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Confiança do comércio de Manaus derrapa em outubro

Apesar do Dia das Crianças, a confiança dos comerciantes de Manaus interrompeu uma sequência de quatro meses de alta para cair 2,5%, entre setembro e outubro. A insatisfação foi puxada pela percepção sobre a situação atual e os estoques, assim como pelas intenções de contratar e de investir. A capital amazonense seguiu na mesma trajetória da média nacional, que emendou seu segundo mês consecutivo de baixa. É o que revelam os dados locais do Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), da CNC (Confederação Nacional do Comércio). 

O indicador registrou 124,3 pontos na capital amazonense e caiu 2,5%, em relação a setembro (127,4 pontos), embora ainda tenha se mantido 3,6% acima da já refortalecida marca de outubro do ano passado (120 pontos) – em que pese a já presente crise de abastecimento da época. Em todo o Brasil, o índice da CNC brasileiro caiu pela segunda vez seguida, sendo 3,1% menor do que a do mês anterior, ao atingir 119,3 pontos. Em comparação com outubro de 2020, contudo, ainda houve crescimento de 15,6%.

Todas as regiões brasileiras registraram queda no Icec, com destaque para o Sudeste (-3,7% e 115,7 pontos) e o Sul (-3,7% e 123,7 pontos), seguidos por Norte (-3,4% e 126,2 pontos), Nordeste (-2,8% e 119 pontos) e Centro-Oeste (-1% e 123,6 pontos). Vale notar que, diferente do ocorrido nos meses anteriores, o indicador seguiu a mesma trajetória cadente das edições mais recentes de outros dois índices da CNC com foco no consumidor: o ICF (Intenção de Consumo das Famílias) e a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor). 

Apurado entre os tomadores de decisão das companhias comerciais, o levantamento do Icec avalia condições atuais, expectativas de curto prazo e intenções de investimento. Pontuações abaixo de 100 representam insatisfação, enquanto marcações de 100 até 200 são consideradas de satisfação. A Confederação Nacional do Comércio sondou 6.000 empresas de todas as capitais do país – 164 delas, em Manaus. 

Contratações e investimentos

Oito dos nove subíndices do Icec recuaram na variação mensal. O único dado positivo veio da expectativa do empresário em relação ao comércio/EC, (+0,1% e 158 pontos), que praticamente estagnou. Em contraste, as maiores retrações vieram das percepções sobre as condições atuais da economia/CAE (-8,6% e 94,3 pontos), do comércio/CAC (-4,4% e 105,6 pontos) e das empresas comerciais/CAEC (-3,6% e 106,9 pontos).

Em menor grau, a satisfação piorou também no nível de investimento das empresas/NIE (-3,2% e 79,3 pontos) e no entendimento sobre a situação atual dos estoques/SAE (-2,4% e 74,7 pontos), nas expectativas dos comerciantes em relação a suas empresas comerciais/EEC (-0,9% e 165,1 pontos) e à economia brasileira/EEB (-0,6% e 160,2 pontos), e no indicador de contratação de funcionários/IC (-0,5% e 131,9 pontos).

Apesar da piora, a maioria dos comerciantes de Manaus (58%) considera que a situação atual da economia brasileira “melhorou um pouco” – contra os 66% anteriores. São seguidos de mais longe pelos que dizem que “piorou um pouco” (30,1%), que “piorou muito” (8,7%) e que “melhorou muito” (3,2%). A avaliação majoritária sobre o setor e a empresa também é que “melhorou um pouco” (62,3% e 64,6%, respectivamente). Em todos os casos, a pontuação é melhor nas empresas com mais de 50 empregados e que vendem bens semiduráveis.

O otimismo ainda é proporcionalmente maior nas expectativas para a economia: 67,3% dizem que vai “melhorar um pouco”, enquanto 25,3% arriscam apostar que “melhorar muito” – em setembro eram 73,5% e 21,7%, na ordem. As avaliações que pesam mais sobre as perspectivas para o setor e para a empresa praticamente empatam e também apontam para melhoras relativas (67,1% e 66%, respectivamente) e significativas (27,5% para ambos). Companhias de maior porte e atuantes em bens duráveis têm as melhores estimativas.

Em termos de contratações, a maioria absoluta ainda diz que o contingente de trabalhadores deve “aumentar pouco” (70%), seguida de longe pelos que avaliam que pode “reduzir pouco” (16,7%) – novamente com números mais fracos do que os do levantamento precedente (72,6% e 14,7%). A projeção majoritária para investimentos passou a ser “um pouco menor” (39,8%), em detrimento de “um pouco maior” (37%), invertendo a dinâmica dos dados respectivos de setembro (38,7% e 45,3%). As avaliações positivas predominam entre as pessoas jurídicas com mais de 50 trabalhadores e que trabalham com produtos duráveis.

“Cenário de dificuldades”

Na análise do presidente em exercício da Fecomércio AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, a economia ainda vive “um momento muito delicado”. Segundo o dirigente, a expectativa geral do setor era que o Dia das Crianças fosse produzir um efeito benéfico nas vendas, mas vários fatores externos e internos contribuíram para um resultado aquém do esperado e uma consequente queda da confiança do empresário do comércio de Manaus.  

“É claro que as vendas cresceram, mas não dentro da expectativa geral de todos os empresários. Essa é uma demonstração de que ainda vivemos as dificuldades do fronte externo, como o aumento do petróleo, a falta de navios e de contêineres, assim como a alta da energia, no âmbito interno. Todos esses fatores somados, além do novo reajuste da taxa Selic, que puxa para cima o custo do dinheiro, contribuem para a queda do indicador. Estamos na expectativa de que o varejo supere esse cenário de dificuldades, para que possamos melhorar o índice de confiança do comerciante”, ponderou. 

Inflação e câmbio

A CNC aponta que, em âmbito nacional, o Icec de outubro amargou reduções em todos os seus componentes, pelo segundo mês seguido. “A possibilidade do encerramento da transferência do auxílio emergencial, o aumento do endividamento das famílias e a alta dos custos são apenas alguns dos fatores que podemos listar. O cenário atual é de aumento de preços, ocasionando desequilíbrios entre oferta e demanda e pressões para formação de preços maiores, complicando a decisão dos preços finais “, observa o economista responsável pela pesquisa, Antonio Everton, em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC.

No mesmo texto, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, avalia que os resultados negativos não anularam o otimismo dos empresários, mas observa que a baixa iniciada no indicador a partir de setembro se deve à menor confiança na conjuntura brasileira. “Entre os fatores que provavelmente constituíram a taxa do Icec em outubro, é possível considerar a inflação gerada no processo de recuperação das economias desde o ano passado, assim como o destravamento das medidas contra a covid-19, e os efeitos do câmbio, das commodities e da escassez de chuvas”, encerrou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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