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Ação ‘Busca amiga’ resgata alunos que não voltaram às aulas

O estudo ‘Enfrentamento da cultura do fracasso escolar’, publicado em janeiro deste ano pela Unicef (Fundo das Nações Unidas pela Infância) mostrou que cerca de 4,1 milhões de crianças e adolescentes entre seis e 17 anos tiveram dificuldades no acesso ao ensino remoto no ano passado. Pior ainda. 1,3 milhão teriam abandonado a escola por conta disso. Esses números constam no relatório do Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) de outubro de 2020.

Outra pesquisa mostra que se a idade dos alunos for ampliada para até os 34 anos, o número chega a quatro milhões de estudantes que, em 2020, desistiram da escola.

A situação fica ainda mais complicada quando se trata de alunos da EJA (Educação de Jovens Adultos) cuja faixa de idade começa aos 15 anos.

“A pandemia trouxe problemas para todo mundo, de modo geral, na educação. Sobretudo na escola pública. Agora, se pensarmos no EJA, isso se acentua um pouco, porque geralmente os alunos das escolas para jovens e adultos vêm da parcela da população mais pobre”, revelou a professora Maria Amábile Mansutti, coordenadora do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), organização civil que promove pesquisa e metodologias em apoio à educação pública.

No Amazonas, porém, vem acontecendo algo diferente. Em 2020, enquanto no país, o número de matriculados no EJA crescia 35%, de 27.208, em 2019, para 36.719, o Amazonas amargava uma queda acentuada, principalmente em Manaus, onde o número caiu em média 43,8%, reflexo da pandemia.

“A recuperação começou já no final de 2020 e se confirmou em 2021, com as matrículas saindo do patamar de 900 para os 1.333 do final deste primeiro semestre. Mas, o que tem impressionado é que o número de evasão, de 28%, nunca foi tão baixo como agora”, falou Patrícia Bezerra, gerente de EJA do Sesi Amazonas.

Agora, no Sesi, aderindo de vez à nova tendência, o ensino será 100% online.

“As aulas neste formato atenderam perfeitamente às necessidades do aluno”, afirmou.

Relação de confiança

Outras iniciativas também têm ajudado bastante o retorno dos alunos do EJA às aulas, mas de forma presencial. O pedagogo Evandro Matos Martins, da Escola Estadual Letício de Campos, na Cidade de Deus, idealizou e coordena a ação ‘Busca amiga’.

“Consiste em uma estratégia didático-pedagógica, criada por nossa escola no sentido de resgatar alunos matriculados na EJA, e que até o momento não haviam comparecido à escola. Alunos literalmente não localizados”, explicou.

A ação ‘Busca amiga’, na realidade, é uma vertente de ação parecida já desenvolvida pela Seduc. A diferença da proposta desenvolvida por Evandro é que na ‘Busca amiga’, um aluno que está frequentando regularmente as aulas é quem vai atrás do aluno ausente, para servir de exemplo de persistência.

“Um aluno busca um amigo que está em ‘situação de abandono’ da escola. A ação se fundamenta na relação de confiança entre as pessoas. A escola entra oficialmente através de uma carta levada pelo aluno voluntário. Um amigo pedindo e a escola apoiando esse pedido são fatores de forte influência para que o aluno volte para a sala de aula. Em menos de um mês reduzimos o abandono em 20%”, comemorou o pedagogo.

O projeto teve início na segunda quinzena de junho e será permanente. Os primeiros alunos que voltaram foram recebidos com festa na E.E. Letício de Campos.

Crescimento pessoal

De acordo com Evandro Matos são vários os motivos que podem levar um aluno a desistir das aulas da EJA, mas o principal é o financeiro. O aluno prioriza o trabalho ao estudo. Se este, de alguma forma, ‘atrapalha’ aquele, logo é descartado.

“A pandemia só veio agravar a situação. Muitos ficaram sem trabalho e renda, o que agravou ainda mais o retorno. Trazê-los de volta à sala de aula tem sido um grande desafio para nós, que trabalhamos diretamente com eles, porém, nossa ação tem mostrado resultados satisfatórios”, declarou.

Evandro lembrou que a iniciativa da ‘Busca amiga’ foi da E.E. Letício de Campos, mas é perfeitamente viável em qualquer outra escola.

“Reduzimos em 20% o índice de abandono escolar e pretendemos reduzir ainda mais”, assegurou.

Em menos de um mês o abandono foi reduzido em 20% – Foto: Divulgação

“A ideia da ação foi minha com a preciosa parceria da equipe de professores e da gestão da escola. Sem essa parceria, possivelmente a ‘Busca amiga’ não estaria comemorando o sucesso. Toda a equipe abraçou a causa”, completou.

Essa primeira ação foi realizada de forma emergencial porque a EJA sofreu mudanças em sua estrutura e a cada seis meses é formada uma nova etapa, mas a partir de agora as ações serão melhor trabalhadas para chegar a mais alunos.

A Coordenadoria Distrital da Seduc gostou tanto da ação que seu coordenador, o professor David Martins, ficou de avaliar a possibilidade de promovê-la em outras escolas.

“Procuramos mostrar para o aluno que concluir seu ano na escola, e futuramente entrar numa faculdade, é muito importante não só para a sua formação educacional, mas principalmente para o seu crescimento pessoal”, finalizou.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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