Pesquisar
Close this search box.

“Não vivemos uma política de democracia e sim corruptocracia”

Senador da República em 1974, o advogado e professor Evandro Carreira é sem dúvidas uma grande personalidade da política estadual. Além de ter conquistado uma cadeira no Senado Federal, Carreira também foi vereador de Manaus nos anos de 1959 e 1963. Conhecido por sua luta em prol da preservação da floresta Amazônica, o ex-senador, que ao longo dos anos acumula uma extensa lista de obras literárias voltadas para a realidade do Estado, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio, onde afirmou não acreditar na atual política desempenhada pelos parlamentares brasileiros, a qual intitulou de exercício da “corruptocracia”.
Natural do município de Alvarães (a 538 quilômetros de Manaus), Evandro Carreira é autor das obras: Amazônia envenenada pela dioxina; Brasília: Senado Federal, 1977; Contra a venda da floresta amazônica; Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1979; Pecuária, câncer da Amazônia; e Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico, 1981.

Jornal do Commercio – Como o senhor avalia o atual cenário político no Brasil?
Evandro Carreira – Não vivemos na política de uma democracia, e sim em uma “corruptocracia” sem tamanho. Isso tudo por conta da capacidade dos políticos de corromperem e serem corrompidos, e essa característica é sentida de forma latente no Poder Executivo. O cenário da política brasileira passou a ficar degradado a partir de 1962, e agora todos os sistemas estão tomados pela falta de comprometimento dos políticos de todas as esferas, desde as Câmaras Municipais até o Congresso Nacional. Inventaram um mecanismo para alavancar ainda mais essa roubalheira absurda.Essa tal verba de gabinete criada pelo Executivo é fatal para a transparência da política. Os legisladores devem ganhar um vencimento fixo para sobreviver e uma variável para auxiliá-lo, mas isso deveria corresponder a sua atuação no plenário. Dessa forma, os parlamentares seriam pressionados a trabalhar bem mais pela população que os elegeu. A verba que vai de R$ 80 mil a R$ 100 mil pode ser usada como ele quiser, pois dificilmente ele é punido pelo mau uso do dinheiro. E quem paga somos nós, o povo!
Outro fator vergonhoso na política no Brasil é a falta de comprometimento dos parlamentares que vão às Casas legislativas quando bem entendem, isso porque seus pontos são marcados por eles próprios. Nossa política caminha para o declínio, essa falsa democracia tem nos deixado cada dia que passa menos confiantes nos políticos. O recente episódio do mensalão do PT (Partido dos Trabalhadores) reflete a falta de escrúpulos e uso de métodos baixos que o governo utiliza para conseguir apoio dentro dos Poderes.

JC – Em 2011 o Brasil elegeu sua primeira presidente mulher. Dilma Rousseff (PT) foi uma boa escolha?

Carreira – Acho a presidenta Dilma linda, mas não acredito que tenha sido a melhor escolha. Não gosto de pensar que estamos sendo governados por uma mulher que foi presa por fazer parte de uma quadrilha de assaltos a bancos, inclusive sendo ré confessa.

JC – O desempenho dos parlamentares amazonenses pode ser comemorado. O atual chefe do Executivo, prefeito Amazonino Mendes, faz jus ao cargo?
Carreira – O Amazonas nunca teve tão mal servido de políticos. Nossos vereadores não são empenhados em desenvolver Projetos de Lei que realmente podem mudar a vida do povo. No máximo, eles tramitam o óbvio e acham que estão fazendo tudo.
A administração do prefeito Amazonino Mendes é um total fracasso, ele deveria ter vergonha. Manaus está abandonada, e ele chegou ao cúmulo de falar que não temos condições de reordenar nosso Centro histórico, depois voltou atrás como se nosso desenvolvimento dependesse do seu bel prazer. Manaus pode até perder a oportunidade de sediar os jogos de 2014 por conta desse tipo de posicionamento mesquinho. O desprezo dele pela população ficou evidente no episódio onde uma moradora de uma área de risco de Manaus foi destratada de maneira pública. Que gestor é esse que manda uma popular “morrer”? Sua obrigação é viabilizar a melhoria da qualidade de vida dela, independente de sua origem. O fato é triste e lamentável.

JC – Estamos bem representados com Eduardo Braga, Vanessa Grazziotin e João Pedro no Senado?
Carreira – Nenhum dos três entende de Amazônia, não vejo um discurso realmente embasado sobre as vocações do Amazonas. A única bandeira que os vejo levantar é a da Zona Franca, nada de novo, nada de surpreendente, nada de inovador.

JC – Como um grande pesquisador da Amazônia, o senhor concorda com as políticas voltadas para a manutenção da floresta?
Carreira – Isso tudo é mar‑ keting. O desenvolvimento sustentável da Amazônia é uma fraude, o projeto Zona Franca verde é uma farsa, não podemos derrubar árvores e isso é fato. Essa coisa de dizer que podemos desmatar uma árvore centenária e depois plantar uma semente no lugar é pura demagogia. Ao derrubarmos uma árvore estamos matando milhões de microorganismos que nela vivem. Além de outras tantas que caem junto com ela, qualquer pessoa sabe que ela levará anos para atingir a maturidade. Recentemente, Manaus foi sede de um grande encontro de personalidades estrangeiras que aproveitaram a mídia para falar de coisas que nem eles entendem. O debate deve começar com as pessoas que conhecem de forma profunda o bioma que é a floresta Amazônica. Sou um eterno estudioso do nosso ecossistema, todos os dias procuro aprofundar meus conhecimentos, assim como tantos outros colegas. Pergunto se nós, “pratas” da casa, fomos convidados? Não, porque eles não possuem argumentos para me contraditar. Convidaram Bill Clinton, que foi presidente dos Estados Unidos, e nunca fez nada para salvar o meio ambiente mundial.

JC – A única grande alternativa econômica do Estado é sem dúvidas o PIM (Polo Industrial de Manaus). O senhor acredita que outras possibilidades podem auxiliar um maior crescimento socioeconômico do Amazonas?
Carreira – O Polo Industrial não pode ser visto com alternativa definitiva para a economia do Estado. Precisa ser formulado um projeto que obrigue as grandes empresas do PIM ou a própria Suframa a cuidar do setor primário do Estado. Hoje, nós importamos praticamente todo o hortifrutigranjeiro consumido pelas famílias amazonenses. Justo nós, que temos 40 milhões de área de várzea. Todos os dias chegam aviões carregados desse tipo de alimento, produzimos uma parte pífia das nossas verduras, tudo por falta de um projeto sério, que auxilie o caboclo de uma maneira que ele receba benefícios e os aplique da maneira correta.

JC – O senhor concorda com a permanência de Flávia Grosso como superintendente da Suframa?
Carreira – Outra pessoa precisa ocupar o cargo de tal relevância. Não concordo com as afirmativas de que Flávia obteve tantos êxitos assim no comando da autarquia. Para mim ela é apenas uma burocrata, apoiada por um partido que possui interesses no cargo.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar