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Copom decidiu elevar a taxa básica de juros de 13,25% para 13,75% ao ano

Selic ainda é instrumento para muita polêmica

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori   Face: @jcommercio

Economistas e lideranças classistas do setor produtivo amazonense ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio foram unânimes em reprovar o novo reajuste da Selic. Especialmente diante da constatação de que o governo federal está estimulando a demanda. Por unanimidade, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu elevar a taxa básica de juros de 13,25% para 13,75% ao ano, em movimento já esperado pelo mercado. O reajuste, ocorrido em meio aos impactos da guerra na Ucrânia e de uma possível recessão nos Estados Unidos, deixou a taxa em seu maior nível desde janeiro de 2017.

Em comunicado, o Copom justificou sua decisão, ao informar que os riscos de que a inflação fique acima das expectativas em prazos mais longos levou ao não encerramento do ciclo de altas. O texto, no entanto, informou que o Comitê de Política Monetária deve reduzir o ritmo dos aumentos, elevando a taxa em 0,25 ponto no próximo encontro, no fim de setembro. “O comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude. Nota ainda que a incerteza da atual conjuntura, tanto doméstica quanto global, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação”, explicou.

Esse foi o 12º reajuste consecutivo na taxa Selic. O BC (Banco Central) manteve o ritmo do aperto monetário e, assim como na última reunião, a taxa foi elevada em 0,5 ponto. De março a junho do ano passado, o Copom tinha elevado a taxa em 0,75 ponto percentual em cada encontro. No início de agosto, o BC passou a aumentar a Selic em 1 ponto a cada reunião. Com a alta da inflação e o agravamento das tensões no mercado financeiro, a Selic foi elevada em 1,5 ponto de dezembro do ano passado até maio deste ano.

“Sem lógica”

O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Antonio Silva, considerou que o novo aperto no cinto da política monetária foi “precipitado” e “altamente prejudicial” para a manufatura, pois trará custos adicionais às empresas e impactará negativamente no consumo e na produção. “A taxa de juros real já está acima do patamar suficiente para refrear a inflação desde o final de 2021. Além disso, já tínhamos uma expectativa de queda da inflação, em decorrência das desonerações recentes sobre combustíveis, energia e telecomunicações”, reforçou.

Na mesma linha, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, julgou que o reajuste no preço do dinheiro é “preocupante” para o setor produtivo, embora ressalte que a medida já era esperada e acaba sendo um “mal necessário”, diante da resiliência na escalada dos preços. “É preocupante porque sabemos que o aumento na taxa dos juros limita o consumo e também encarece os financiamentos da nossa agropecuária. Mas, de certo modo, tem o lado de combater o processo inflacionário. É essa a nossa visão”, resumiu.

O presidente do Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Amazonas), Frank Souza, também considerou que “não há lógica” na elevação, já que o panorama de curto prazo é de deflação, em razão das medidas federais para reduzir os preços dos combustíveis, energia, telecomunicações e transportes. De acordo com o dirigente o efeito aguardado é bem negativo, já que a cada aumento de meio ponto percentual na Selic o setor deixa de lançar 250 mil unidades.  

“Essa medida tem um efeito muito pesado para a construção, porque a tendência é que a prestação fique mais cara e o interessado em comprar imóveis acaba pagando essa pena. Quem quer tomar um empréstimo para fazer uma obra também acaba pagando. Esse aumento é ruim e não tem finalidade. Não tem ambiente para isso. Mas, acredito que, embora essa alta impacte na cadeia produtiva da atividade, não consegue mais puxar aumentos de produtos, porque a oferta já está se estabilizando”, ponderou.

O presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, concorda que não se pode discutir a intenção da autoridade monetária de segurar a inflação, embora reforce que a opção também “derruba o nível de negócios”. “Os juros bancários também sobem e encarecem financiamentos a empresas e aumentam o endividamento do consumidor. Ao sairmos de uma taxa estacionada em 4,5% para 13,75%, temos uma diferença de mais de 300%, com um sangramento muito forte nos orçamentos das famílias e mais desemprego”, alertou.

Freio no acelerador

O economista, consultor empresarial e professor universitário, Leonardo Marcelo Braule Pinto, destacou que a decisão do Copom confirma a contradição entre as medidas do governo federal e o BC, já que o primeiro pisa no acelerador do PIB brasileiro para atender o calendário eleitoral, enquanto o segundo busca frear esse processo para conter a inflação. O economista diz que essa é uma aposta errônea, pois desemboca na inflação mais adiante e induz novas correções da Selic mais adiante.   

“Sabemos que, infelizmente, isso só tende a prejudicar nossa economia. O governo tem acertado em algumas medidas, entretanto o Copom continua errando em outras. Esse aumento restringe o acesso ao crédito e o investimento produtivo, além de impedir a ampliação da capacidade instalada das empresas. Isso não gera um decrescimento, porque a economia está se desaquecendo, mas favorece uma desaceleração no desenvolvimento saudável de nossa economia no médio e longo prazo”, lamentou.

A conselheira do Corecon-AM, consultora empresarial, professora e integrante da seção regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas, Denise Kassama, salientou à reportagem do Jornal do Commercio que tem dúvidas sobre a eficácia da política de aumento da taxa de juros, embora esta seja usualmente a “tendência natural” para combater o processo inflacionário. A economista avalia que, da forma como estão postas a frequência e a intensidade das elevações, a solução acaba sendo um problema.

“Podemos observar que essa política não está tendo o efeito desejado. Embora a inflação tenha dado uma ligeira reduzida, continua bastante alta e com pouca tendência de redução. No meu entender, essa medida só está prejudicando a parcela mais pobre da população, que já está com a renda comprometida, está devendo e pagando cada vez mais juros sobre juros. Já passou da hora de buscar outras iniciativas que gerem desenvolvimento econômico. Políticas de estímulo à produção, por exemplo, poderiam induzir mais oferta de produtos, contratações e redução de preços no mercado”, arrematou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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