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Depressão entre jovens é preocupante no Amazonas, aponta IBGE

Um em cada três estudantes do Amazonas (31,6%) e de Manaus (33,6%), entre os 13 e 17 anos de idade, sentia-se triste na maioria das vezes ou sempre, no ano imediatamente anterior à pandemia. É uma maior incidência do que a da média nacional (31,4%). O problema era mais frequente entre as meninas, no Estado (42,6%), na capital (46%) e no país (44,9%). Em síntese, o “sentimento de que a vida não vale ser vivida” atingia 23,6% dos amazonenses e 26,3% dos manauenses – e 21,4% para o dado brasileiro.

Em paralelo, um em cada cinco dos adolescentes do Amazonas e de Manaus (20,8% e 20,9%, respectivamente) disse ter sido vítima de bullying, duas ou mais vezes, nos 30 dias anteriores à entrevista. As redes sociais e aplicativos de celular costumavam ser meios comuns para a prática (14,3% e 16,3%). A insatisfação com o próprio corpo, por outro lado, era um problema para 18,9% dos amazonenses e 24,7% dos manauenses – novamente com predomínio das meninas (26,4% e 34,6%). É o que revelam os dados da PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) 2019, do IBGE.

Em âmbito nacional, com exceção da inexistência de amigos próximos, que contabilizou baixo percentual em ambos os gêneros (elas, 3,8% e eles, 4,2%), todos os indicadores foram piores para o sexo feminino. Amazonas (5,2% e 4%, na ordem) e Manaus (6% e 3,7%), entretanto, aparecem com desníveis nesse quesito também. “No contexto da saúde mental, esse é um indicador interessante para uma fase de vida em que é esperado maior envolvimento social entre os adolescentes. Além disso, a inexistência de amigos próximos pode ser vista, tanto como um sintoma, quanto como um fator de risco em saúde mental”, assinalou o IBGE-AM, no texto de divulgação da pesquisa.

O percentual de “escolares” com autoavaliação em saúde mental negativa chegou a 17,9%, no Estado, e a 21,6%, na capital amazonense. Mais da metade (51,6% e 55%, respectivamente) sentia “muita preocupação com as coisas comuns do dia a dia” na maioria das vezes, ou sempre. Esse sentimento em particular era mais comum entre as meninas (57,9% e 61,5%), assim como em estudantes de escolas privadas (65,6% e 65,7%).

Para 31,7% dos estudantes amazonenses – e 34,8% dos que residiam na capital do Amazonas –, o sentimento na maioria das vezes, ou sempre, era de que “ninguém se preocupava com eles (as)”. Pelo menos 36,6% dos adolescentes do Estado, e 44,8% dos manauenses nessa mesma faixa etária, disseram que se sentiam constantemente “irritados, nervosos ou mal humorados”. A média nacional foi de 30%, no primeiro caso, e de 40,9%, no segundo. 

Bullying e autoimagem

Em torno de 20,8% dos “escolares” do Amazonas afirmaram que “duas ou mais vezes” se sentiram “magoados, incomodados, aborrecidos, ofendidos ou humilhados”, por terem sido “esculachados, zoados, intimidados ou caçoados” pelos colegas. No Estado, os percentuais foram maiores entre as meninas (22,3%), do que entre os meninos (19,3%). O problema era mais percebido nas escolas privadas (25,2%), do que na rede pública (20,2%). Os números locais bateram a média da região Norte (18,8%).

Os motivos apontados para o bullying, segundo as vítimas, eram aparência do corpo (15,5%), aparência do rosto (9,4%) e cor ou raça (5,3%), no Amazonas – 19,2%, 10,8% e 3,9%, na capital. Mas, as estatísticas eram maiores para “outros motivos/causas” (61,1% e 60,7%, na ordem). Redes sociais ou aplicativos foram os vetores das humilhações para 14,3% dos estudantes amazonenses, sendo que o dado de Manaus (16,3%) foi ainda ais elevado. As vítimas preferencias eram as adolescentes do gênero feminino (17,7% e 19,3%) e frequentadores de escolas públicas (14,4% e 16,5%).

O estudo também revelou que 12,6% dos estudantes do Amazonas já haviam praticado algum tipo de bullying contra o colega – com número menor em Manaus (11,9%). Os algozes tinham perfil oposto ao das vítimas. Os ‘valentões’ eram principalmente estudantes do sexo masculino (15%, no Estado, e 14,2%, na capital amazonense) e majoritariamente matriculados em unidades de ensino privadas (12,6% e 12,4%, respectivamente).

Como assinalado, a imagem costuma ser motivo para atos de bullying e, em sintonia, também aparece como fonte de insatisfação do adolescente. Embora a satisfação total ou parcial com o próprio corpo fosse majoritária no Estado e sua capital, o sentimento oposto atormentava parte significativa desse público (18,9% e 24,7%, na ordem). O principal defeito detectado nessa autoavaliação era ser “muito magro ou magro” (28,3% e 30,2%), embora também não fosse incomum o estudante sentir-se “gordo ou muito gordo” (17,5% e 24,7%).

“Intensidade emocional”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, reforça que as preocupações do dia a dia afetam os “escolares” amazonenses em proporção maior do que o percebido na média nacional, com preponderância maior entre as mulheres e entre os estudantes da escola privada. Situação que se reflete também na capital. “A tristeza é outro fator mental que afeta mais amazonenses. Mas, nesse quesito, as mulheres que são o dobro dos homens, seguindo tendência nacional. A proporção também é maior entre os que sentiam que ninguém se preocupava com eles”, frisou.

O pesquisador concorda que o bullying também é um problema no Estado, mas ressalta que a proporção é menor que a média nacional, embora as mulheres também sejam as vítimas tradicionais. “Segundo especialistas, a adolescência é uma época de intensidade emocional, devido a mudanças naturais do cérebro nessa fase da vida, que podem favorecer certo descontrole emocional e trazer à tona problemas potenciais. Quanto à preponderância das mulheres com relação a baixa autoestima, isso também ocorre em estudos internacionais. Esse fator vem se tornando comum na adolescência, e pode prejudicar o aprendizado”, afiançou.

“Relações intrincadas”

Em texto veiculado pela Agência de Notícias IBGE, a analista da PeNSE, Alessandra Pinto, destaca que há “relações muito intrincadas” entre imagem corporal, violências e saúde mental, e acrescenta que a questão de gênero está “muito colocada”, remetendo à “ditadura do corpo ideal”. “Há um padrão corporal e a menina é exposta a isso. Existem estudos na área de psicologia que falam sobre brinquedos. Qual é a imagem que tem da boneca? Magérrima. Há um padrão muito bem definido”, exemplificou.

No mesmo texto, a analista do tema na pesquisa, Thaís Mothé, informa que a literatura aponta uma “associação forte” entre saúde mental e bullying. Pode ser tanto um fator de risco, quanto um sintoma de questões de saúde mental. Por isso, é complicado falar de causalidade. Mas há associação, sem dúvida. Não é por acaso que a gente vê a desigualdade de gênero tão presente nessas três áreas”, arrematou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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