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“O caçador de onças”

Quero compartilhar com os profissionais do Jornal do Commercio, palavras elogiosas que recebemos de leitores sobre a qualidade da matéria, Homenagem a Itacoatiara e seus filhos no século 21. Atendendo, solicitação de parentes, amigos, assinantes e leitores de Manaus, Itacoatiara, Brasília, Los Angeles e Kioto, estou passando a bola ao meu primo, o Desembargador Francisco das Chagas Auzier Moreira, atual presidente do TJ-AM, publicando a cronica, O caçador de onças : “Fazenda Bom Futuro, localizada no médio rio Urubu, fazendo extrema de um lado com propriedade do senhor. João Caetano e do outro com a Fazenda Barreirinha, dos irmãos Carvalho, proximidades do Paraná Arauató.A Fazenda Bom futuro era de propriedade dos nossos avós, senhor Raimundo Moreira, popularmente conhecido por Raimundo Santarém, e dona Maria Madalena, dona Merica . O casal teve os seguintes filhos: Luiz, Francisca, João Martinho, Joaquim, Raimundo , Joana e Alexandrina, que viviam da criação de gado, agricultura, extração de madeira, sorva, batata etc. Na década de cinquenta, os fazendeiros daquela região viviam atormentados com a grande quantidade de onças que infernizavam suas propriedades, matando e comendo bezerros, cabras, porcos etc.
Foi por causa dessa perseguição toda que entrou em cena nosso héroi, Joaquim Moreira , popularmente chamado “Mestre Quinca”, tornando-se muito conhecido e famoso como o maior caçador de onças.Mestre Quinca, embrenhava-se nas matas do Rio Urubu somente com a proteção de Deus e de seus valentes cachorros Avulante, Quebra –Ferro, Temporal e Lampião.Apartir das cinco horas da manhã, Mestre Quinca começava a aprontar seus utensílios, vestia uma jaqueta de mescla, bermuda do mesmo pano, um gorro para proteger a cabeça e calçava um sapato feito de leite de seringueira. Era bonito ver alegria de seus fiéis companheiros de caçada. De um lado do cinto, uma Bodoroca, na qual levava os cartuchos e do outro uma pequena bolsa com tabaco migado, “papelinho” Colomim” e o famoso isqueiro “Rabo de Macaco”.Tanto os cartuchos, quanto o fumo, eram acondicionados em bolsas impermeáveis para que não molhassem.
Mestre Quinca matava de cinco a seis onças por semana, com sua infalível e sempre azeitada espingarda calibre 20, marca “Pombo”. Das onças maiores ele tirava o couro , naquela época podia ser comercializado, vendia geralmente para o tio Paulino, que regateava em um pequeno barco a remo de nome “Marupiara”, tocando sua famosa buzina feita de chifre de boi. Tirava também as cabeças e colocava nas águas do igarapé do Xavier, para os peixes comerem as carnes, e em seguida colocava nas principais estacas das cercas de sua casa, servindo de troféus para admiração dos amigos que o visitavam. O nosso herói não se fazia de rogado e atendia apelo de outros fazendeiros para eliminar onças em suas terras. Lembro-me de um “Causo” contado por Mestre Quinca. Um dia os cachorros acuaram uma onça que se viu obrigada a subir em uma árvore, no exato momento em que “Lampiao” mordeu seu rabo e foi, levado pela felina, caindo de uma altura de mais de cinco metros, e ao tocar o solo saiu em desabalada carreira mata a dentro, latindo apavorado até desaparecer para sempre.
Hoje os fazendeiros da região, herdeiros dos ferocíssimos índios Buruburus e Caboquenas, podem criar seus rebanhos com grande tranquilidade, mesmo porque o famoso rio de águas negras é cortado duas vezes pela estrada Manaus –Itacoatiara e as famosas e ferozes onças foram passar bem em outras freguesias, distantes da Fazenda “Bom Futuro”, que ainda hoje existe e é de propriedade do primo Ermelindo Moreira, “ O Barão do Rio Urubu”, que lá vive com mulher e filhos. Não pensem que Mestre Quinca caçava somente onças. Quando encontrava um bando de queixadas, era um verdadeiro massacre, matava quantos quisesse. As carnes eram distribuídas entre todos os familiares (irmãos e irmãs casadas).
Uma outra estória de nosso caçador aconteceu no dia em que foi caçar com o tio Leovegildo. Em um determinado trecho da mata resolveram se separar cada um seguindo por um lado. Não demorou muito e logo tio Léo avistou um veado menos desavisado e tocou chumbo na testa do animal. No mesmo instante em que ouviu um grito de dor vindo da direção em que caçava Mestre Quinca. Imediatamente tio Léo largou a “embiara”, e foi correndo em direção do grito. Qual não foi seu desespero quando constatou que a bala além de matar o veado foi varar a batata da perna de seu amigo, compadre e cunhado. Mestre Quinca foi carregado até a canoa, levado para sua casa e em seguida para nossa casa, já em Itacoatiara. No entanto, mandou que tio Léo fosse buscar a caça para levar. O cacador Cirilo, só foi considerado o maior caçador das matas do rio Urubu até se deparar com o nosso herói, a quem também passou a respeitar como sendo o maior caçador da região. Todas as vezes que Cirilo aparecia pela Fazenda Bom Futuro, a primeira coisa que acontecia era uma sova que nossos robustos cachorros aplicavam em seus famintos e pirentos passa-fomes.
Mestre Quinca foi casado com dona Rosa Farias, de cuja união nasceram. Raimundo, Ramiro, Rozilda, e Rosária. Raimundo é pessoa muito importante, jornalista, formado em Direito e mora em Brasília com esposa Lourdinha, filhos e netos. Tia Rosa era aquilo que se pode chamar “pau para toda obra”, pois além de excelente esposa, mãe e dona de casa, sabia caçar, pescar e era acima de tudo uma artesã muito competente, pois fazia tudo que se podia pensar com cerâmica, tais como: potes, bilhas, pratos, travessas, bacias e outros. Preparava os utensílios amassando o barro com cinza de casca de “caraipe”, depois aperfeiçoados com enfeites e alisados com orelhas de “Urupe”. Em seguida eram assados em brasas de lacreiros e antes que esfriassem eram impermeabilizados com rezina de “jutaicica”. Era realmente uma mulher muito inteligente, dizem até que ela dava coração torrado do pássaro Japiim para seus filhos comerem e ficarem inteligentes. Parece que a estória tem fundamento, pena que tenha morrido muito cedo”.

Em homenagem ao meu irmão e amigo Raimundo Farias Moreira.

Francisco das Chagas
Auzier Moreira

Os parentes e amigos, das familias: Paulino Gomes, Fernandes, Carvalho, Assis, Moreira e Baranga; os tres irmãos, Ramiro, Rozilda e Rosária, sempre lembrados, agradecem de coração, ao autor Auzier, pela dedicação e exaltação aos nossos saudosos e inesqueciveis pais, in memoriam Joaquim Moreira de Souza e Rosa. Pereira de Farias, cuja homenagem nos comove. Nosso irmão, Raimundo Farias Moreira, casado com dona Maria de Lordes da Rocha Moreira, pais de Claúdia e Helder da Rocha Moreira, avós de Taina e Igor,vivem felizes e saudáveis, em Brasilia e São Paulo.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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