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 Chef Naifon – do Purupuru para o mundo

Evaldo Ferreira: @evaldo.am

Em 1970 a música ‘Eu vim de Piripiri’, de Paulo Diniz, foi tocada nas rádios de todo o Brasil e se tornou um dos grandes sucessos do cantor e compositor, morto em junho passado aos 82 anos. Piripiri é uma cidadezinha do Piauí, que ficou famosa por causa da música. Pois o personagem desta matéria veio do Purupuru, aqui no Amazonas, um distrito do Careiro Castanho e assim como Paulo Diniz, venceu na capital, não compondo músicas, mas elaborando deliciosos pratos. O chef Naifon Lima venceu, no dia 8 de julho, o concurso ‘Em Chefs Amazonas’, o que lhe deu o passaporte para participar do Prêmio Nacional Dólmã, no Amapá, junto com os chefs Natália Miranda e José de Souza, em busca do título de ‘Chef Embaixador da Gastronomia Brasileira’. Na terça-feira (9), ele partiu para Macapá, levando seu prato vencedor ‘Remada amazônica’ para ser julgado por chefs de todo o Brasil.

O Prêmio Nacional Dólmã laurea chefs e profissionais de cozinha que se destacam no cenário gastronômico regional. Após um ano de detenção do prêmio, os premiados podem ser nomeados Chefs Embaixadores da Gastronomia Brasileira, um título vitalício concedido pelo Comitê da Gastronomia Brasileira.

Mas o caminho de Naifon para chegar ao sucesso foi longo, e começou no Purupuru, local onde ele se orgulha de ter vivido.

“Eu nasci ainda mais longe, na comunidade do Deserto, e todo dia, eu e meus irmãos remávamos duas horas para irmos à Escola Estadual Pedro dos Santos, no Purupuru. Por isso estou levando ao Amapá a bandeira da escola, para abri-la, se eu ganhar o concurso, já que o Purupuru não tem bandeira”, informou.

Menino, no lanche da escola, Naifon levava beijus de frigideira, herança indígena da avó, Maria Guilhermina.

“Minha ‘vó’ sabia fazer comidas deliciosas. Era especialista em bolos e nunca estudou gastronomia, pois viveu sempre no interior”, recordou.

La Casa

Entre 2004 e 2013, Naifon serviu ao Exército, em Manaus, e lá se desenvolveu na gastronomia utilizando conhecimentos adquiridos com a avó e com a mãe.

“Em 2008, enquanto estava no Exército, comecei a trabalhar como chef no Tropical Hotel, onde fiquei até 2011. Cheguei a ter, por dois anos, uma empresa, a Amazon Frios, que não foi adiante. 2016 começou péssimo pra mim. Sem minha empresa, desempregado, e com um filho pra dar de comer”, contou.

“Fui lavar carros, no estacionamento da prefeitura, para ter algum dinheiro. Trabalhei lá de janeiro de 2016 a março de 2017 quando um dia, assim do nada, me ligaram do Senac dizendo que havia uma vaga de chef, e perguntando se eu estava interessado. Até hoje não sei como souberam de mim. Fui ao Senac e fiquei com a vaga. Trabalhei lá até o ano passado, quando resolvi inaugurar meu restaurante, o La Casa, (rua Santa Luzia, 169 – Compensa), aberto oficialmente em 10 de julho de 2021”, revelou.

Aberto oficialmente porque um casal de idosos, moradores da Compensa, doentes de Covid, sabendo que Naifon trabalhava com comidas, solicitou duas marmitas diárias à sua esposa Adriana Gomes e ela resolveu não cobrar as marmitas.

“Com uma semana o casal disse que não queria mais as marmitas de graça. Iria pagar por elas. E fizeram mais: propaganda boca a boca com os vizinhos. Na semana seguinte já estávamos vendendo 50 marmitas aos sábados, e tantas outras durante a semana. Foi quando percebi que dava para abrir o restaurante”, falou.

A característica do La Casa é o cardápio típico do ribeirinho, o mesmo que o menino, que remava duas horas para ir à escola, comia, agora preparado por um chef. O beiju de frigideira da ‘vó’ Maria está lá.

O remo

“O pirarucu e o aruanã são salgados no Sol, o vinagrete é de cubiu, o tambaqui é servido em postas, e não em banda e por aí vai”, disse.

Foi dessa mistura de ingredientes da floresta que Naifon idealizou a ‘Remada amazônica’, lombo de pirarucu recheado com banana, guarnecido com baião selvagem, beiju de frigideira e finalizado com manteiga de castanha mais ervas regionais. Para completar a regionalização, o prato é servido num pequeno remo.

Servido num remo, o ‘Remada amazônica’ é uma homenagem a este objeto tão importante para o ribeirinho

“O remo faz parte da minha infância e adolescência quando eu e meus irmãos, Paulo e Eriadna, remávamos duas horas para chegar à escola, levando os beijus de frigideira preparados por minha mãe, que havia aprendido a fazê-los com minha avó”, lembrou.

A paixão de Naifon pelo Purupuru é tão grande, que no final do ano ele repetirá o projeto Cozinha de Beiradão.

“Eu preparo uma banda de boi, numa casa de farinha, sobre o tacho onde se assa a farinha. Ano passado foi feito apenas para a família, mas este ano irei convidar as pessoas da comunidade. É uma festa. Enquanto a carne está sendo assada, as pessoas vão se servindo. É uma coisa bem típica do nosso interior”, afirmou.

O Prêmio Nacional Dólmã acontece desde 2014 e a cada ano é realizado num Estado. Pernambuco, 2014; Mato Grosso do Sul, 2015; Amazonas, 2016; Ceará, 2017; Goiás, 2018; Piauí, 2019; 2020 e 2021 não teve por conta da pandemia; Amapá, 2022. O resultado deste ano será divulgado na quinta-feira (11).

Contatos com Naifon, @naifonchef e fone: 9 9999-8336.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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