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A filosofia como instrumento de formação crítica

O ensino da filosofia pode viabilizar a formação do cidadão político, um cidadão que está disposto a transformar a sociedade que temos numa sociedade realmente mais justa e fraterna para todas as pessoas. Ela constitui-se num instrumento extremamente importante para a formação geral do educando e sua preparação para buscar a felicidade não nas coisas produzidas pela Indústria e pela Indústria Cultural.
O ensino da Filosofia e, consequentemente, a arte de filosofar não deveriam estar sendo praticados não só nas três séries que compõem o Ensino Médio, última etapa da Educação Básica, mas durante todo o processo de escolarização, um processo que começa na Educação Infantil e segue até mesmo depois do Ensino Superior. Não é exagero dizer que a competência da reflexão deve ser praticada desde a mais tenra idade.
Severino salienta, é importante “levar pedagogicamente a filosofia ao adolescente do Ensino Médio e aos jovens do ensino superior, quaisquer que sejam suas opções vocacionais ou profissionais. A filosofia se dirige então ao todo da população e sua finalidade é a formação do ser humano. Não se pode ser plenamente humanizado sem a prática do pensar reflexivo, sem o seu efetivo exercício”.
O povo que não tem uma formação ancorada a Filosofia e, consequentemente, a arte de filosofar, ou seja, materializar os conhecimentos filosóficos da melhor maneira possível, não pensa e não age a partir de suas ideias e sim com as ideias dos outros…, se constitui naquilo que se convencionou chamar de “massa de manobra”. Zé Ramalho cantou aspectos desse estado na música “Admirável Gado Novo”.
“Vocês que fazem parte dessa massa, que passa nos projetos do futuro. É duro tanto ter que caminhar e dar muito mais, do que receber”. Esse primeiro refrão da referida música possui elementos de uma poética que descreve aspectos relacionados à vida miserável que o povo nordestino de algumas regiões levava e ainda leva…, a “indústria da seca” é um exemplo emblemático da ausência de conhecimento filosófico por parte do povo.
Sabemos que a “massa de manobra” é muito interessante para políticos que se elegem a custa da ignorância da maioria da população. O filósofo Karl Theodor Jaspers (1883* 1969†) expressava: “muitos políticos veem facilitado o seu nefasto trabalho pela ausência de Filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão somente usam uma inteligência de rebanho”.
O processo de manifestação da “inteligência de rebanho” é uma prova de que o governo brasileiro não leva a sério o processo de escolarização das crianças, dos jovens, dos adultos e, por que não dizer, até mesmo dos cidadãos da “terceira idade”. Não há nenhuma razão outra para justificar porque o ensino da Filosofia não esteja, ainda, implantado em todas as séries e, também, com uma carga horária suficiente.
Outra coisa importante! O fenômeno da “inteligência de rebanho” não se manifesta só a partir das ações do povo mais humilde. Ele ocorre também nas Universidades, IES e centros de pesquisa de ponta. Quando intelectuais orgânicos acreditam (e pregam aos alunos) que a solução para os nossos problemas está na ciência (e na tecnologia), é porque aí se manifesta uma formação com pouca Filosofia.
Um Mestre, um Doutor ou até mesmo um Pós-doutor que prega em suas palestras, aulas etc. que a ciência e sua aplicação imediata (a tecnologia) podem solucionar todos os problemas biopsicossociais da humanidade em longo prazo é uma pessoa digna da nossa mais sincera e bem direcionada desconfiança. Razão: ele tendenciosamente omite o devastador enraizamento social da ciência e da tecnologia.
Devemos aprender a criticar tudo que nos rodeia, até mesmo nossas próprias atitudes, e isso passa, necessariamente, por um ensino da Filosofia direcionado para além das subjetivações e objetivações relacionadas à perpetuação dos processos de maximização do lucro…, substituir o capitalismo por uma economia socialista é algo urgente e imprescindível para todos os seres vivos que habitam o planeta Terra.
Uma última coisa! Se o povo brasileiro fosse um povo politizado, as manifestações que ocorreram recentemente, neste país, seriam mais acirradas e as forças armadas teriam por obrigação manter a ordem do Estado, ou seja, teriam que prender todos os políticos corruptos que denigrem a imagem deste país, principalmente daqueles que se aproveitam do poder para saquear os cofres públicos.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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