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Comemorai e Vigiai

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A voz do Amazonas, representada por dizeres dos seus filhos politicamente importantes, ecoou neste 28 de fevereiro de 2018, em análise rica e repleta de sugestões. Assim disseram, tudo começou no ano de 1967, com o então Presidente Castelo Branco, até chegar aos dias de hoje, quando necessitamos de reformas profundas no modelo da SUFRAMA capazes de  conduzir, definitivamente, o desenvolvimento da Zona Franca de Manaus, orgulho amazonense, para um ambiente propício de prosperidade e prepará-la para um futuro de realizações.

Recordo o ano de 1974, quando aterrissei, pela primeira vez, numa cidade do norte do país. Não existia o Aeroporto Civil de Manaus, nosso conhecido Eduardo Gomes, mas apenas e tão somente o Militar, em Ponta Pelada. O sobrevoo sobre a capital amazonense apresentou aos meus olhos uma cidade particularmente plana, com raríssimos prédios ultrapassando a altura máxima correspondente a três andares.

Se por acaso a minha informação for incorreta, simplesmente assim o será não por mentira deliberada, mas pelo que me resta na lembrança de uma cidade simples e hospitaleira, passados quarenta e cinco anos daquela data marcante. Do passado ao presente, deparo-me com a página frontal do caderno B, do Jornal do Comércio do dia 18 de fevereiro de 2019, na qual o Livreiro Celestino e o Jornalista Cláudio Amazonas apresentam o bairro Educandos, de uma Manaus de outrora, onde “mulher direita não frequentava bar”.

Dentre os bares que hoje qualificamos de “biroscas”, um dos mais importantes era o Sibéria, que, em 1971, desmoronou ladeira abaixo, nas águas do Rio Negro, juntamente com a encosta que lhe servia de base, exatamente por situar-se bem defronte ao bonito igarapé de Educandos, logo no começo do bar e restaurante Amarelinho, que dispensa apresentações, assim juram os dois amazonenses..

De Guimarães Rosa e Waldick Soriano aos escritores amazonenses Jorge Tufic, Aluízio Sampaio, Arthur Engrácio e Luiz Ruas, muitos outros menos ou tão famosos frequentaram anonimamente os bares desse histórico bairro, saboreando a cerveja preferida e a cachacinha predileta, ao som dos discos de vinil mais tocados da época, apreciando as “damas da noite”, cada um da maneira que melhor lhe aprouvesse.

“Raios me partam”: esta é a segunda vez que uso esta expressão em meus escritos no Jornal do Comércio do Amazonas. O que pretendo, ao falar dos tempos em que conheci a bela cidade, dos bares de outrora, dos boleros, dos vinis e das “moças da noite”, que encantavam os da cidade e os visitantes? “Elementar, meu caro Watson”: a pujança da cidade, repleta de turistas que para este rincão debandavam para conhecer as maravilhas da natureza e fincar moradia nos lençóis acolhedores e promissores da Zona Franca de Manaus.

Retorno ao ponto de partida. Depois de aproximadamente sete horas de viagem, o avião da Força Aérea fincou borrachas no chão de Ponta Pelada, rolou a pista, estacionou, abriu as portas e eu desci as escadas, cansado, mas deslumbrado com a visão aérea dos rios Amazonas e Negro, em toda a sua grandiosidade e beleza.

Minha viagem acontecia a serviço, isto é, trabalho, mesmo, de sol a sol. Para aliviar as nossas dores, após às dezesseis horas e trinta minutos, a folga era livre, o comércio da Zona Franca permanecia aberto até um pouco mais de dezoito horas e a noite era uma criança. Não havia dinheiro suficiente em bolso de pobre e menos ainda espaço no avião para abraçar tudo o que desejávamos comprar, quinquilharias ou não. A vontade era comprar de tudo. Era muita coisa boa, bonita e barata.  

A razão me fez comprar alguns produtos úteis, raríssimas bugigangas e um par de óculos “Ray Ban” original, guardado e usado por mim em algumas ocasiões nos últimos tempos, praticamente intacto, após quarenta e quatro anos. Obviamente, à noite, visitamos, alguns amigos e eu, os famosíssimos bares de Educandos, onde não digo a verdade de que apenas bebemos cerveja e conversamos com as “damas da noite” porque em mim ninguém acreditará.

O processo de crescimento da cidade de Manaus era palpável e perceptível “a olhos vistos”, assim diz o ditado, certo? E foi assim que a encontrei em 1991, já madura, e em 1996, quando aqui cheguei, no dia 16 de março, para, sem o saber, fincar raízes. Ocorre, porém, que, com o passar dos tempos, apresentou-se ao país uma Manaus sem forças para suportar as “pressões externas e internas” de administrações bisonhas, politiqueiras e interesseiras.

O comércio da Zona Franca esvaiu-se nesse mar de lama. Portas e mais portas se fecharam. Os preços dos produtos comercializados no restante do país se tornaram bem mais apetitivos que os daqui. O interesse do turista diminuiu e a cidade se esvaziou. Restou somente uma indústria enfraquecida, mas suficientemente alicerçada para suprir o restante do país, além de manter-se e aguardar tempos melhores.

A hora chegou? Claro que sim. Por este motivo, seria imprudência permanecer falando sobre política e má gestão em momento tão expressivo. Portanto, retornemos à nossa Zona Franca de Manaus. Os tempos mudaram, em seu vai e vem de emoções políticas. O Governo Federal, embora consciente de que nada pode prometer e que não desfruta de um alinhamento perfeitamente solidificado com a política amazonense, procura demonstrar que de tudo fará em prol do desenvolvimento do norte do país.

Nas últimas eleições, os cidadãos amazonenses dedicaram uma votação significativa ao novo Presidente da República, em virada substantiva em relação às eleições anteriores, quando a então situação angariava em torno de oitenta por cento dos votos.

Hoje, no primeiro escalão do Governo Federal, existem de três a quatro Generais do mais alto posto do Exército Brasileiro que comandaram o Comando Militar da Amazônia – CMA – e conhecem perfeitamente as mazelas do Estado. Aliado a este fator, o Vice-presidente do Brasil também Comandou Unidade Militar do Exército na Amazônia por tempo suficiente para entender as agruras aqui existentes.

Posta esta realidade bastante alvissareira, a nomeação do novo Superintendente da SUFRAMA, em plena comemoração do aniversário de 52 anos da Zona Franca de Manaus, faz ampliar o nosso sorriso, na convicção clara e palpável de que muitas coisas boas acontecerão. O progresso, por uma vez mais, baterá às portas do Estado do Amazonas e o amazonense voltará a ter orgulho de sua Zona Franca e muita fé num futuro promissor.

Comemorai e vigiai. Tão ou mais importante do que o retorno ao crescimento será nos conscientizarmos da necessidade de oferecer a contrapartida aos benefícios que certamente virão: preparar o Estado para, num amanhã o mais próximo possível e exequível, ele próprio propor a extinção do valioso instituto que há tempos colabora fortemente com sua manutenção, pelo simples fato de que já poderá caminhar com as próprias pernas.

Para consolidar as bases do grande Estado que é, o Amazonas necessita estar pronto para, futuramente, ter, da Zona Franca de Manaus, a bela recordação histórica de um instrumento que, em época e momento oportunos e adequados, propiciou condições para o fortalecimento e a emancipação econômica da região mais rica do Planeta Terra, que abriu as portas de seus rios, florestas, biodiversidade e riquezas minerais para o futuro e para o engrandecimento do Brasil, propiciando aos seu filhos desfrutar as benesses do progresso e o merecido orgulho por sua natalidade.   

João Suzano

é escritor
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