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Amazonidades: Religião e política

George Gamov foi um físico nascido na Urania, em 1904, que dedicou parte de sua vida ao estudo do processo de geração de energia por fusão nuclear nas estrelas e, posteriormente, foi pioneiro na formatação do modelo do “big-bang”. Tornou-se professor em Leningrado, em 1931, e durante muitos anos tentou fugir da retrógrada União Soviética onde era impossível trabalhar livremente, pois as universidades haviam sido invadidas pela filosofia comunista que determinava o que podia e o que não podia ser estudado pelos cientistas. Estudos de cosmologia, por exemplo, eram proibidos, assim como os que se relacionavam com a teoria da relatividade de Einstein, pois eram consideradas contrárias ao materialismo dialético. Ele tentava fugir dessas restrições ideológicas, talvez por considerar que o dogmatismo, necessariamente leva à ignorância e que a ignorância inspira o dogmatismo.

Finalmente livre
Em 1933 George Gamov conseguiu fugir da URSS e foi trabalhar na Universidade George Washington onde permaneceu até 1956, desenvolvendo ali, junto com dois assistentes (Ralph Alpher e Robert Herman) estudos sobre a origem do Universo, livre, enfim, do poder de dogmas políticos (e de religiões) que devem ficar longe do conhecimento científico onde se inclui a ciência política que é diversa e distante da práxis política (no mau sentido). Nos EUA ele pode até mesmo ironizar o livro do Gênesis escrevendo: “No início Deus criou a radiação, os prótons e os nêutrons (hidrogênio com massa 1). E Deus disse: Faça-se a massa dois. E a massa dois apareceu e Deus viu o deutério e ficou satisfeito. E Deus disse faça-se a massa três. E a massa três apareceu e Deus viu o trítio e ficou satisfeito”. O texto é longo, mas tem cheiro de liberdade de pensamento. Ou, como escreveu Millor Fernandes: “livre pensar, é só pensar”.

O drama da mistura
Misturar ciência com religião e política (no mau sentido) é uma característica das culturas pré-científicas, que atribuem a criação do Universo às forças divinas, atitude similar às sociedades primitivas, cujos poderosos fabricam dogmas políticos para se manter no poder. E em ambos os casos, contrariar essas “verdades” como na Inquisição e na União Soviética, poderia levar à fogueira ou ao fuzilamento.

Política e religião
O processo eleitoral em Manaus, que mistura religião e política (no mau sentido) resgata esse primitivismo e deixa a disputa muito parecida com uma partida de xadrez disputada por deuses e assistida por fanáticos religiosos que votam por obrigação legal, já que o vencedor será uma decisão dos deuses.
Esse cenário me deixa, cada vez mais, com os olhos de Alice no País das Maravilhas que, ao ser perguntada pelo rei vermelho: – “o que você está vendo?, responde: – Nada. E o rei então comenta: – “mas que ótimos olhos você tem”.
Qualquer pessoa com muitos neurônios funcionais e com o cérebro cheio de informações de qualidade, adquirida com o hábito do estudo e da leitura diária, olha o mundo político (no mau sentido) e não vê nada, absolutamente nada que possa ser considerado útil para construir o futuro. Os raros momentos de lucidez são vestígios fósseis inseridos nos discursos para fingir uma cultura que é apenas superficial.
Esse embuste da vida política traz uma mistura de dogmas políticos e “religiões” as quais, parodiando um programa global, são apenas pequenas “igrejas” em busca de grandes negócios.
Agradeço ao professor doutor Marcelo Gleiser, ilustre físico brasileiro que em seu livro “A Dança do Universo; dos mitos da criação ao big-bang” (Companhia da Letras, 1997) expos essas histórias e ideias que aproveitei para escrever este texto.
And, last but not the least, apesar de, convictamente, ir anular meu voto, gostaria de saber a opção, neste segundo turno, de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, se eles fossem eleitores em Manaus. Afinal são políticos dogmáticos e filiados à um partido que busca apoio dos deuses.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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