ 1,4 bilhão, no mesmo ano. Os dados mostram que o Estado é o segundo da região Norte, em termos de salários, retiradas e outras remunerações pagas. O primeiro é o Pará, com R$ 1,7 bilhão. Quanto aos custos, os do Amazonas também só ficam abaixo dos valores contabilizados na unidade federativa vizinha (R$ 2,37 bilhões), dentro da mesma região. 

A indústria da construção gerou R$ 4,2 bilhões em valor de incorporações, obras e/ou serviços em 2020, no Amazonas. O Amazonas também cresceu em participação entre os vizinhos, nesse quesito. Partiu de 19,7%, em 2011, para 23,9% de participação, em 2020. Mas, o crescimento não foi suficiente para suplantar o Pará, que segue como a unidade federativa nortista com maior fatia no bolo de incorporações, obras e/ou serviços da construção, ao saltar de 33,9% para 52,3%, em uma década.

Queda e estabilidade

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, ressaltou à reportagem do Jornal do Commercio que a atividade desacelerou sob o impacto do “desaquecimento” ocorrido no mercado imobiliário local, a partir de 2015. Embora o pesquisador informe que a sondagem não mostra, do ponto de vista estatístico, elementos que sustentem projeções, observa que os anos mais recentes de sua série histórica mostram um panorama menos volátil para a atividade.

“Notem que salário e custos das incorporações foram itens que sofreram os maiores impactos. Já o valor das incorporações foi o único que apresentou aumento, muito em função de reajustes para repor as perdas de inflação nas obras. A boa notícia da Paic 2020 para o Amazonas é que, nos últimos três anos, a atividade vem mantendo uma média sem grandes mudanças nos indicadores. Isso demonstra que ela está passando por uma certa estabilidade”, ponderou.

Inflação e juros

Já o presidente do Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Amazonas), Frank Souza, lembra que os “anos de ouro” do setor ocorreram entre 2010 e 2013. “Nada se compara aos números de lançamentos e contratações daquela época. Houve uma explosão naquela altura que foi maior do que o tamanho do mercado. Muitas construtoras vieram para cá, sendo que somente algumas permaneceram e outras quebraram. Havia juro barato e crescimento do país. Depois disso veio um vazio, que começou a ser preenchido depois de 2018, mas aí veio a pandemia”, sintetizou.

De acordo com o dirigente, a inversão proporcionada pela crise da Covid-19 foi breve, permitindo que o setor retomasse o fôlego para mais um ciclo de crescimento, que agora começa a ser comprometido. Frank Souza lembra que os choques de oferta causados pela guerra na Ucrânia já elevaram todas as taxas internacionais, pressionando uma inflação que já estava crescente e renovando o atual ciclo de altas dos juros básicos da economia, que parecia estar chegando ao fim.  

“Isso ocorreu pela melhora no consumo das famílias e investimentos. Até maio de 2021, tivemos uma taxa de juros favorável. Mas, a Selic saiu de 2% para 13,25%, e isso é um redutor de vendas. É um remédio amargo e vai ser difícil para o setor retomar os patamares de 2011. Se projetar uns dez anos para frente, não consegue. A CBIC estimou um crescimento de 2,5% para o setor. Mas, com essa escalada de inflação, o índice deve ser menor e o ano também é de eleições, o que não favorece o mercado”, encerrou.

Boxe ou coordenada (só se tiver espaço): Perdas são regra na maior parte do país

Matéria postada no site da Agência IBGE de Notícias confirma que a região Sudeste continua sendo a principal em número de pessoal ocupado (894.655) e em valor de incorporações, obras e/ou serviços (R$ 140,52 milhões) na construção civil. A liderança coube a São Paulo (55,5%), que pontuou estabilidade. Segundo o analista da Paic, Marcelo Miranda, houve “forte perda” de participação do Rio de Janeiro (21,6% para 14,6%), que cedeu o segundo lugar do ranking para Minas Gerais (25,6%).

No Nordeste, o destaque foi a perda de participação de Pernambuco (25,7% para 16%). No Centro-Oeste, Brasília caiu (32,9% para 26,9%), enquanto Mato Grosso (15,6% para 22,7%) e Goiás (35,9% para 37,4%) avançaram. Não houve mudança estrutural no Sul. “A maior queda ocorreu em Rondônia cuja participação caiu de 27,6% para 6,9%, devido ao fim das obras das hidrelétricas do rio Madeira. Já Pará (de 33,9% para 52,3%) e Amazonas (de 19,7% para 23,9%) ganharam participação”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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